Resenha: A ascensão de Atenas, de Anthony Everitt

Quem é fã de uma história clássica, mitos, guerras reconstrução histórica, vai curtir o livro de Anthony Everitt. A influência das inovações atenienses podem ser sentidas até os dias de hoje e sua importância nunca deve ser descartada. Diferente de outros livros que relatem a história desse período, o livro é mais como uma narrativa onde foram colados fatos e mitos de lendas gregas na intenção de reconstruir este período histórico.

Parceria Momentum Saga e editora Planeta

O livro
A questão principal que o autor tenta responder no livro é como uma pequena comunidade de cerca de 200 mil pessoas levou à uma das grandes civilizações do mundo, com inovações sentidas ainda nos dias atuais. A ideia aqui é retornar ao período de reis, tiranos e aristocratas, seguindo rumo à democracia ateniense e a vida política da cidade, chegando ao declínio de Atenas que viria a se tornar, como o próprio autor diz, uma "cidade universitária" em tempos romanos.

Resenha: A ascensão de Atenas, de Anthony Everitt

Por essa estrutura o livro é mais uma versão da história política de Atenas do que um livro histórico. O autor se valeu das narrativas encontradas nos clássicos gregos para reconstruir a história de Atenas. Nem sempre é possível confiar nos antigos relatos, mas o autor precisou confiar em alguns deles na tentativa de preencher os espaços deixados pela falta de corroboração.

Então é possível ler o livro como uma grande narrativa histórica. O ritmo, até os diálogos, lembram muito um livro de ficção, mas com fatos que aconteceram e outros que podem ter acontecido. Em alguns casos, os relatos antigos são usados para reconstruir a sociedade, o dia a dia, o cotidiano, mas no geral, o livro foca na história política da cidade, seus protagonistas e como ela alcançou um fato inédito para qualquer civilização da época, como a democracia plena.

Mas o próprio autor, e acho que foi bastante realista e digno de sua parte, alerta que não devemos exagerar a respeito das inovações de Atenas. Muita coisa pode ter sido simplesmente emprestada e adaptada dos povos bárbaros que eles tanto abominavam. O historiador Jack Goody já comentou que as tais inovações ocidentais já existiam de maneira embrionária em muitos lugares tidos como "bárbaros" e foram apropriados pela Europa.

Por isso achei pretensioso demais alegar que Atenas seja "a maior civilização do mundo", porque não é. Não quer dizer que não seja importante, apenas que este é um ponto de vista etnocêntrico, que ignora as inovações de outros lugares do mundo menos estudados. Everitt reconhece e alerta a respeito logo na introdução do livro, mas reforça o etnocentrismo no subtítulo do livro.

Começando com três dos mais importantes personagens do mundo antigo, Atena, Esparta e o Império Persa, o autor faz um sumário da história dos gregos através de Homero e reconta a história de Teseu como o fundador de Atenas. O que toma boa parte da narrativa é a "invenção" da democracia, que perdurou por dois séculos (mais do que as democracias atuais) e onde os cidadãos, todos homens, se encontravam, debatiam e aprovavam medidas e leis. O livro termina com o declínio da cidade, os períodos de dominação, até a independência da Grécia.

Agora Atenas ficou mais poderosa. E não há apenas uma, mas há provas em toda parte de que a igualdade perante a lei é excelente. Sob a tirania, o exército não era melhor na guerra do que seus vizinhos, mas, uma vez libertado, tornou-se de longe o melhor de todos.

Heródoto, página 123

O livro bem em capa dura e imagens coloridas no miolo em papel especial. A tradução de Thereza Christina Rocque da Motta deixa a desejar em alguns pontos, seja por uma palavra ou expressão mal traduzidas ou por falta de revisão. A narrativa de Everitt pode cansar em vários momentos, mesmo não sendo um texto acadêmico. No final temos um glossário, uma cronologia da cidade, as fontes e a bibliografia usadas por Everitt, com notas e índice remissivo. O livro também conta com ótimos mapas.

Obra e realidade
O autor já devorava os clássicos gregos ainda na infância. Ainda que seus avós não tivessem a erudição clássica dos estudiosos, entendiam a importância dos livros e compraram para o neto os clássicos como A Ilíada e a Odisseia, de Homero e tal iniciativa influenciaria o professor de literatura para sempre. A ideia deste livro é levar este mesmo classicismo que Everitt experimentou ainda criança, porém com uma linguagem bem mais acessível, aos curiosos e fãs de história antiga.

Anthony Everitt

Anthony Everitt é um escritor britânico, professor de literatura inglesa na Universidade Cambridge, tendo escrito vários livros sobre a Antiguidade e biografias sobre figuras famosas como Cícero e Adriano.

Pontos positivos
História da Antiguidade
Pesquisa
Bem escrito
Pontos negativos
Pode ser meio devagar
Problemas de revisão
Preço

Título: A ascensão de Atenas
Título original em inglês: The Rise of Athens
Autor: Anthony Everitt
Tradutora: Thereza Christina Rocque da Motta
Editora: Planeta (selo Crítica)
Ano: 2019
Páginas: 480
Onde comprar: na Amazon!

Avaliação do MS?
Quem curte reconstruções histórias bem próximas do real vão curtir este livro! Ele pode ser meio devagar e a narrativa do autor pode parecer pouco atraente em alguns momentos, mas foi uma reconstrução interessante, que não renega os mitos sobre a cidade, mas os abraça e os traz para a história como partes da cultura e da sociedade da época. Quatro aliens para o livro e uma forte recomendação para você ler também!



Até mais!


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