Apesar de não gostar de como a trilogia Divergente terminou, eu gosto muito do primeiro livro e da forma como Veronica Roth conta histórias. Por isso estava bem ansiosa para ler Crave a Marca, um livro bem mais maduro em um universo cru e bruto como o de Divergente. Este livro não é uma distopia, é uma space opera com pitadas de fantástico em uma galáxia dominada pelo fluxo da corrente.
O livro
Esta é uma galáxia com apenas alguns planetas que podem ser ocupados em um determinado sistema solar. Neste sistema acontece um fenômeno natural, a corrente, uma força invisível que confere habilidades às pessoas, podendo ser canalizada para máquinas, armas, naves, entre outros. Dos planetas deste sistema, é possível ver e sentir a corrente, cada um sentindo de uma maneira diferente de acordo com as habilidades conferidas a cada um. Neste sistema de nove planetas, governado pela nave da Assembleia, que temos os protagonistas Akos e Cyra.O planeta chamado Thuve é, na verdade, dividido e disputado por duas etnias diferentes: os thuvesistas e os shotet. Os dois dividem o planeta, separados por ocorrências naturais, em uma rixa antiga que dura décadas. Do lado do planeta coberto por gelo em um inverno eterno, vive Akos com sua família. Sua mãe é uma das oráculos de Thuve e é uma figura importante na sociedade thuvesita. Porém um dia, Akos e seu irmão Eijeh são sequestrados e levados para o Shotet do planeta, um lado bruto, cruel e violento, ao menos é o que todo thuvesita acredita.
Devo dizer que toda a construção das sociedades, do sistema solar, até mesmo de plantas, comidas e expressões coloquiais foram muito bem feitos pela autora. Os personagens têm jeitos próprios de falar certas expressões, algo que deve ter sido um desafio para o tradutor, Petê Rissatti, em alguns momentos. Algumas flores são especiais para as pessoas, compondo poções e medicamentos e o fluxo da corrente é uma presença constante na vida das pessoas, não é aquela magia misteriosa que está nas mãos de uma pequena elite. É um mundo diferente do nosso, familiar ao mesmo tempo, e no qual você acredita, pois tudo foi bem construído.
Temi que no começo haveria o famigerado e já famoso triângulo amoroso que é recorrente em muitos livros juvenis, mas felizmente isso não ocorre. O livro é violento, brutal em alguns momentos e a construção do relacionamento dos personagens é bem feito, tem tempo de se desenvolver, então você acredita nele, você se envolve com eles. Isso foi muito positivo, pois Akos será designado para servir a Cyra, irmã do regente Shotet, um homem cruel chamado Ryzek.
Os Shotet são conhecidos pela brutalidade e por cravarem linhas nos braços para cada vida que tiravam. Akos acredita nisso, mas percebe que nem tudo em que acreditava era verdade. Cravar a linha nos braços tem um significado muito mais profundo do que apenas uma marca de glória pela morte de outra pessoa. Cyra lhe ensina tudo isso, enquanto aprende com o thuvesita a ser mais maleável, mais gentil, mais humana. Cyra é governada pelo medo, pela brutalidade do irmão, um completo babaca que você odeia profundamente, e também sofre com uma dor crônica causada pelo fluxo da corrente. Akos tem a capacidade de fazê-la se sentir melhor e por isso acaba designado para trabalhar para ela.
O fato de Cyra sofrer de dor crônica me fez simpatizar muito com ela logo de cara, pois eu sofro de dor crônica e quando me toquei que era disso que ela sofria, muitos de seus comportamentos e falas me foram familiares. A autora inclusive agradece no final do livro pela ajuda que mulheres com dor crônica lhe prestaram para a confecção da obra. Foi muito bom me sentir representada dessa forma.
- A corrente flui através de cada um de nós (...) E como metal líquido fluindo para dentro de um molde, ele assume uma forma diferente em cada um de nós, mostrando-se de um jeito diferente. Enquanto uma pessoa se desenvolve, essa mudanças podem alterar o molde em que a corrente flui, então o dom também pode mudar... mas as pessoas em geral não mudam em um nível básico desses.
Página 62
O livro em si está muito bonito, com a capa simulando as marcas que os shotet cravam na pele e o fluxo da corrente se derramando deles. Há também um mapa muito bonito e sem escala do sistema solar onde os nove planetas estão e no final temos um guia de pronúncia de nomes e expressões além de um glossário ótimo para consultar quando bate aquela dúvida. A tradução ficou na mão do Petê Rissatti e está ótima.
Obra e realidade
O livro basicamente fala de nossa responsabilidade com nossas ações e de como devemos tomar a ação para nós ao invés de nos omitir, apenas porque é mais fácil. Cyra, por exemplo, se omite de agir porque acredita que não adianta. Não é assim com todos nós? Em algum momento vimos algo errado e pensamos "ah, bom, o que eu sozinha posso fazer?". Mas há momentos em que devemos sim agir, tomar as responsabilidades, dar a cara a tapa, pois o movimento é algo contagioso, ele inspira, ele se conduz como uma onda e pouco depois o que era uma coisa de uma só se transforma em um grupo e vai crescendo, crescendo e crescendo...Veronica Roth é uma escritora norte-americana de livros para jovens adultos de ficção científica e fantasia. É conhecida mundialmente por seus livros da aclamada saga Divergente.
PONTOS POSITIVOS
Cyra e Akos
Sobrevivência
Galáxia
PONTOS NEGATIVOS
Se alonga demais em algumas partes
Cyra e Akos
Sobrevivência
Galáxia
PONTOS NEGATIVOS
Se alonga demais em algumas partes
Avaliação do MS?
Esperava algo totalmente diferente deste livro. Comecei achando que seria algo que eu já tinha lido em algum lugar e no fim terminei com uma grande jornada, com personagens bem construídos, complexos, um final condizente com o enredo e com um gancho de questões a se responder para o segundo volume. Só gostaria que o livro já tivesse sido lançado, pois agora estou curiosa! Quatro aliens para o livro e uma forte recomendação para você ler também!Até mais!
Comentários
Postar um comentário
ANTES DE COMENTAR:
Comentários anônimos, com Desconhecido ou Unknown no lugar do nome, em caixa alta, incompreensíveis ou com ofensas serão excluídos.
O mesmo vale para comentários:
- ofensivos e com ameaças;
- preconceituosos;
- misóginos;
- homo/lesbo/bi/transfóbicos;
- com palavrões e palavras de baixo calão;
- reaças.
A área de comentários não é a casa da mãe Joana, então tenha respeito, especialmente se for discordar do coleguinha. A autora não se responsabiliza por opiniões emitidas nos comentários. Essas opiniões não refletem necessariamente as da autoria do blog.