Resenha: Dracul, a origem de um monstro, de Dacre Stoker e J.D. Barker

Adaptar ou renovar mitos sempre causa reações extremas de algumas pessoas. Os clássicos foram elevados ao status de clássico por uma razão e sempre que se mexe com isso, o risco de atiçar um vespeiro aumenta. Isso porque a gente tem uma questão afetiva e de respeito pelas obras originais. Dracul, a origem de um monstro, é daqueles livros que podem fazer muitas pessoas torcerem o nariz por mexer com ninguém menos que Drácula, de Bram Stoker. Mas vai por mim, o livro não desrespeita nem por um segundo sua obra originária.

Parceria Momentum Saga e editora Planeta

O livro
Partimos nesta jornada com uma pergunta bem pertinente: e se? E se Bram Stoker tivesse, de fato, encontrado com o vampiro? E se a família Stoker tivesse se envolvida na busca e na caça da criatura? Dracul é a recriação do enredo do livro Drácula, mas desta vez entrelaçando o mito do vampiro e toda a perseguição com a verdadeira história do autor. Foi um excelente trabalho que encaixou o manuscrito original com a história real de Bram Stoker.

Resenha: Dracul, a origem de um monstro, de Dacre Stoker e J.D. Barker

Bram foi uma criança muito enferma. Confinado à cama até os 7 anos de idade, a família se viu obrigada a contratar uma babá para auxiliar a família com várias crianças, sendo uma delas muito doente e um bebê de colo. A babá Ellen é uma figura misteriosa e que realmente existiu, que acaba se tornando a principal cuidadora de Bram que, junto de sua perspicaz e inteligente irmã, Matilda, percebem coisas estranhas no comportamento dela.

Para começar, a babá Ellen não come. E sua cama, seu armário, sua escrivaninha, estão intocados, todos com uma camada de poeira. Não só isso, a babá misteriosamente some depois de Bram, quase que por um milagre, recuperar sua saúde. As duas crianças testemunharam o comportamento bizarro dela, mas os adultos não acreditaram e com o tempo eles empurraram aquelas lembranças para as brumas da memória.

Esse começo na infância dos personagens pode levar um tempo para engatar, mas fique firme na leitura, pois quando chegamos à idade adulta de Bram, Matilda e seus irmãos, é que a ação de fato começa. Seguindo um modelo epistolar bem parecido com o livro original, o livro vai e volta no tempo, entre o Bram criança, o Bram adulto e o Bram preso numa torre tendo que vigiar uma porta onde, do outro lado, está um monstro. E ainda que não saibamos o que esse monstro é, já podemos imaginar o que seja.

Algumas vezes, nossos medos mais profundos são aqueles que mantemos perto do coração.

Página 146

Os autores encaixaram neste livro partes que foram removidas do Drácula original, o que aumentou ainda mais a bizarrice e o ar gótico do livro. As primeiras 101 páginas do romance original foram removidas de várias edições, exceto da excêntrica edição islandesa, a Makt Myrkanna e é aí que a gente percebe como o romance original era muito mais sombrio do que aquele que nos foi apresentado.

Revirando as cartas e diários de Bram, os autores criaram uma ficção (será?) bem convincente sobre a vida de Bram Stoker e seus irmãos e as descrições, as ambientações, carregam aquele ar gótico que tanto gostamos do romance original. Sabe quando você consegue sentir o cheiro da terra revolvida do cemitério sob a luz do luar? Esse tipo de sensação é frequente. Se as personagens femininas careciam de uma maior atuação no original, aqui, ainda que sejam minoria, elas estão bem melhor construídas e Matilda é minha personagem favorita. Ela é inteligente, determinada, não aceita qualquer resposta para suas inquietações, viaja o mundo, caça vampiros... Uma personagem fabulosa.

A edição da Planeta está muito bonita. A capa da edição brasileira está melhor do que a capa gringa. A brochura é pintada de vermelho, assim como as contracapas. A revisão merece um cuidado melhor para uma nova edição, pois há letras sobrando ou faltando aqui e ali, ainda que não atrapalhe o bom andamento da leitura. No final temos uma nota dos autores, contando como que surgiu a ideia para o romance e como o material original dos Stoker foi utilizado em Dracul.

O final foi a parte que me decepcionou um pouco por achar que ele não finaliza uma série de coisas que vimos e lemos, não fica bem amarrado com o andar da leitura, mas não chega a estragar o livro inteiro, que está muito bem escrito. A tradução ficou na mão de Marcia Blasques e está excelente.

Obra e realidade
É muito comum que a imagem do autor se mescle com o enredo que ele cria. Com o tempo, o autor é tão parte da mitologia quanto sua criatura. Vemos isso o tempo todo. Mas se tornar personagem ativo da história? Fiquei pensando o que Bram acharia de ver sua vida romanceada pelo sobrinho bisneto, onde ele é ele é só um rapaz querendo fugir de seu passado, mas o passado o alcança, querendo ou não. De fato, muitos fatos bizarros da história original de Bram deixam um ar misterioso propício para qualquer caçador de monstros.

Dacre Stoker e J.D. Barker

J.D. Barker é um escritor norte-americano de thrillers de suspense, muitas vezes incorporando elementos de horror, crime, mistério, ficção científica e sobrenatural. Dacre Stoker é um escritor, atleta e cineasta canadense-americano. É sobrinho bisneto de Bram Stoker e atual responsável pelo espólio de Stoker.

PONTOS POSITIVOS
Projeto gráfico
Matilda
Gótico
PONTOS NEGATIVOS
Final em aberto


Título: Dracul, a origem de um monstro
Título original em inglês: Dracul
Autores: Dacre Stoker e J.D. Barker
Tradutora: Marcia Blasques
Editora: Planeta (selo Minotauro)
Páginas: 432
Ano de lançamento: 2018
Onde comprar: na Amazon!

Avaliação do MS?
Se Bram encontrou ou não vampiros em sua vida, não saberemos. O que sabemos é que o garotinho enfermo e quase moribundo se tornou um grande atleta na faculdade, esbanjando saúde e quando estava perto da morte ordenou que seu corpo fosse imediatamente cremado. Teria ele medo de alguma coisa? Se você é fã de Drácula e quer ler uma nova versão do mito, recomendo fortemente essa leitura. Quatro aliens para ele e uma forte indicação para você ler também!

MUITO BOM!

Até mais! 🦇

Já que você chegou aqui...

Comentários

  1. Nossa. Super vou ler. Sou fissurado na tensão que Drácula cria desde que li O Historiador da Elizabeth Kostova

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