Esta semana, mais especificamente dia 26 de maio, o romance de Bram Stoker completou 122 anos. Mais de um século se passou desde aquele lançamento tímido, em que o livro publicado pela Archibald Constable and Company, de Londres custava 6 shillings. Em todo esse tempo, Drácula nunca saiu de catálogo. É impresso continuamente, não saiu de moda e duvido que saia um dia. Um romance vitoriano por excelência que foi considerado muito violento para a época, mas que não só marcou gerações como cristalizou a imagem do vampiro no imaginário ocidental.
editora DarkSide
O livro
A obra de Stoker não é a primeira obra de vampiro a chegar às livrarias. John Polidori, utilizando-se de um conto inacabado de Lord Byron, bem antes de Stoker, já tinha escrito O Vampiro naquela tempestuosa noite de 1816, que daria origem a Frankenstein, de Mary Shelley. O poema de Goethe, Die Braut von Korinth (A Noiva de Corinto), de 1797, também tem um ar vampiresco e Carmilla, de Joseph Sheridan Le Fanu é uma grande inspiração para Drácula, pois há grandes similaridades entre elas.O que distingue Drácula de obras anteriores é seu formato epistolar e a fundamentação histórica. Essa fundamentação, ainda que frouxa, mas que já é senso comum, nos leva à Europa Oriental, onde viveu Vlad Tepes (Vlad, o Empalador, em romeno), voivoda (príncipe) da Valáquia, hoje Romênia. Bram uniu o medo vitoriano de tudo o que era estrangeiro aos mitos interioranos relacionados a cadáveres chupadores de sangue. Estava criado o Drácula.
Através de fragmentos de cartas, diários e notícias de jornal, acompanhamos a jornada de várias pessoas que começam a ser atormentadas por Drácula, um nobre romeno que tem a intenção de se mudar para Londres. Para tanto, o advogado Jonathan Harker vai até o conde na Transilvânia para formalizar o negócio, onde acaba envolvido pelas superstições locais e prisioneiro do conde.
Bem-vindo à minha casa. Entre livremente. Parta em segurança e deixe um pouco da felicidade que traz consigo!
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Jonathan acha a figura do conde excêntrica e ao mesmo tempo fascinante, porém aos poucos percebe que não é mais um convidado. A palidez sepulcral do nobre, a falta de um reflexo no espelho e as coisas bizarras que viu acontecer no castelo o fazem perceber que sua vida está em risco. Seus diários são cheios de temores e saudades de casa, temendo o que acontecerá com Mina, sua noiva.
Sei que você já deve ter assistido ao filme Drácula, de Bram Stoker, dirigido pelo Coppola, filme que, dentre os de vampiro, figura como o meu favorito. Enquanto o filme segue de perto e fielmente muitas passagens do livro, ele toma algumas liberdades, como o fato de Mina ser a reencarnação da princesa perdida e amor eterno do conde, Elisabeta. Isso não consta da obra de Stoker, são adições posteriores ao mito do vampiro em várias adaptações cinematográficas.
O Conde aparece pouco se comparado com os outros personagens e mesmo dando nome ao romance, ele não é o narrador, nem conhecemos sua versão da história. Mas sua figura é semelhante a de qualquer lorde inglês, ainda que ele tenha um lado sinistro que vamos descobrindo junto de Jonathan Harker e dos outros personagens. É quando Drácula vai para Londres que podemos dizer que a ação propriamente dita começa, quando eventos estranhos acontecem.
As pessoas que esperam um livro que pingue sangue e cenas grotescas dignas de filmes de terror de slasher, lamento. O terror aqui é como uma sombra que espreita os sonhos dos personagens. Uma boa parte da mitologia que surgiu ao redor dos vampiros na ficção moderna pode ser rastreada até aqui, onde temos a estaca, a água benta, o crucifixo e o alho. Sei que o formato epistolar pode incomodar em um primeiro momento, mas depois de algumas páginas seu olhar se acostuma e começa a entrar na história. Lembre-se que é um livro vitoriano, portanto, muita coisa será risível aos nossos olhos. Lembre-se disso.
A edição que me foi enviada pela DarkSide é a da capa amarela, que reproduz a capa original de Drácula, de 1897. E sei que existem muitas edições de Dráculas no mercado, mas se posso indicar uma, é essa. É uma edição definitiva, com extras essenciais para compreendermos o mito do vampiro, o mito em torno da obra e o fascínio que ele causa até hoje. É essencial ler a introdução feita pela tradutora da edição, Marcia Heloisa, para compreendermos o mundo de Bram Stoker e como isso influenciou na obra.
Além disso, no final, temos o conto O Hóspede de Drácula, além de resenhas, entrevistas e cartas trocadas por Bram com várias pessoas. O posfácio é primoroso para decodificarmos a figura de Drácula e o livro, com uma galeria contendo reproduções dos originais rascunhados por Stoker além de uma galeria com imagens famosas de interpretações no cinema. E terminamos essa jornada de sangue com O Vampiro, de Charles Baudelaire.
Somente quem já sofreu com os temores da noite há de compreender o doce alívio da manhã - para o coração e para os olhos.
Página 78
O projeto gráfico está perfeito. Somente perfeito, com atenção para cada detalhe. A capa é dura, macia, com a brochura pintada de vermelho sangue, além da já usual fitinha para marcar página. Acho difícil que qualquer outra edição de Drácula consigo rivalizar com esta aqui. A tradução está ótima, não encontrei grandes problemas com ela ou com a revisão.
Ficção e realidade
O livro nos faz crer que a figura do vampiro existe. Se existe um trunfo para a obra de Stoker é esse. O ambiente gótico claustrofóbico, o medo escancarado dos vitorianos ao que era de fora e o trem do progresso que se acelerava rumo ao futuro, as mudanças sociais que vinham com a Nova Mulher, tudo isso contribuiu para transformar o romance em um clássico absoluto, daqueles que ainda serão lidos e adaptados. Pois o medo da mudança é algo natural do ser humano. O medo do estrangeiro, do Outro, o medo do que vem de fora que possa abalar nossa realidade. É por isso que enredos como Drácula ou Frankenstein nunca sairão de moda, pois o ser humano, enquanto existir, alimentará esse medo do Outro.Abraham "Bram" Stoker foi um escritor irlandês. Depois de uma infância enferma, se tornou atleta em vários esportes no Trinity College, de Dublin. Apesar de ser formado em matemática, ele começou a se interessar pelo teatro, tendo escrito várias resenhas para o jornal Dublin Evening Mail. Já era escritor de renome na época do lançamento de Drácula, livro que ele levou 7 anos para concluir.
Pontos positivos
Capa duraMuitos extras
Ilustrações e projeto gráfico
Pontos negativos
Preço
Avaliação do MS?
Não há como tentar compreender a figura atual do vampiro sem recorrer a Drácula e tudo o que foi feito desde então. Com suas virtudes e defeitos, o livro que retrata o medo vitoriano do desconhecido, o personificou na figura do Conde Drácula e criou um imaginário popular tão cristalizado que não temos como nos desvencilhar mais dele. Esta edição é, para mim, a definitiva, não apenas pela beleza da obra, mas pelos extras que também servem como fonte de consulta. Edição mais que recomendada e leitura obrigatória!Até mais! 🦇
Só compreendemos a verdadeira dimensão de certos horrores quando nos vemos face a face com eles.
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Cara Lady Sybylla, tudo bem ? Vasculhando a internet acabei encontrando esse seu texto. Parabéns pelo site e pela resenha. Adquiri a First Edition de capa amarela e adorei a versão. Muito extras, muito legal. Mas, estou aqui com uma dúvida: Ao final, Jonathan mergulha a faca no pescoço de Drácula (imagino que não o suficiente para decaptar) e Sr. Morris enterra a lâmina no coração. Se não me engano, eles teriam que usar estacas de madeira ou pelo menos madeira para perfurar o coração e decapta-lo, para assim matar e não permitir que retornasse. Não seria essa um incongruência do livro ?
ResponderExcluirObrigado.
O folclore de vampiros diz que eles podem ser mortos se seu coração for perfurado e a cabeça decapitada. Muitos seres fantásticos podem ser feridos mortalmente com ferro, inclusive vampiros.
ExcluirO uso de estacas de madeira são referência ao cristianismo, principalmente aquelas feitas de acácia. Então não é incongruência que os vampiros sejam mortos das duas maneiras no livro, as duas valem.
Muito obrigado pela resposta Lady Sybylla. Como após Bram Stoker a mitologia dos vampiros variou bastante, achei estranho. A referência as estacas é muito mais comum. Será que o livro existe essa informação (sobre metal ) ? Vou tentar averiguar. Se achar lhe retorno.
ExcluirMais uma vez obrigado pelo retorno.
Em Drácula você não encontra essa informação. Apenas em livros especializados em mitologia e vampirismo. E quem primeiro usou estacas de madeira em vampiros nem foi o Bram Stoker, foi Sherdidan Le Fanu, no conto Carmilla. Acabou se popularizando depois, com Drácula. Mas no folclore europeu, ferro e estacas de qualquer tipo sempre mataram seres reanimados, como vampiros.
ExcluirCaramba, que maravilha de resposta. Acho que encontrei alguém que tb gosta de vampiros e melhor ainda, sabe muuuito...kkkk
ExcluirSe puder me indicar alguns livros especializados em vampirismo fico muito grato. Vou atras do Carmilla tb. Já peço desculpas antecipadas pelas várias perguntas que vou fazer ao longo do tempo....kkk
Abs.
Este blog pesquisa principalmente ficção científica. Pra mais informações sobre terror, acesse o blog da Jessica Reinaldo, o Fright Like a Girl. Ela é especialista em terror e foi quem me passou as informações acima.
ExcluirO link se encontra lá embaixo, na seção We can nerd it. 👍🏼
Muito obrigado pelo retorno Lady. Vou consultar com certeza.
ResponderExcluirAbs.