Resenha: Desafiando as estrelas, de Claudia Gray

Sou muito fã da Claudia Gray. Conhecida pelo público leitor de Star Wars, Estrelas Perdidas e Legado de Sangue já figuram entre os meus livros favoritos da saga. Neste livro que levanta discussões bem importantes a respeito da humanidade, temos uma galáxia separada e em guerra e um robô e uma humana terão a chance de acabar com ela ou mudar seu destino para sempre.

Parceria Momentum Saga e editora Rocco

O livro
Esta é uma galáxia dividida pela guerra e unida pelos Portões, grandes estruturas de engenharia humana que conectam os planetas do Loop. Quando a humanidade começou a explorar o espaço, percebeu que existiam pouquíssimos planetas habitáveis. E a Terra, intoxicada e destruída pela ação humana, está com os dias contados. Os outros planetas conectados pelos portais são Stronghold, Cray, Kismet e Gênesis. Este último é o paraíso que os humanos sempre quiseram fora da Terra, lar de Noemi Vidal, uma das protagonistas. Porém os habitantes de Genêsis não querem a interferência da Terra e uma guerra está em curso.

Resenha: Desafiando as estrelas, de Claudia Gray

Noemi é uma personagem bastante humana, bastante jovem e muito boa no que faz. Você se identifica rápido com ela. Ela é piloto de caça, criada por uma família adotiva depois que seus pais morreram em uma explosão. Sua vida, porém, está com os dias contados. O Ataque Masada pretende desestabilizar o Portão que leva até aquele sistema solar na tentativa de dar uma pausa na guerra. Centenas de pilotos de Gênesis vão morrer na empreitada, mas eles estão confiantes. Gênesis é interessante porque é lar de várias denominações religiosas e todas elas convivem pacificamente. Eles não desenvolveram novas tecnologias de maneira a não abalar o equilíbrio natural do planeta, o que é bem diferente da Terra.

Em uma missão trivial ao Portão, Noemi vê que a nave de sua amiga e irmã adotiva Esther foi atacada por um mecan. Existem vários tipos deles, indo das letras B até Z do alfabeto, cada um com uma função especifica. Um deste robôs de combate atacou a nave de Esther e ela está bastante machucada. Na tentativa de salvar sua vida, Noemi encontra uma nave humana à deriva e embarca. Mas a nave não está vazia. Flutuando no ambiente sem gravidade da nave e trancado nela por 30 anos está Abel, um mecan tipo A bastante especial.

A doutrina da Gênesis diz que eles não precisam de outros mundos. Noemi acredita nisso. Mas mesmo que você não precise de algo, não pode querer? Não pode ser errado querer ver mais da criação. Contemplar o universo de todos os ângulos possíveis - ver como o universo é capaz de conter a si mesmo.

Página 97

Admito que no começo eu fiquei com medo que Claudia enfiasse um romance entre esses dois, que eles se apaixonassem loucamente, mesmo sabendo que não é o estilo da autora de fazer isso. E ela felizmente não cai nesse clichê. Abel é um mecan muito especial, Noemi nota logo de cara e é relutante em aceitar que precisa da ajuda dele para completar sua missão, que é a de destruir o Portão. Infelizmente, a nave onde eles estão têm limitações depois de 30 anos à deriva e eles vão precisar de peças novas para este plano dar certo.

É interessante ler como a discussão sobre consciência e alma foram feitas por Claudia. Mesmo com a origem religiosa da Gênesis, você não tem longas pregações sobre como eles são o povo escolhido; a própria Noemi não se considera alguém crente, mesmo quando orava pelo sucesso das missões. Ela sempre considerou que mecans eram coisas, máquinas, ferramentas, mas a convivência com Abel em todo aquele tempo a faz ver que nem tudo o que ela achava que sabia estava certo. Quando ela chega aos outros planetas do Loop e vê de perto a pobreza e a doença, fica pensando também se a atitude isolacionista da Gênesis não é egoísta.

Há uma boa discussão ambiental também. Estamos vendo as mudanças climáticas e acompanhando os cenários futuros, sem saber exatamente o que será feito para mitigar os efeitos. Reverter o quadro não dá mais, o jeito agora é sobreviver. Dá para entender o medo da Gênesis de que seu paraíso seja maculado pelas atitudes arrogantes da Terra, certo? A vida nos outros planetas não é muito melhor do que isso. Kismet é um planeta com pouca terra emersa disponível e virou um resort para ricos e milionários, enquanto os pobres são obrigados a desembarcar numa lua do planeta. Cray é tão seco e hostil na superfície que a população é obrigada a viver nos subterrâneos e Stronghold é um planeta escuro, pouco fértil, repleto de minérios.

Senti que em alguns momentos Claudia passou rápido demais sobre alguns assuntos. Não sei se ela voltará a abordá-los em Defy the Worlds, que é a continuação, mas algumas linhas a mais neste livro aqui já resolveriam o problema. Há uma reviravolta desconcertante perto do final que, mesmo eu já tendo sacado o que poderia acontecer um pouco antes, foi bem chocante. Adorei a entortada que Claudia dá na gente com a discussão gerada. Também gostei do final que não cai em clichês do gênero.

Há de se destacar os personagens secundários, pessoas que Noemi e Abel vão conhecer nos planetas do Loop. Claudia conseguiu trabalhar muito bem a diversidade e a representatividade humanas tanto com os protagonistas quanto com os personagens secundários e o livro não cai em clichês na hora de representar as pessoas. Claudia mandou muito bem!

O livro tem uma capa semelhante à capa gringa. A tradução de Rachel Agavino está muito boa e praticamente não encontrei problemas com ela. A revisão merece um cuidado maior, pois há palavras faltando, palavras sobrando, letras batidas ou não batidas em determinados lugares.

Mecans são feitos para algo ou alguém. Não para simplesmente... existir.

Página 232

Obra e realidade
A discussão sobre planetas habitáveis ou não pela galáxia não é nova. Todos os dias têm descobertas novas de exoplanetas, a maioria deles de Super Terras, ou então Super Júpiteres, mas planetas como o nosso, capazes de sustentar vida complexa em sua superfície ainda não temos notícias. Será que planetas como a Terra são raros? Encontraremos apenas rochas secas e planetas pobres demais para a vida complexa? Estaremos fadados a ver nascer, crescer e morrer nossa civilização aqui no nosso cantinho do cosmos? Acho bem provável que um planeta como Gênesis geraria na vida real a discórdia que vemos no livro. De nada adiantaria ter um planeta novo em mãos para fazer dele o que fizemos na Terra.

Claudia Gray
Claudia Gray

Claudia Gray é o pseudônimo de Amy Vincent, escritora norte-americana de romances paranormais e de ficção para jovens adultos. É escritora em tempo integral, morando em Nova Orleans.

Pontos positivos
Noemi e Abel
Mundos do Loop
Discussões sobre meio ambiente e IAs
Pontos negativos

Meio lento em algumas partes
Erros de revisão e digitação

Título: Desafiando as estrelas
Título original em inglês: Defy the Stars
Série Constelação
1. Desafiando as estrelas
2. Defy the Worlds
3. Defy the Fates
Autora: Claudia Gray
Tradutora: Rachel Agavino
Editora: Rocco (selo Fantástica)
Páginas: 384
Ano de lançamento: 2018
Onde comprar: na Amazon!

Avaliação do MS?
Sempre me sinto muito contemplada e satisfeita com os livros de Claudia Gray, pois sinto que seus personagens e enredos são bem construídos e as discussões que ela gera são muito pertinentes. Com este aqui não foi diferente; terminei a leitura já querendo ler as continuações e saber qual será o destino da galáxia. Se você curte enredos espaciais, com muita discussão pertinente, este livro é pra você! Quatro aliens para o livro e uma forte recomendação para você ler também.


Até mais!💫

Os seres humanos conseguem maltratar as pessoas que amam. Às vezes, eles os abandonam.

Página 348

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Comentários

  1. Eu sempre fico com vontade de ler os livros dela ao ler suas resenhas, mas até agora não peguei nenhum... :/
    Preciso corrigir isso logo! rsrs

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