Precisamos de mais mulheres como a Alferes Tilly

Não sou uma superfã de Star Trek Discovery, mas admiro muitas coisas na série e, ultimamente, o que me segura mesmo é a personagem da Alferes Sylvia Tilly. Esta é uma personagem que Star Trek trabalhou pouco e que pode nos trazer aspectos mais do que desejáveis para a série e para a própria franquia de Star Trek. Além de ser uma personagem que foi desperdiçada, pelo menos na primeira temporada da série.

Precisamos de mais mulheres como a Alferes Tilly



Sylvia Tilly foi designada para a nave USS Discovery ainda cadete da Academia da Frota Estelar, em seu último ano. Tilly é animada, bem disposta e uma pessoa que acredita nos preceitos da Frota e da Federação. E é alguém que quer crescer na carreira, quem sabe chegar a capitã um dia, ainda que tenha que lidar com sua inaptidão social. Tilly é jovem, uma sonhadora, uma mulher como muitas de nós somos ou já fomos um dia.

Muito bem interpretada pela atriz Mary Wiseman, Tilly é um ponto fora da curva quando falamos de personagens de Star Trek. Uma coisa que sempre me incomodou foi a incrível aptidão dos oficiais da Frota para TUDO. Chefe O'Brien pode consertar o replicador, o transporte, pode pilotar uma nave e ainda cuidar de toda a estação Deep Space 9. Comandante Riker tem aptidão para luta, música, ser capitão Klingon, para unir a seção disco com a seção da engenharia manualmente, ser diplomata, sedutor e ainda joga pôquer.

É óbvio que para comandar uma nave estelar, para entrar em contato com espécies alienígenas, para exercer diplomacia, para atuar em situações de conflito, os mais bem formados e graduados oficiais precisam servir. Isso é inquestionável. Mas a raça humana evoluiu tanto assim para que ninguém no futuro seja espontâneo, cometa erros ou solte um palavrão à bordo de uma nave?

O futuro de Star Trek é um mundo pós-escassez que conheceu a guerra e a quase aniquilação da raça humana. Ela evoluiu para uma sociedade capaz de extinguir a pobreza, a miséria, a fome, as doenças e as desigualdades, ainda que a muito custo, como vimos em Enterprise, de maneira a dar oportunidades para todos. Vemos este mundo dar oportunidades iguais a todos, onde você, de fato, é promovido por seu mérito, por ser melhor no que faz.

Em a Nova Geração vemos o tenente Reg Barclay, que é o ponto fora da curva em meio a todos aqueles oficiais que são super bons no que fazem. Reg, assim como Tilly, é inepto socialmente, faz bobagens, passa tempo demais no holodeck, fala mais do que deveria às vezes. Reg acabou se tornando uma versão satírica do fã médio de Star Trek. E quando o LaForge reclama que não consegue trabalhar com alguém como Reg, o capitão Picard lhe dá uma ordem: ele deve achar um jeito de integrar Barclay à sua equipe. Como oficial e engenheiro-chefe, LaForge devia pensar como um líder. Não era Reg quem tinha que mudar, era o próprio LaForge.

Tilly é este tipo de personagem. E eu gostaria de ver mais personagens assim, especialmente em Star Trek, onde todo mundo tem respostas prontas e análises feitas, enquanto Tilly gagueja em frente a uma tela. As pessoas ao seu redor aprenderam a lidar com Tilly, até mesmo o capitão Pike. Acredito que nesta segunda temporada a personagem tem recebido roteiros melhores, mas na primeira temporada ela foi completamente desperdiçada.

Até mesmo no universo espelho, onde ela é a capitã da Discovery e uma mulher cruel, totalmente diferente da Tilly do universo que conhecemos, houve um desperdício. O roteiro preguiçoso pegou uma versão totalmente diferente, brincando com as características mais marcantes de Tilly e tornando-a uma mulher cruel e psicopata. E claro, de cabelo liso. Durante a primeira temporada ela se tornou um alívio cômico, não tendo suas habilidades em astrofísica sendo aproveitadas, já que ela é a melhor aluna da Frota e foi mandada para a Discovery justamente por isso.

Em uma série que matou sua diversidade no segundo episódio, logo após o piloto, ver uma personagem como Tilly é mostrar que há espaço para todo mundo na Frota Estelar e na Federação. É mostrar que aqueles que são socialmente esquisitos, tímidos, um tanto atrapalhados e os super nerds atléticos podem sim conviver e trabalhar juntos.

A segunda temporada da série tem mostrado uma Tilly em maior profundidade, nos dando mais de suas aptidões e inseguranças e é esta mulher que precisamos ver. Uma mulher que sabemos que tem capacidade e inteligência e que pode cometer erros, mas que vai se superar e aprender com eles. Afinal, somos todas assim, não é? Ninguém é perfeita e Tilly com suas características pouco usuais para os oficiais, sua figura mais robusta e seus longos cabelos cacheados pode ser uma cientista e uma oficial tão bem quanto qualquer outra.

Precisamos mais disso, Star Trek! Manda mais!

Vida longa e próspera! 🖖

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Comentários

  1. Realmente Star Trek tem a "tripulação perfeita", o que chega a ser irritante. Não gosto muito dos personagens da série por isso, mas alguns episódios tem histórias bem interessantes, aí prende a atenção.

    De cara gostei da Tilly! E bastante também do Stamets, por ter uma certa sofrência.

    Tripulação (e personagens) bons mesmo era do Farscape!!! Melhor série do tipo haha

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  2. A Tilly me parece ter um quê de Wesley Crusher - a representação do jovem fã de Jornada, em modo Mary Sue, mas soft. Como se viesse em uma fanfic, mas fora de seu controle na maior parte do tempo. Também é de longe uma de minhas personagens favoritas na série, e o que gostei mais foi de ver que na segunda temporada, começaram a explorar a equipe da ponte, deixando de lado o protagonismo dos oficiais, tão caro a Star Trek (em qualquer uma de suas encarnações).

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