Resenha: Corte de Asas e Ruína, de Sarah J. Maas

Li este livro ainda em inglês para saber como terminaria a jornada de Feyre, depois li a edição em português, que começou como uma humana praticamente analfabeta, apavorada, frágil e que encontra no inimigo eterno, os feéricos, um lugar para chamar de lar. Algo que foi revigorante na trilogia foi ver como Sarah J. Maas trabalhou temas extremamente importantes como relacionamentos abusivos, preconceito, opressão, guerra e inclusão.

Pode conter alguns spoilers dos dois primeiros livros!

O livro
Sabemos que o final bombástico do segundo livro levaria a um cenário bizarro no começo do terceiro. Dito e feito. Feyre agora age como uma espiã dentro da Corte Primaveril, tendo que manter uma máscara o tempo todo para conseguir informações sobre a aliança inimiga criada por Tamlin. Aliás, muitas máscaras caíram nessa trilogia. O sujeito que parecia amoroso no primeiro livro, devotado e um feérico apaixonado se mostrou um sujeito abusivo, capaz de trair e matar para conseguir o que quisesse, passando por cima do consentimento da ex-companheira.

Resenha: Corte de Asas e Ruína, de Sarah J. Maas

Mas isso é guerra. Não temos o luxo de ter boas ideias, apenas de escolher entre ideias ruins.

Ponto muito importante para a obra: trazer essa discussão em uma obra de fantasia lida por muitas mulheres jovens. Feyre chega a fazer uma indagação, no segundo livro, se não me engano, em que ela pensa "será que eu aceitei o afeto da primeira pessoa que demonstrou bondade comigo?". Muitas jovens se envolvem com caras apenas para não ficarem sozinhas, obedecendo à uma pressão social, imaginando que elas só serão levadas a sério, terão vencido na vida, na companhia de um cara. E arriscar seu corpo, sua vida e sua saúde mental por uma convenção social controversa é jogar com a sorte. Feyre cometeu o erro de aceitar qualquer tipo de afeto e descobriu que seu príncipe estava mais para fera.

A guerra está chegando às cortes feéricas e Feyre precisa agir como espiã da Corte Noturna. Assim, ela se mantém na Corte Primaveril pelo tempo que for necessário, o que é bem difícil, em se tratando dos novos aliados de Tamlin. E Feyre sabe que ao menos um de seus grandes aliados, Lucien, percebeu a mudança perigosa em Tamlin. É quando ele decide ajudar Feyre a fugir. Os dois acabam deixando a Corte Primaveril, sabendo o que isso poderia causar.

Feyre me deu raiva em vários momentos durante a leitura dos livros. Acho que pela forma como a autora a descreve, como sendo uma pessoa muito real, que comete erros, que tem suas falhas, não por ser uma personagem mal escrita. Se o primeiro livro se arrasta até seu final apoteótico, o segundo livro - meu preferido - e esse aqui mantém um ritmo muito mais intenso, com reviravoltas e batalhas. O final também me espantou. Enquanto muitos livros fechariam com casamentos e famílias felizes, há muitos menos casais do que se esperaria aqui.

Algumas críticas foram feitas aos primeiros livros de Sarah, de como os personagens eram quase todos brancos e heterossexuais. Ouvindo ao apelo dos leitores, Sarah conseguiu contornar razoavelmente bem a situação neste terceiro livro, com personagens gays, bissexuais e não-brancos que possuem funções centrais na trama. O drama familiar de Feyre também foi bem escrito, como a transformação das irmãs e a forma como elas estavam reagindo a isso.

Outra coisa: Sarah critica o machismo da sociedade se valendo dos grão-senhores das cortes. Rhysand quer que todos vejam Feyre como uma igual, mas quebrar milênios de tradição não é uma tarefa fácil. Desde o começo, aliás, Feyre tem que lidar com o preconceito da sociedade feérica, sendo tratada praticamente feito um animal apenas pela origem humana. Sarah mostra que é possível sim lutar contra isso, mas que não será fácil quebrar tradições há muito estabelecidas. Isso só quer dizer que vai levar mais tempo e que alguém precisa dar o primeiro passo.

O capítulo final é o mais intenso de todos. É quando a guerra de fato está acontecendo e personagens que você jurava nunca mais ver voltam. Achei isso incrível, ver Sarah amarrando as pontas e deixando outras para o futuro livro. Apesar de ser um livro bem grande, com quase 700 páginas, a Galera Record conseguiu deixá-lo leve o suficiente para não atrapalhar a leitura. Não encontrei problemas graves com relação à digitação e diagramação e a tradução ficou muito boa.

Apenas você pode decidir o que a destrói, Quebradora da Maldição. Apenas você.

Obra e realidade
Com toda a polêmica surgida não faz muito tempo pelas redes sociais sobre "literatura que faz pensar" e "literatura que não exige concentração", temos aqui um livro de young adult, uma fantasia voltada para a audiência jovem, que está falando de guerras, direitos iguais, relacionamentos abusivos, racismo. Tudo isso envelopado num conflito entre feéricos e humanos. Quem é que pode em sã consciência dizer que estes livros "não fazem pensar"? A menos que não saiba interpretar texto, aí fica difícil mesmo.

Sarah J. Maas

Sarah J. Maas é uma escritora americana de fantasia e young adult, best-seller, com livros publicados em vários países. Seu primeiro livro, Trono de Vidro, foi escrito em capítulos separados e publicados na internet quando Sarah tinha apenas 16 anos.

Um mundo dividido não era um mundo que poderia prosperar.

Página 671

PONTOS POSITIVOS
Terras Feéricas
Rhysand e a Corte Noturna
Guerra
PONTOS NEGATIVOS
Violência
Pode se arrastar em algumas partes

Título: Corte de Asas e Ruína
Título original em inglês: A Court of Wings and Ruin
Série
1. Corte de Espinhos e Rosas
2. Corte de Névoa e Fúria
3. Corte de Asas e Ruína
Autora: Sarah J. Maas
Tradutora: Mariana Kohnert
Editora: Galera Record
Páginas: 684
Ano de lançamento: 2017
Onde comprar: na Amazon!

Avaliação do MS?
Este é o meu segundo livro preferido entre os três até agora. Ainda não vence o segundo livro, que é praticamente perfeito. Feyre pode ser irritante e teimosa às vezes, mas ela é humana. Você pode culpá-la por isso? Pode culpá-la por querer ser amada e por ter errado achando que abuso era amor? O coração dos mortais é mesmo muito mais complicado do que parece. Quatro aliens para o livro e uma forte recomendação para você ler também.

MUITO BOM!


Até mais!

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Comentários

  1. Eu gosto muito da Morigan, mas tem uma coisa que baixa muito o conceito dela na minha opinião. A relação que ela tem com o Azriel. Mesmo que ela não assuma o fato de ter preferencia por mulheres ela deveria mandar a real pra ele, tipo, cara já são 500 anos disso e eu acho que ela lida com isso da pior maneira possível.

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