Resenha: The Collapsing Empire, de John Scalzi

Um dos mais celebrados autores atuais de ficção científica lançou uma nova space opera bombástica depois do devastador sucesso de sua saga Old Man's War (cujo primeiro livro foi lançado pela Editora Aleph no Brasil com o título de Guerra do Velho). Esqueça o universo de John Perry e embarque em um império que se espalha por vários anos-luz, mas que está prestes a sofrer um golpe mortal.

O livro
Num futuro distante, a raça humana criou um grande império pelo espaço, chamado de Interdependência. As viagens são feitas não com motores FTL, ou dobra espacial, mas através do Fluxo. É como se fosse uma rodovia espacial, com entradas e saídas fixas, por onde as naves viajam. Todas as colônias são interdependentes uma da outra por recursos, tropas, negócios e apenas uma dessas colônias é em um planeta semelhante à Terra.

Resenha: The Collapsing Empire, de John Scalzi

Neste universo da Interdependência, os negócios estão há séculos nas mãos de casas mercantis, cada uma com um tipo específico de produto. Ela possui frotas de naves, cultivos próprios, contratos e o monopólio. Outra casa mercantil não pode cultivar maçã se ela só produz brócoli, por exemplo. E governando a tudo e a todos está a figura do imperadox, um ser quase divino.

Com a morte do imperadox atual, sua filha bastarda, Cardenia, assume o trono, mesmo sem se sentir preparada para isso e sofrendo um atentado logo que assume. Enquanto isso, uma conspiração dentro de uma das casas mercantis ameaça o sistema devido a um problema com o Fluxo: ele tende a mudar de lugar com o passar das eras. Foi assim que eles perderam a Terra e este não foi o primeiro planeta a sofrer com mudanças no Fluxo. Fica então uma grande questão política e humanitária a ser resolvida caso o Fluxo mude de novo. E os planetas afetados pela mudança? O que fazer com eles? Como a mudança no Fluxo influenciará no império?

Dalasýsla foi perdida porque de repente não havia jeito de chegar até lá, ou de sair de lá, através do Fluxo. Ela simplesmente... desapareceu completamente do mapa.

Com um grande jogo de cintura e uma gama bem variada de personagens, Scalzi detalha a vida e as articulações de cada um deles, sem no entanto ser maçante. Não temos grandes detalhes técnicos e científicos, mas temos pessoas. É um império sem preconceito com mulheres ou sexualidade, ou cor, e há personagens verdadeiramente detestáveis ao longo da narrativa, daquele tipo que você quer socar até a cara virar um monte de paçoca. A imperatrix precisa trilhar o caminho do poder e a herança da casa real frente a este dilema a respeito do Fluxo e ainda precisa se rebolar para evitar um casamento arranjado.

Eu adoro a narrativa do Scalzi. Ler seus livros, em português ou inglês, é sempre uma delícia. Não apenas ele sabe criar personagens com os quais se identificar como cria conspirações políticas e ainda pincela críticas ao longo da narrativa. Por exemplo, quando o problema com o Fluxo começa a ser debatido, a reação é a mesma que a administração atual dos Estados Unidos adota com as mudanças climáticas, ou seja, diz que não existe, que é ficção, que é invenção, que isso e aquilo. Scalzi transformou a política americana em um império espacial e destilou os problemas dela na narrativa.

Infelizmente, o livro fica com um final em aberto e conhecendo o Scalzi como conhecemos devem vir mais cinco livros pela frente, se pensarmos na saga de Guerra do Velho. Quando vem a continuação é que é a grande questão. Como ele ainda não tem em português, novamente, o jeito é esperar. Também senti que para tanto conteúdo, o livro é muito curto. Ficaram dúvidas a respeito de algumas casas, alguns personagens, que teriam sido melhor explicados e desenvolvidos com um pouco mais de páginas. Umas cem a mais já dava conta do recado.

Obra e realidade
Uma coisa que a gente sempre tem que lembrar ao ler enredos de ficção científica é que, em geral, o autor está pegando nossa sociedade e jogando no futuro (próximo ou não) para debater problemas ou aumentá-los para que possamos enxergá-los. Scalzi se baseou em uma sociedade norte-americana futurista, gananciosa, capitalista e sem escrúpulos, onde a política é a moeda corrente em negociações e na vida da imperatrix.

No livro ele dá uma explicação para a criação da interdependência que lembra muito os preceitos do capitalismo selvagem norte-americano com umas pinceladas de confucionismo e budismo. Uma elite é mantida no poder, quase como uma nobreza mercantil, com o restante da população logo abaixo. A única coisa que mantém um certo equilíbrio neste lugar é o Fluxo. Retire isso e veja o colapso do império.

John Scalzi

John Scalzi é um escritor norte-americano multipremiado.

PONTOS POSITIVOS
Imperatrix Cardenia
Conspirações
É space opera
PONTOS NEGATIVOS

Final abrupto
Não tem em português

Título: The Collapsing Empire
Autor: John Scalzi
Editora: Tor Books
Ano: 2017
Páginas: 334
Onde comprar: na Amazon!

Avaliação do MS?
Quem procura um livro para dar boas risadas e ainda ficar maquinando a respeito do cenário político, econômico e imperial prestes a ruir, este é o seu livro. Infelizmente não tem em português, mas se você pode ler em inglês, se joga neste livro, que não vai se arrepender. É uma leitura bem rápida, já que o livro é pequeno e espero que no próximo volume algumas respostas sejam entregues. Quatro aliens para o império que está colapsando e uma recomendação para você ler também.


Até mais!

Já que você chegou aqui...

Comentários

  1. Capitããããã!!! Estou lendo esse livro por quê vi no seu Skoob que havia começado a ler ele. Resolvi tomar coragem de encarar um livro escrito em inglês (com suas dicas de 2015!) e estou adorando!
    Mas uma influência sua na minha vida! :-)

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    Respostas
    1. Ahhhhh, que legal! 😃

      Depois me conta o que achou do livro!

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