Acredito que Anne Frank, seu nome e sua história, sejam praticamente universais. Mesmo que você não tenha lido seu diário, você conhece seu rosto, seu sorriso gentil, o fato de ter ficado escondida com a família na Segunda Guerra Mundial e de ter sido levada para um campo de concentração. Mirella Spinelli nos conta nessas lindas páginas ilustradas um pedaço dessa vida, aquela vivida no anexo.
O quadrinho
Anne Frank começa seu diário no dia em que o ganhou, em 12 de junho de 1942. Ela estava ansiosa, pois era seu aniversário, queria ver a família, os colegas, ganhar presentes. A Segunda Guerra estava no auge e os judeus eram perseguidos e excluídos da sociedade. Eram obrigados a andar com estrelas de Davi presas às roupas e direitos básicos, como os de ir e vir, começaram a ser retirados.Nós, judeus, devemos usar uma estrela amarela e somos proibidos de andar nos bondes e nos carros (mesmo nossos próprios carros!) Só podemos fazer compras entre 15h e 17h. Só podemos frequentar barbearias e salões de beleza de proprietários judeus. Somos proibidos de sair às ruas entre 20h e 6h da manhã e não podemos frequentar teatros, cinemas ou campos esportivos.
Página 15
A tranquilidade está ameaçada e Anne sabe. Seu pai tinha recebido um comunicado da SS e já tinha lhe dito que talvez fosse necessário que se escondessem. A família Frank era tradicional em Frankfurt, na Alemanha, mas com a vitória do partido de Hitler e as demonstrações anti-semitas ocorrendo pela cidade, eles tiveram que se mudar para a Holanda, onde o pai abriu uma empresa em Amsterdã, local em que, mais tarde, Anne começaria seu famoso diário e um retrato vívido do terror de famílias judias perseguidas.
Em maio de 1940, a Alemanha nazista invadiu os Países Baixos e com a ocupação começou a perseguição à população judaica. Com o perigo rondando a família, eles fugiram levando o básico, usando várias camadas de roupas para não levar malas, que poderiam chamar uma atenção desnecessária. Miep Gies trabalhava na empresa do pai de Anne e ela e o marido esconderam a família no anexo secreto de um prédio de escritórios.
Anne tem as dúvidas frequentes de qualquer adolescente. O despertar da sexualidade, alguns momentos de rebeldia. Como a família não estava sozinha no anexo, momentos de privacidade eram raros. Eles sofriam com pulgas, com ratos, a outra família discutia frequentemente e para fugir dessa realidade cruel que a obrigada a ficar em completo silêncio, às vezes também às escuras, seu diário era seu refúgio.
Anne esperava voltar para a escola, ser jornalista, gostaria de viver a vida, como qualquer pessoa faria. Em seu diário, ela analisa as pessoas com quem convive, tece críticas duras à mãe, aos Van Peels, dá seu primeiro beijo com Peter Van Peels e depois se questiona se seus sentimentos são genuínos. Na versão integral do diário, Anne explora sua sexualidade, parte que foi retirada pelo pai quando a primeira edição foi publicada. Isso fez várias escolas nos Estados Unidos boicotarem a obra.
Mirella tinha uma tarefa dura pela frente, a de colocar em imagens coisas que Anne não descreveu. Lindamente colorido e ilustrado, as imagens nos imergem nos pensamentos e sentimentos de uma adolescente cuja vida foi interrompida de maneira tão covarde por causa da intolerância e do preconceito. Não apenas está retratado o período de 12 de junho de 1942 a 1º de agosto de 1944, como também temos uma apresentação de cada pessoa do anexo e daquelas que auxiliaram a família. No final, todas elas voltam, com o destino de cada um. Dos cerca de 107 mil judeus deportados dos Países Baixos, cerca de 5 mil sobreviveram, inclusive o pai de Anne.
Minha única crítica é para a capa. Juro que demorei para entender que aquelas linhas brancas ao fundo eram a face de Anne. Para uma edição de um livro tão importante, de uma pessoa cujo rosto é símbolo de luta contra a intolerância, a capa poderia ter saído muito mais bonita.
Obra e realidade
Quando Otto Frank, pai de Anne, retornou a Amsterdã, foi o casal Gies que o auxiliou. Ele ficou então sabendo da morte da esposa em Auschwitz, mas ainda tinha esperanças de encontrar as filhas Anne e Margot. As duas foram enviadas para o campo de Bergen-Belsen, onde uma epidemia de tifo se espalhou rapidamente. Não se sabe a data exata da morte das duas, mas registros indicam que teria sido em fevereiro de 1945 e as duas foram enterradas em uma vala comum, sem identificação. Depois da libertação do campo pelo exército britânico, Bergen-Belsen foi queimado para evitar que a epidemia se espalhasse.Com a confirmação pela Cruz Vermelha da morte das filhas, Otto recebeu de Miep Gies o diário e vários papéis de Anne que ela encontrou depois que as famílias Van Peels e Frank foram levadas. Quando descobriu o desejo de Anne em ser jornalista e de escrever livros, Otto resolveu publicar o diário. A teoria mais aceita é que a família tenha sido traída por um dedo-duro não identificado, que deu à polícia nazista a localização da família, mas recentemente uma nova corrente surgiu, levantada pelo museu Casa de Anne Frank: a polícia teria descoberto o local por acaso depois de investigar uma acusação de fraude.
PONTOS POSITIVOS
Anne Frank
Seu vida e cotidiano
Seus pensamentos e sonhos
PONTOS NEGATIVOS
Capa
Acaba rápido
Anne Frank
Seu vida e cotidiano
Seus pensamentos e sonhos
PONTOS NEGATIVOS
Capa
Acaba rápido
Avaliação do MS?
É difícil dar nota para um diário póstumo. Difícil ler os sonhos interrompidos pela barbárie que se abateu sobre a família Frank. Mais difícil que ler estas páginas é saber que teve muita gente contestando a vericidade dos fatos narrados. Chegaram a dizer que foi um escritor quem o escreveu. Por que? Uma adolescente não tem condições de escrever sobre si própria? Suas palavras eram bonitas e corretas demais para alguém tão jovem? O diário serve para nos lembrar o que uma pessoa que abomina as diferenças pode fazer se tiver poder. E por isso ele ainda é tão importante, pois parece que, cada vez mais, as pessoas estão esquecendo do que aconteceu na Segunda Guerra. Cinco aliens para o diário em quadrinhos e uma forte recomendação para você também ler.Até mais!
Meu filho só gosta de ler quadrinhos. você acha que a historia em quadrinhos é a próxima do livro?
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