Resenha: The Stars Are Legion, de Kameron Hurley

Um dos lançamentos mais esperados de 2017! Fico torcendo para que The Stars Are Legion seja traduzido e logo no Brasil. Kameron Hurley é uma das mais talentosas e criativas escritoras de ficção científica e fantasia dos Estados Unidos, ganhadora do Hugo Awards e produziu um livro de space opera que sai do lugar comum e trata de várias questões feministas pertinentes. Este livro é totalmente girlpower!

O livro
A Legião é uma frota decadente de naves-mundo orgânicas, que orbitam uma estrela artificial. A história é narrada do ponto de vista de duas mulheres: Zan, que acorda na nave chamada Katazyrna e cujas memórias sumiram e; Jayd, que está ao seu lado quando Zan acorda, mas não tem informações, ou não quer dar mais informações, sobre o que aconteceu com ela. Tudo o que Zan sabe é que sua função é tentar abordar e controlar a Mokshi, uma poderosa nave-mundo orgânica que parece ser imbatível. A cada nova investida, Zan chega mais perto da Mokshi, mas volta com a memória apagada.

Resenha: The Stars Are Legion, de Kameron Hurley

Porém, uma segunda nave-mundo orgânica, chamada Bhavajas, está em guerra com Katazyrna e impede a chegada de qualquer frota até a Mokshi. O motivo para querem tanto um novo mundo é simples: os seus estão morrendo, Bhavajas principalmente. Assim, é comum o saque em mundos menores da Legião em busca de matéria orgânica e a Mokshi pode ser a saída da frota moribunda antes que todas pereçam.

Na tentativa de conseguir acesso à Mokshi e para cessar de vez as hostilidades, Jayd é dada em casamento à líder da Bhavajas. Enquanto isso, Zan e sua frota são atacadas na volta à Katazyrna e depois de um ataque devastador, é mandada para a reciclagem. Quando digo reciclagem, é reciclagem mesmo. As naves e tudo o que existe dentro delas, já que elas são do tamanho de planetas, é orgânico. Até mesmo as armas são orgânicas, descritas como "cefalópodes". Quando uma pessoa é reciclada, ela é comida por imensos monstros no "núcleo" da nave e o material orgânico é devolvido. Aliás, com a deterioração dos mundos acontecendo, aberrações cromossômicas começam a acontecer e pessoas com três cabeças, úlceras e tumores surgem na Legião.

O que é mais "mind blowing" do livro é que não há homens em nenhum lugar. Nada, zero. E aí você, assim como eu, deve se perguntar como que a Legião fazia para se reproduzir. Aí entra a excelente estratégia de Kameron para expandir o conceito de maternidade e até de criticá-lo. Humanos e naves vivem em simbiose na Legião. Logo, tudo o que as naves precisam fazer quando precisam de alguma coisa, inclusive gente, é engravidar as mulheres. Há várias coisas a se discutir aqui. Não há estupro, mas e as gestações não consentidas? Que grande alusão temos para o direito ao aborto e o direito ao corpo, além é claro de criticar a instituição familiar, que foi pulverizada no livro. Todas as habitantes das naves se veem como irmãs, mesmo aquelas que são amantes.

Zan é uma personagem fantástica, é fácil simpatizar com ela logo do começo. Jayd já é mais ardilosa, alguém que você sabe que está escondendo algo, mas se faz de desentendida para despistar. A grande vilã da história está na nave Bhavajas e fica todo um mistério conforme a leitura avança, já que os capítulos se abrem com passagens dA Senhora da Mokshi, líder da nave-mundo errante. E a população da Mokshi, cadê? Onde está a líder deste mundo?

Do meio para o final, Kameron dá uma enrolada, alonga demais aqui e ali, mas só assim é que podemos conhecer o interior de Katazyrna e como é a construção deste imenso mundo orgânico. Há reviravoltas e momentos em que podemos falar de amizade, confiança, família - outro conceito perturbadoramente destruído, pois né? - aborto, gravidez, relacionamentos, deveres.

Obra e realidade
Kameron Hurley expande os limites da típica representação feminina na ficção científica. Ela pega uma convenção e parte em mil pedaços. Uma não, várias. Além disso, ela pega todos os elementos que normalmente veríamos em uma space opera convencional como guerras, violência, traições, famílias lutando entre si, mas o faz isso por uma perspectiva de uma sociedade inteiramente composta por mulheres. Não há um questionamento sequer sobre a ausência de homens. Eles não existem pronto, acabou. Mas os sentimentos humanos estão todos lá, até mesmo os negativos.

Outra coisa interessante, o livro é solo, não é o primeiro de uma trilogia, como seus livros anteriores. É o que está ali e acabou. Uma grande aventura em um mundo audacioso e totalmente diferente do que esperaríamos ver.

Kameron Hurley

Kameron Hurley é uma escritora, norte-americana, tendo vivido em vários lugares, persistindo e insistindo na escrita, especialmente quando esteve desempregada. Já foi indicada a vários prêmios, tendo ganhado o Hugo Awards entre outros.

PONTOS POSITIVOS
Space opera
Naves orgânicas
Personagens fortes e bem escritas
PONTOS NEGATIVOS
Se alonga demais perto do final
Não tem tradução para o português

Título: The Stars Are Legion
Autora: Kameron Hurley
Editora: Saga Press
Páginas: 400
Ano de lançamento: 2017
Onde comprar: na Amazon!

Avaliação do MS?
Fiquei dias digerindo este livro, como se eu fosse uma das naves e estivesse reciclando a leitura para usar seus componentes. Mulheres que dão a luz a mundos inteiros! Que conceito incrível! Sério, é um livro que precisava muito de uma tradução para ser discutido em rodas de leituras e projetos pelo país, pois subverte qualquer coisa que eu já tenha lido dentro da ficção científica e, certamente é um dos melhores livros que já li. Cinco aliens para a frota da Legião, um pedido por tradução, urgente e uma forte indicação para você ler também.


Até mais!

Já que você chegou aqui...

Comentários

  1. Nunca tinha vistos os conceitos abordados no livro. To curioso.

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  2. Tô DOIDA pra ler esse desde que vi o John Scalzi comentar sobre no Twitter. Amei a resenha, fiquei mais ansiosa ainda <3 Só esperando uma promo hahaha Beijos!

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