Babylon 5: esta incompreendida

O Brasil é pouco favorecido quando assunto é ficção científica. Quem tem TV a cabo ainda pode usufruir de algo em poucos canais que se atrevem a produzir o gênero. Nos anos 90, uma série de space opera ousou quebrar a hegemonia de Jornada nas Estrelas e trouxe um mundo completamente novo para os fãs e uma nova maneira de se trabalhar o gênero.



O enredo
Babylon 5 é o nome de uma estação espacial localizada em um dos pontos de Lagrange de Epsilon III e sua lua, longe do nosso sistema solar. Ela é um ponto de encontro para várias raças alienígenas resolverem suas diferenças e para curar os anos de guerra contra uma das raças mais poderosas do quadrante, os Minbari. O fato de ter essa função também atraía contrabandistas, refugiados, fugitivos de vários planetas e gente em busca de uma vida melhor. A estação é rotativa, um Cilindro de O'Neill, fruto de tecnologia humana avançada, cuja construção foi recheada de ataques terroristas e problemas de financiamento. Se chama Babylon 5, pois as três primeiras foram destruídas e a quarta desapareceu sem explicações no primeiro dia de operação.

Babylon 5
Tripulação de B5 da segunda temporada com as principais raças alienígenas.

A raça humana começou a efetivamente explorar o espaço depois do contato com a raça alienígena altamente aristocrática dos Centauri, a mais próxima da Terra, que lhes forneceu a tecnologia para viajar pelo hiperespaço através da abertura de portais em pontos fixos do espaço. A Terra passou por muitas transformações no século 23 onde a história se passa. Além dos contatos alienígenas, surgem os primeiros telepatas, todos eles sob o controle da Psy Corp., uma poderosa e influente companhia que encontra, treina e caça telepatas, com influência dentro da cúpula do governo e até com raças alienígenas.


O contexto televisivo da época
Ela estreou em 24 de janeiro de 1994, em pleno domínio televisivo da franquia de Gene Roddenberry. A Nova Geração estava em seu final, mas já havia uma grande estação espacial dominando a audiência na época, que era Deep Space 9. No ano seguinte ainda estrearia Star Trek Voyager. Arquivo X, que tinha estreado um ano antes, estava ainda colhendo seus fãs quando uma proposta ousada, que pouca gente quis apostar, estreava na TV, com uma visão completamente nova do futuro e da exploração espacial.

Justamente pela hegemonia e pelo padrão paras as space operas deixado por Star Trek, que muita gente torceu o nariz para Babylon 5, achando que era uma mera cópia dos modelos passados e que nada tinha a acrescentar. Ela foi pioneira em usar a computação gráfica em praticamente todos os episódios, enquanto Star Trek se valia de modelos em escala para suas batalhas e cenas. Também foi muito coesa em seu enredo com começo, meio e fim e com tramas tensas e dramáticas sobre o futuro da raça humana.

Babylon 5
Babylon 5, um Cilindro de O'Neill, estacionada num ponto de Lagrange

Babylon 5 não mostra a raça humana em um futuro idílico, perfeito, asséptico e clean ao qual Star Trek nos acostumou a ver. Esse foi um dos motivos para o escândalo que alguns fãs de ficção científica fizeram quando ela estreou. Ela mostra a raça humana do jeito que é: egoísta, capaz de grandes atos, capaz de traições, mortes, que exclui seus semelhantes e que luta por poder e dinheiro. A estação age como uma grande cidade espacial, onde o comandante precisa lidar com os problemas mundanos do dia a dia, além de ser o encarregado pelas operações e pela segurança das 250 mil pessoas que lá moram.

Uma cena de sonhos do embaixador Londo Mollari que parece sem sentido na primeira temporada, retorna na terceira, na quarta e na quinta temporadas, explicadas e amarradas com o que vimos anteriormente. O próprio criador da série, J. Michael Straczynski disse que B5 era uma novela espacial com 5 temporadas, que tinha uma história para contar e que não passaria daquilo. Não eram apenas eventos sucessivos numa linha de tempo de episódios como vemos em Star Trek em que os eventos parecem pouco encadeados. Cada evento único tinha um propósito que seria explicado nas temporadas seguintes. E isso exigia do telespectador uma atenção grande aos detalhes e claro, não perder nenhum episódio para não ficar defasado.

Babylon 5
Embaixador G'Kar (Narn), capitão Sheridan e embaixador Londo Mollari (Centauri).

Além disso, B5 foi pioneira nos fandoms. Fandom vem de Fan Kingdom, ou seja, um conjunto de fãs que são doidos por um determinado programa, gênero, pessoa, banda, etc.. J. Michael Straczynski, prevendo o potencial da infante internet no início dos anos 90, começou a debater com os fãs e a entrar em grupos de discussão sobre a série na rede, recolhendo informações, críticas, sugestões, elogios, algo inédito para a época. Ele respondia dúvidas sobre personagens e era até moderador de um dos maiores grupos de fãs da série. Em 2009, Straczynski lançou um livro com 2 mil páginas, com uma compilação dos anos debatendo em fandoms, com mais de 5 mil perguntas respondidas sobre a série.

Straczynski sempre foi meticuloso com Babylon 5. Nos grupos de discussão, ele pedia que nenhuma fanfic fosse postada. Chegou a atrasar o lançamento de novos episódios com medo de problemas nos direitos autorais, pois vira uma fanfic parecida. Ainda hoje, ele mantem e sustenta os maiores  grupos de discussão para uma série que acabou em 1999. Ele também não tinha dó alguma de seus personagens. Alguns tiveram destinos desagradáveis, outros foram banidos, mortos ou se tornaram imortais.

Havia um lado obscuro cativante em toda a série e os personagens pareciam estar cientes de um destino que muitas vezes não parecia agradável. Finais felizes e missões bem sucedidas são coisas um tanto raras para a série. Personagens que parecem meras caricaturas no começo, se tornam profundamente perturbados, cínicos, vilões ou bonzinhos, tudo depende de qual lado está o poder na época. Esse é o tipo de coisa que Star Trek praticamente não tinha em sua visão linear e utópica do futuro.

Pioneira na composição de cenários e batalhas com a computação gráfica.

Fãs gostam de se dedicar ao assunto de sua preferência, mas foram poucas as séries de televisão que ganharam uma devoção tão grande do seu criador e dos fãs, mantendo um sistema de debates, de troca de informações e de discussões sobre a série ainda nos dias atuais e servindo de modelo e padrão para o que temos de fandoms ainda hoje. Os atores até hoje são ligados ao seriado e participam constantemente de eventos sobre B5. Se você nunca assistiu, assista, pois é uma space opera de primeira, com muita história para contar. E se já viu, bora ver de novo?

Até mais!



Veja também
All Alone in the Night: When Babylon 5 Invented 21st Century Fandom
Fanlore - Babylon 5
And The Sky Full Of Stars...

Comentários

  1. Decidi há pouco tempo fazer um pequeno projeto pessoal de assistir muitas coisas de Space Opera, não todas. Após assistir a incrível saga Battlestar Galactica, The Expanse e Dark Matter, comecei Killjoys e Babylon 5. Muito boa sua resenha de B5, conseguiu sintetizar bem todos os aspectos da série e fazer uma ótima análise. Estou atualmente no final da segunda temporada e sinceramente a Série não me convenceu ainda, não consigo dizer seguramente que seguirei até o fim. Não sei se pelo formato de 22 episódios, tendo assim a necessidade de criar alguns casos para preencher os capítulos, as atuações e produção dos anos 90 tbm era bem diferentes, mas covardia comparar com hj em dia. Eu acho que a série ao mesmo tempo que mantém alguns mistérios na trama, parece não caminhar na direção certa.
    Bom, enfim só queria deixar um comentário ao seu ótimo post e dizer que tem um scifizeiro de plantão assistindo B5 em 2017 e procurando críticas a essa hora na internet haha
    abraço

    ResponderExcluir

Postar um comentário

ANTES DE COMENTAR:

Comentários anônimos, com Desconhecido ou Unknown no lugar do nome, em caixa alta, incompreensíveis ou com ofensas serão excluídos.

O mesmo vale para comentários:

- ofensivos e com ameaças;
- preconceituosos;
- misóginos;
- homo/lesbo/bi/transfóbicos;
- com palavrões e palavras de baixo calão;
- reaças.

A área de comentários não é a casa da mãe Joana, então tenha respeito, especialmente se for discordar do coleguinha. A autora não se responsabiliza por opiniões emitidas nos comentários. Essas opiniões não refletem necessariamente as da autoria do blog.

Form for Contact Page (Do not remove)