Resenha: Silo, de Hugh Howey

Silo era aguardado no Brasil por muita gente, inclusive eu. Nem tanto pelo enredo, mas o que levou o livro a ficar famoso é o que me chamou mesmo a atenção. Silo é uma distopia, em um futuro incerto, mas centenas de anos para frente e as poucas informações que o autor dá sobre os eventos que levaram ao Silo é o que, definitivamente, prende a atenção do leitor.


O livro
Silo conta a história sobre uma população humana confinada em um silo, como aqueles de armazenagem de grãos. Do lado de fora, o ambiente é extremamente tóxico, com colinas desnudas e uma nuvem amarelada mortal. Sensores no telhado da estrutura transmitem imagens de fora para dentro, uma constante lembrança do que houve no passado. Cheguei até a pensar que não se tratava da Terra, poderia ser uma colônia em outro planeta, mas não, é nosso velho planeta mesmo.

Resenha: Silo, de Hugh Howey

O começo é um pouco devagar. Você conhece Holston, o xerife do silo, se preparando para a limpeza. De tantos em tantos meses, uma pessoa é mandada para o lado de fora para limpar os sensores e permitir que as imagens de fora sejam vistas. Mas é uma viagem só de ida, a pessoa morrerá lá fora. É usado para punir criminosos, mas alguns poucos vão de boa vontade, como Holston. Ele sabe que a esposa, que fez a limpeza três anos antes, tinha descoberto algo muito perigoso que envolvia o silo e por isso acabou condenada a ir para o lado de fora. Holston veste a roupa especial, leva os produtos de limpeza e morre do lado de fora depois da limpeza.

A prefeita, então, precisa de um novo xerife. Ela desce as imensas escadarias até os porões do silo, lá embaixo, 144 andares, onde está o setor da Mecânica. Passa por vários níveis, visitando setores influentes, mas nenhum é tão poderoso quando a TI, que controla os servidores e todos os computadores funcionais do lugar. Vemos que o silo ficou compartimentado como numa sociedade humana normal. No topo as pessoas mais influentes, o governo. A TI está no meio, controlado a todos. Lá embaixo, a população ignorada da Mecânica, responsáveis pela obtenção de energia, sistemas de bombas e reciclagem. A prefeita, seguindo a recomendação do delegado, procura por Juliette, uma moça determinada, mecânica experiente, solitária e inteligente.

As coisas parecem que vão se acertar, que a ordem vai continuar como sempre, mas então a prefeita é envenenada e morre. Juliette assume a lei e a ordem do silo já com uma morte para investigar e muitas pessoas tensas ao seu redor. Ao que tudo indica, o pessoal da TI não ficou nada feliz com sua indicação como xerife, já que eles tinham seu próprio candidato, que a prefeita, solenemente, ignorou. Depois disso, mais duas mortes acontecem, supostos suicídios e Juliette é destituída do cargo de xerife. Ela é indicada para uma limpeza e sabemos que para todos os habitantes do silo, a limpeza é praticamente o mesmo que a morte certa.

Nós nascemos, somos sombras, temos nossas próprias sombras e depois desaparecemos. O máximo a que se pode esperar é ser lembrado duas sombras depois.

Várias vezes durante a leitura, acontecem situações em que eu falava, "nossa, mas como isso pode parecer uma novidade tão grande?". Por exemplo, em uma cena Juliette enxerga uma estrela que aparece por entre as nuvens tóxicas. Um brilho tênue e muito rápido. Ela ficou abismada, atônita em saber que existiam luzes acima das nuvens. E tentei me pôr em seu lugar: como eu poderia saber como é uma estrela ou o céu se nasci e cresci em um lugar fechado? Um rádio transmitindo vozes de outros lugares e alguém pensou que poderia ser uma conexão com os mortos. O autor conseguiu trazer essa sensação de estranhamento para os personagens e você é pega de surpresa algumas vezes.

Pra quem vive, como nós, em um ambiente não-confinado, com o céu infinito sobre nossas cabeças, viver no silo seria uma tortura. Mas pense no contrário: viver confinada num lugar e de repente estar livre das paredes que a cercam? O que em um primeiro momento pode parecer uma liberdade irrestrita acaba se tornando opressor e aterrorizante depois. Essa sensação é bastante presente em Juliette que experimenta muitas coisas pela primeira vez depois que sai do silo.

O livro é grande, são 512 páginas, mas a leitura flui muito rápido. O final fica em aberto para a continuação e vem com um brinde, uma leitura do primeiro capítulo do segundo livro, dando uma palhinha de como surgiram os silos. Gostaria que o autor abrisse um pouco mais a vida de Juliette, já que grande parte fica em aberto e espero que fique mais claro nos próximos livros. Mas uma coisa é bem marcante no livro todo: a sensação claustrofóbica de viver confinado.


Ficção e realidade
Primeiro, a explicação da fama do livro. Hugh Howey trabalhava em uma livraria e em seus horários de folga desenvolvia o enredo de Silo. Usando a ferramenta KDP, da Amazon, para autores iniciantes, ele publicou sua obra, vendendo contos a 99 centavos de dólar. O sucesso que ele fez, vendendo 10 mil ebooks por mês, chamou a atenção de editoras pelo mundo e os direitos de filmagem foram comprados por ninguém menos que Ridley Scott.

Várias análises podem ser feitas de Silo. Como a cultura humana se adaptou a viver em um ambiente confinado. A estratificação da sociedade obedecendo ao espaço do silo, mas mantendo a estrutura de mais poderosos dominando os menos favorecidos. O modo como o passado vai sendo, aos poucos, apagado até que as pessoas achem um absurdo que um dia foi possível viver do lado de fora daquele ambiente. O estranhamento com coisas que achamos absolutamente banais e rotineiras.

Acho que não conseguiria viver em um ambiente assim se algo acontecesse ao ambiente e tivéssemos que ir para um silo para sobreviver. Mas pensando do ponte de vista de quem nasce neste lugar, viver em um espaço aberto pode parecer bastante opressor para alguém que viesse de um silo. A amplitude do horizonte, a imensidão do mar, tudo isso poderia ser muito assustador para alguém de um ambiente confinado. E também o conceito de democracia e de se expressar livremente poderiam ser novidade, já que no silo enviar mensagens em papel ou email são caros para a maioria da população. Dessa maneira, previne-se a troca de informações, ideias e até a formação de rebeliões.

Hugh Howey

Hugh Howey é um escritor norte-americano de ficção especulativa.

Pontos positivos
Distopia bem desenvolvida
Personagem feminina
Narrativa flui rápido
Pontos negativos

Final em aberto
Livro começa devagar

Título: Silo
Título original: Wool
1. Silo
2. Ordem
3. Legado
Autor: Hugh Howey
Tradutor: Edmundo Barreiros
Editora: Intrínseca
Páginas: 512
Onde comprar: na Amazon!


Avaliação do MS?
Eu estava empolgada para ler e não me arrependi. Os problemas são pontuais e a obra toda flui rápido, com mensagens poderosas de opressão, confinamento, medo. Temos personagens cativantes, complexos e uma forte personagem feminina tentando entender o mundo que a cerca. Hugh Howey criou um universo distópico incrível. Para os fãs de distopias, este é um prato cheio. Quatro aliens para Silo e uma forte recomendação de leitura.


Até mais!

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Comentários

  1. Também achei que flui bem, agora quero ver como vai ser adaptado para filme, se realmente for. É tão bom quando a gente lê o livro antes do filme =D Espero que esse seja um exemplo, mas que o filme não fique aquém do potencial do livro. Boa resenha!

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  2. Acho que não vai dar tempo de eu ler antes da adaptação sair. Mas deu para ter uma boa ideia pela resenha.
    Obrigada

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