Resenha: Guerra Mundial Z, de Max Brooks

Uma das coisas que sempre me incomodou em filmes de zumbi é que a gente não vê o depois. Como a sociedade lutou contra isso até aparece, mas como ela se organizou, o que aconteceu, isso dificilmente é mostrado. O zumbi é uma excelente alegoria para tratar dos problemas humanos e para mostrar quem é o verdadeiro inimigo. Nós mesmos. Bem diferente do filme, o livro é amplo e faz críticas sociais pertinentes.




O livro
Se um apocalipse zumbi começasse e alguém tivesse que fazer o registro para o futuro sobre como a raça humana venceu essa guerra, seria este livro. Ele é uma coleção de relatos de pessoas comuns, soldados, padres, gente que lutou na guerra contra os mortos-vivos e que precisou sobreviver neste mundo de caos e desordem, com cidades inteiras perdidas para o maior inimigo que o ser humano já teve, ou seja, ele próprio.

Resenha: Guerra Mundial Z, de Max Brooks

Os relatos são variados e a estrutura dos capítulos meio que segue a dos relatos em vários estágios da guerra. O tempo do livro mesmo se passa mais de dez anos depois do dito apocalipse. Soldados usam os termos técnicos de usas unidades, vemos relatos de pessoas comuns tentando fugir da ameaça, padecendo de fome e jogando-se uns contra os outros por um pedaço de comida. Vemos pessoas levando celulares, notebooks, DVDs enquanto buscam abrigo, sem se darem conta que tudo isso é supérfluo quando estamos falando da sobrevivência.

É uma ironia que a única maneira de matar um zumbi seja destruindo seu cérebro, porque, coletivamente, eles não têm um cérebro que fale por eles. Não havia liderança, nenhuma cadeia de comando, nenhuma comunicação ou cooperação em nenhum nível. Não havia presidente para assassinar, nem QG num bunker para atacar cirurgicamente. Cada zumbi é uma unidade autocontida e automatizada, e é esta vantagem o que verdadeiramente resume todo o conflito.

O livro mostra muito bem como que o comportamento das pessoas muda assim que suas vidas estão em jogo. Pais amorosos que começam a brigar e a bater um no outro porque não podem alimentar seus filhos. Tráfico de órgãos infectados levando a praga zumbi para países onde antes não tinham casos. Países fechando fronteiras e construindo muros. O uso de armas químicas para separar pessoas saudáveis de zumbis.

Conta desde o início da infecção, o paciente zero e como as autoridades não reconheceram o perigo de tal surto de "raiva" até às batalhas finais que levaram à libertação total da raça humana da ameaça zumbi. Porém, ele relata as mudanças do mundo, com nações que antes eram democracias se tornarem teocracias rígidas e empobrecidas, com sua população minguando de fome, sem aquecimento, sem dinheiro.

Esta estrutura de capítulos pode não agradar a todo mundo. São muitos nomes, muitos lugares diferentes, muitas situações e o leitor acaba um pouco perdido no final, pensando se já tinha ouvido falar daquele personagem ou não. Os detalhes técnicos também são grandes, mas existem notas de rodapé para tantas siglas.


Ficção e realidade
Poucas obras conseguem retratar com tamanha presteza como a raça humana reagiria sob as condições estressantes de um apocalipse zumbi. Já não basta ser uma praga difícil de derrotar, sem que com isso acabemos destruindo também o que resta da raça humana, os zumbis são uma grande alegoria para os problemas humanos, uma metáfora poderosa que coloca na mão de um inimigo familiar que é cada de nós, as mazelas da humanidade.

O ser humano quando pressionado pode se tornar um inimigo imbatível e quando perde sua humanidade, nos torna incapazes de prever o que podemos fazer. É esse o verdadeiro perigo do zumbi, pois ele vira um predador acima de nós na cadeia alimentar e encarna nossos piores medos como o esquecimento, a violência, a falta de compaixão, a falta de empatia, a incapacidade de raciocinar e a insegurança.

Max Brooks

Maximillian Michael "Max" Brooks é um escritor norte-americano, filho do comediante Mel Brooks, conhecido por seus livros sobre zumbis.


Pontos positivos
Zumbis
Luta contra os zumbis
Raça humana unida contra um inimigo
Pontos negativos
Perde um pouco do ritmo perto do final
Estrutura dos capítulos pode não agradar
Muitos nomes e locais diferentes

Título: Guerra Mundial Z
Título original: World War Z
Autor: Max Brooks
Tradutora: Ryta Vinagre
Editora: Rocco
Páginas: 365
Ano: 2010
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Avaliação do MS?
Um livro muito bom, que conta sobre a guerra contra os zumbis pela perspectiva real. Sem heroísmos, sem atos heroicos de solitários, mas sim um grande conjunto lutando contra um inimigo difícil de bater. Bem diferente do filme (e muito melhor), Guerra Mundial Z nos retrata fielmente. Ora bondosos, ora gananciosos, ora desesperados pela sobrevivência. Não trata da infestação zumbi do ponto sobrenatural e dá explicações coerentes para os eventos que se seguiram ao apocalipse, mostrando que a raça humana conseguiu prevalecer mesmo com toda a desgraça trazida pela praga. Quatro aliens para ele e recomendado para que você leia.




Até mais!🧟‍♀️


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Comentários

  1. Um dos aspectos que gostei foi o esforço de um autor americano em produzir uma obra mais mais global. As limitações de pesquisa ficam visíveis quando é descrito um ambiente que conhecemos, como o brasileiro, mas admito que ainda assim ficou convincente. Meu relato preferido foi o indiano.

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