Resenha: As Crônicas Marcianas, de Ray Bradbury e Dennis Calero

Ray Bradbury é um dos mais proeminentes autores da ficção científica, falecido há pouco tempo. É a letra B, do ABC da ficção científica, junto com Asimov e Clarke. Deixou obras marcantes, dentre elas o grande Fahrenheit 451, uma das obras obrigatórias para todo fã do gênero. Hoje, o resenhado é outra de suas obras marcantes em versão graphic novel.




A graphic novel
Não me lembro de ler uma graphic novel antes e tão rapidamente. A leitura é tão gostosa que em uma hora eu já o tinha finalizado e voltado para o começo (eu leio rápido também!). Adaptada por Dennis Calero, com introdução do próprio Bradbury, As Crônicas Marcianas reúnem textos publicados originalmente em pulp fictions no final dos anos 1950 que na década seguinte foram reunidos em um único livro. Ele é ricamente ilustrado, transportando o leitor para Marte, onde os dilemas se passam em tempo integral.

Resenha: As Crônicas Marcianas, de Ray Bradbury e Dennis Calero

São 26 contos ilustrados, relatando a chegada do homem à Marte, as tentativas de colonização e o contato com os nativos e seus conflitos. Indo de 1999 a 2026, o choque cultural entre marcianos e humanos leva a conflitos e questões fundamentais sobre humanidade, leis, ciência, misticismo, e a boa e velha imaginação galopante de Bradbury. O interessante aqui é que temos o ponto de vista dos dois lados: dos marcianos, que veem a invasão humana e a imposição de sua cultura e; dos humanos, tentando estabelecer um contato mais amigável com os marcianos.

É muito interessante notar como podemos usar alienígenas e conflitos com eles como metáforas para falar de problemas humanos. A invasão dos humanos à Marte é uma alusão à invasão de povos europeus na África e nas Américas, algo que sabemos bem o quanto foi traumático para os povos nativos. Ao se utilizar de marcianos, vemos um outro povo, vemos o outro, que estão observando recém-chegados que nem sempre se entendem entre si, quanto mais com os nativos.

A arte ficou excelente. Os tons de vermelho para ilustrar Marte e os semblantes dos nativos passam uma verdadeira sensação de melancolia. É possível se identificar com os alienígenas, poder captar seus sentimentos, entender como viviam. Vemos na obra toda a influência da Guerra Fria e algumas críticas do autor à ela e ao que ela poderia levar.


Ficção e realidade
"Mas Sybylla... A gente já sabe que em Marte não tem marcianos, nem nenhuma civilização avançada. Qual é a graça?", me pergunta um leitor do meu subconsciente. E se eu disser que As Crônicas Marcianas não tratam de marcianos e sim dos próprios conflitos da nossa civilização? Bradbury usou de sua visão psicodélica do próprio período pós-Segunda Guerra para criar uma poderosa metáfora sobre os nossos problemas cotidianos. Ele apenas os jogou em Marte, que atiça nossa imaginação e curiosidade desde tempos imemoriáveis e criou o resto daí.

Já tratei sobre a falta de aventuras e imaginação nas obras de FC ultimamente e se você procura exatamente por essa parte ausente, As Crônicas Marcianas é um livro perfeito para cair em outro planeta, interagir com alienígenas, mas ainda assim manter os pés na Terra ao ver os nossos problemas mais simples como amizade, companheirismo, egoísmo e luta por igualdade. Sem contar nas ilustrações de Dennis Calero, que dão uma maior veracidade ao enredo.

Ray Bradbury e Dennis Calero

Ray Bradbury é um dos grandes autores clássicos da ficção científica, tendo escrito alguns dos títulos mais conhecidos do gênero. Dennis Calero é um quadrinista e ilustrador norte-americano.


Pontos positivos
Leitura fácil, amigável
Clássico da ficção científica
Ótima análise da raça humana
Pontos negativos

Confusão em certos quadros da narrativa

Título: As Crônicas Marcianas
Título original: The Martian Chronicles
Autor: Ray Bradbury e Dennis Calero
Tradutor: Érico Assis
Páginas: 160
Editora: Globo
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Avaliação do MS?
É uma aventura planetária obrigatória para os fãs de ficção científica. Muita gente tem preconceito com o gênero e esta graphic novel pode ser um pontapé inicial para descobrir novos mundos, reler velhos dilemas, participar de aventuras e ver o velho planeta vermelho com um outro olhar, fugindo da tríade negativa que assola a FC ultimamente. Altamente recomendado.

Até mais!


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