Resenha: Os mortos também falam, de Philippe Boxho

Sou uma grande consumidora de livros de true crime e ciência criminal. Não tenho interesse nos detalhes sanguinários, eu quero é entender os motivos para que seres humanos trucidem outros seres humanos. Então, quando surgiu a oportunidade de ler este ebook antecipadamente, aproveitei logo. O autor é legista e reuniu casos interessantes de sua carreira em um livro best-seller na Europa!

Parceria Momentum Saga e editora Objetiva

O livro
Uma profissão extremamente necessária, mas bastante incompreendida é a do médico-legista. Necessária porque ele é capaz de dizer se houve um crime ou uma morte natural ao analisar um corpo, mas é incompreendida pelo público e às vezes até pelo poder público pela forma como a mídia mostra a profissão. Todo mundo já ouviu falar de CSI e Lei & Ordem, NCIS e Criminal Minds e viu seus peritos chegando nos locais de crime bem vestidos, em carros caros e polidos, mas a realidade é bem menos glamourosa do que isso. E são esses mitos que Philippe Boxho se esforça em derrubar em seus livros.

Resenha: Os mortos também falam, de Philippe Boxho

Ver gente morta não é nada demais: um dia ou outro a morte chegará para todos. Difícil é ver o sofrimento social, a solidão e o esquecimento em que alguns vivem.

Médico generalista de formação e tendo trabalhado nas forças armadas, Boxho migrou para a medicina legal e nunca mais parou. Com mais de 2500 autópsias no currículo, ele de fato já viu de tudo e alguns de seus casos mais interessantes foram narrados neste livro, para mostrar que a realidade pode ser ainda mais estranha do que a ficção. Antes de começar a narrar suas peripécias na medicina legal, Boxho nos alerta que o mesmo respeito que ele tem por uma pessoa viva, ele tem por uma pessoa morta. E que esse respeito inclui em desvendar os reais motivos da morte e punir os responsáveis quando eles existem.

Chamado para casos de mortes suspeitas, seu trabalho é chegar nos lugares, examinar os cadáveres e determinar se há suspeita suficiente para se realizar uma autópsia. Em alguns casos, ele foi chamado para avaliar uma morte supostamente natural porque o pessoal da funerária achou que tinha algo errado no local. E estavam certos, um crime fora cometido. Em outros casos, um crime foi cometido, mas a culpa da morte foi a mãe natureza.

Um dos casos mais interessantes foi da filha que deu 13 tiros no pai enquanto ele dormia. Mas quando o corpo foi examinado em detalhes, Boxho notou que os ferimentos a tiros eram estranhos. Foi só ao chegar ao cérebro do falecido que ele percebeu que o homem estava morto havia três horas quando a filha entrou na casa e atirou contra ele na cama. Sim, ele teria morrido pelos tiros, mas não houve crime ao atirar em alguém que já estava morto.

É bem interessante ler os paralelos que o autor faz com a medicina legal norte-americana com a europeia. Aquilo que achamos que seja um padrão para a prática, na verdade, constitui mais uma questão cultural do que qualquer coisa. Ele também explica como os corpos se comportam depois da morte, os processos de decomposição, mumificação e saponificação e como moscas e larvas ajudam o legista e os investigadores a solucionar casos.

Boa parte da falta de compreensão a respeito da carreira de legista vem da própria cultura pop. A maneira como um único fio de cabelo pode resolver um caso em um episódio de Lei & Ordem, quando na realidade o autor viu uns três casos em 30 anos de profissão. As impressões digitais também podem ser praticamente inúteis em países que não possuírem grandes bancos de impressões capazes de identificá-las. O que parece ocorrer em questão de horas nas séries de TV podem levar meses e até anos na vida real.

Acostumado a contar seus causos para seus alunos, Boxho não tinha certeza se conseguiria escrever um livro. E ele queria que seu trabalho não parecesse um relatório frio da polícia, tanto que ele precisou ficcionalizar algumas partes para poder proteger a identidade dos envolvidos, principalmente dos mortos. Mas os fatos mais básicos e a resolução de cada um deles, o autor manteve o que houve na realidade, usando nomes fictícios e de amigos próximos.

O livro está bem diagramado e revisado, com uma ótima tradução de Julia da Rosa Simões. Não há detalhes gráficos demais, nem fotos no miolo.

Preciso concluir, não porque não tenha mais histórias para contar, mas porque tudo tem um fim, tanto este livro quanto a própria vida. Então não se esqueça de aproveitá-la enquanto ela sorri para você, respeitando os outros e a si mesmo, antes que a morte bata à sua porta.

Obra e realidade
Boxho decidiu escrever um livro contando um pouco sobre sua profissão e seus casos mais interessantes depois de participar de um podcast belga. O programa o fez entrar em contato com uma editora, que propôs a primeira obra. Ele não imaginava o sucesso que seus livros teriam e nem o quão curiosa é a audiência pelo seu trabalho. O autor também lamenta que a medicina legal é pouco financiada pelos governos de maneira geral, não apenas na Europa e que por lá, nos últimos 20 anos, o número de legistas na área caiu pela metade. Na Bélgica, somente 0.2% dos corpos são autopsiados, abaixo da médica europeia. Ele acredita que falando de sua área, explicando o que realmente faz, talvez ajude a ter apoio político e mais interesse do público por ela.

Resenha: Os mortos também falam, de Philippe Boxho

Philippe Boxho é natural de Liège, na Bélgica. É médico-legista, professor de medicina legal e diretor do Instituto de Medicina Legal da Universidade de Liège.

PONTOS POSITIVOS
Bem escrito
Histórias bizarras
Crimes solucionados
PONTOS NEGATIVOS
Curtinho
Preço

Título: Os mortos também falam: Os casos extraordinários de um médico-legista
Título original: Les morts ont la parole: Philippe Boxho, médecin légiste, fait parler les cadavres
Autor: Philippe Boxho
Tradutora: Julia da Rosa Simões
Editora: Objetiva
Ano de lançamento: 2025
Páginas: 176
Onde comprar: na Amazon!

Avaliação do MS?
Não esperava que fosse gostar tanto desse livro. Ele é curtinho, é possível ler em um dia, ainda que algumas partes dê nojinho! Por isso, se você for mais sensível a certas descrições e tem uma imaginação muito ativa (e visual), tome cuidado em certos capítulos. Quatro aliens para o livro e uma forte recomendação para você ler também!

Muito bom!

Até mais! 💀

Já que você chegou aqui...

Comentários

Form for Contact Page (Do not remove)