Resenha: Uma história (muito) curta da vida na Terra, de Henry Gee

Li este livro duas vezes: a primeira em inglês e depois em português quando descobri que a editora Fósforo o tinha traduzido. E foi uma leitura rápida e deliciosa. Assim como diz o título, este livro traz uma história muito breve sobre 4,6 bilhões de anos de evolução e muita coisa foi resumida para caber aqui.

O livro

Não é tarefa fácil encolher 4,6 bilhões de anos de história em um livro e ainda ser sintético, literário e científico ao mesmo tempo. A vida na Terra e sua evolução tem uma história fascinante, mas que pode ser complicada demais para o público leigo. Assim, obras de divulgação científica que sejam compreensíveis são mais que necessárias para levar este conhecimento às curiosas de plantão.

Em meio a todas essas catástrofes, surgiu a vida. Foram o tumulto e a calamidade que a alimentaram, cultivaram, fizeram com que se desenvolvesse e expandisse.

Dividido em 12 capítulos, a obra começa, bem, do começo! Da formação do nosso Sol e do planeta ao surgimento das primeiras células, a vida passou por todo tipo de provação até chegar aos dias de hoje. Usando linhas do tempo em gráficos e mapas para localizar quem lê no momento certo, Gee nos mostra que a vida é resiliente, resistente e bastante versátil. Mas daqueles mares quentes até a superfície, de seres unicelulares para animais complexos capazes de andar, voar ou nadar, foi um longo caminho, salpicado por extinções e eventos que nos trouxeram até aqui.

Abordando os principais eventos geológicos, que foram essenciais para o desenvolvimento da vida, conhecemos um planeta muito diferente do atual. Sem atmosfera, sendo esterilizado pela radiação UV do Sol, com apenas algumas células simples em seus mares quentes e sem oxigênio, parece que as coisas nunca mudariam. Dando tempo à evolução, por sua vez, e ela é capaz de fazer coisas incríveis.

Mudança nos continentes, vulcanismo intenso, glaciações que pareciam eternas, impactos de asteróides e cometas, e a vida persistiu, mudou, evoluiu, se transformou em formas magníficas e bizarras, como aquelas que encontramos na explosão cambriana (cerca de 530 milhões de anos atrás). Por mais que pareçam radicalmente diferente do que conhecemos, essas formas também tiveram sua função numa época em que a vida experimentava e se diversificava.

(...) se a vida na Terra foi forjada no fogo, ela se fortaleceu no gelo.

O cérebro humano tem dificuldade para lidar com números muito grandes, então o autor colocou linhas do tempo que detalham os principais eventos do passado e até do futuro. Se em boa parte dos 12 capítulos, Gee tratou do passado da Terra e da vida, nos mostrando o quão magnífica ela foi e é, ele também viaja para o futuro, mostrando que todo começo tem seu fim. Em algum momento do futuro, os seres humanos como são hoje serão extintos. Será que até lá nós teremos evoluído para outra coisa? Escaparemos da Terra para nos tornarmos uma civilização espacial? E qual será nosso legado?

Dentro da escala geológica das coisas, a vida em si é um sopro. A vida humana então, um piscar de olhos, fugaz. Ainda assim, conseguimos alterar nosso ambiente de tal maneira, que poucos eventos do passado podem se comparar. Deveríamos ser mais humildes diante de nossa responsabilidade para com o planeta e com suas formas de vida, pois o estrago já está feito e precisamos repará-lo ou haverá pouco o que salvar.

Qual será, então, o legado humano? Toda a história humana, tão intensa e tão breve, todas as guerras, toda a literatura, todos os príncipes e ditadores em seus palácios, toda a alegria, todo o sofrimento, todos os amores, sonhos e realizações, não deixarão mais que uma camada, com milímetros de espessura, em alguma futura rocha sedimentar até que ela também seja erodida a pó e acabe no fundo do oceano.

Bem traduzido por Gilberto Stam, o livro é um misto de ciência com literatura. A escrita de Gee é fácil de acompanhar e de entender, ainda que seja preciso ler muitos termos geológicos e paleontológicos. Ajuda se a pessoa já tiver uma formação prévia em ciências da Terra, mas não é uma obra indecifrável. Com menos de 300 páginas, o autor operou um milagre por conseguir sintetizar tão bem essas longa história fascinante e ainda escerver de maneira prazerosa, ainda que traga poucas imagens.

Obra e realidade

Sempre que eu dava aulas sobre a história da Terra e chegava no futuro distante, onde o ser humano será extinto e o planeta não terá mais condições de abrigar vida devido à morte do Sol, muitos alunos ficavam assustados. Para nossa existência finita e tão breve, pensar em milhões de anos, bilhões de anos, não é tarefa fácil. Mesmo dizendo que esses eventos estão muito longe de nossa realidade, eles se assustavam por saber que a Terra não será eterna. Mudança faz parte da rotina de estar vivo. E com o planeta não será diferente.

Henry Ernest Gee é um paleontólogo, biólogo evolutivo e editor sênior da revista científica Nature, nascido em Londres.

PONTOS POSITIVOS
Tem imagens
Bem escrito e pesquisado
Análise sobre a evolução humana
PONTOS NEGATIVOS
É bem resumida mesmo
Poucas imagens

Título: Uma história (muito) curta da vida na Terra: 4,6 bilhões de anos em doze capítulos
Título original: A (very) short history of life on earth: 4.6 billion years in 12 chapters
Autor: Henry Gee
Tradutor: Gilberto Stam
Editora: Fósforo
Ano de lançamento: 2024
Páginas: 280
Onde comprar: na Amazon!

Avaliação do MS?

Foi uma leitura muito agradável, tanto que li duas vezes. Ainda que não tenha novidades para mim, pois sou formada nessa área, adoro me manter informada e atualizada a respeito. Indico muito a leitura para qualquer pessoa curiosa e que deseja saber mais sobre o passado, o presente e o futuro da vida na Terra. Quatro aliens para o livro e uma forte recomendação para você ler também!

Até mais! 🌎

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