Resenha: Senhor das Moscas, de William Golding e Aimée de Jongh

Em setembro de 2024, O Senhor das Moscas, obra seminal da literatura juvenil britânica, completou 70 anos. William Golding, vencedor do Prêmio Nobel em 1983, conseguiu descrever com maestria a decadência de uma sociedade minúscula onde meninos se veem livres dos adultos em uma ilha deserta. A edição de Aimée de Jongh é a primeira adaptação em quadrinhos da obra.

Parceria Momentum Saga e editora Suma

O quadrinho
Em uma ilha isolada, em uma região remota do Pacífico, um avião britânico cai no meio da mata. Os sobreviventes são todos meninos na pré-adolescência que se veem sozinhos, sem regras e sem os adultos pela primeira vez na vida. Dois garotos, Ralph e um menino gordinho e de óculos, apelidado de Porquinho, encontram uma concha, que Ralph usa como apito para reunir os sobreviventes.

Resenha: Senhor das Moscas, de William Golding e Aimée de Jongh

Essa coisa do medo – vocês vão ter de aprender a viver com ele.

Enquanto as crianças se reúnem e se olham, sem saber o que fazer, lá longe uma fila de meninos se aproxima, liderada por um garoto ruivo chamado Jack. Ralph e Jack logo despontam na liderança do grupo, enquanto discutem sobre quem deveria ser o líder. Os garotos votam por Ralph, que parece ter um ar mais responsável, o que deixa Jack bem irritado. Os objetivos do grupo eram: se divertir, sobreviver e manter um sinal de fumaça para alertar navios que passavam sobre sua presença na ilha.

Enquanto isso, Jack cria um grupo de caça, acreditando que apenas as frutas oferecidas pela ilha são insuficientes. Aquela concha do começo se torna um símbolo democrático e quem a segurasse poderia falar nas reuniões do grupo. Só que as coisas podem degringolar rápido se eles não conseguirem manter a ordem e a rotina. E logo isso acontece. O que parecia ter sido uma boa ideia, o grupo de caça, logo se torna uma maneira violenta de controlar as crianças. Além disso, eles creem que exista um monstro na ilha, coisa que Ralph nega, mas que Jack instiga entre os meninos e até se oferece para matar a fera.

Senhor das Moscas

Conforme fui lendo, ficava com raiva daqueles moleques em cada página. Mas também sentia pena, pois aquilo era inédito para todos eles. Garotos vindo de casas confortáveis, de cidades modernas, que nunca tiveram que matar um animal para sobreviver ou coletar frutas para comer, se viam sozinhos pela primeira vez, com medo, com fome e sem supervisão. Ralph tem boa intenção em manter uma pequena sociedade funcionando, mas vemos que a situação logo degringola e ele se vê isolado dos outros, incapaz de parar aquela espiral descendente de autodestruição do grupo.

Existem muitas camadas exploradas pelo autor em Senhor das Moscas. Posso destacar logo de cara a civilidade (ou a falta dela), moralidade, a dualidade da natureza humana, além é claro dos conflitos entre a civilização e a barbárie. O grupo oscila entre a democracia e o autoritarismo, entre o coletivo e a individualidade, racionalidade e irracionalidade.

Senhor das Moscas

O trabalho de Aimée é incrível! Todo colorido, os quadrinhos são dinâmicos e as ilustrações são impecáveis. É possível passar por páginas sem um único balão de texto, apenas admirando o nível de detalhes e de imersão na história. A autora tentou ao máximo manter trechos fiéis do livro nos balões, então a obra será bem familiar para quem já leu e para quem nunca leu, será um deleite para os olhos!

Traduzido por Érico Assis, a edição está ótima e não há problemas de revisão, tradução ou diagramação no quadrinho.

Obra e realidade
É bem interessante notar que o livro foi rejeitado por várias editoras antes de ser aceito pela Faber & Faber, sua editora original. As primeiras cartas de rejeição diziam que o livro era "um lixo". Pesadamente editado, várias cenas originais foram retiradas, como uma evacuação após uma guerra nuclear antes da queda do avião dos garotos.

O título do livro é bem curioso: sua tradução literal é Belzebu, o demônio bíblico considerado deus da guerra e do orgulho e conhecido como o "senhor das moscas". Golding era professor de filosofia antes da Segunda Guerra, onde comandou uma lancha de desembarque na Normandia, no Dia D, em 1944. Com o fim da guerra e seu retorno para a Inglaterra, Golding viu um mundo dominado pela Guerra Fria e pelo medo do holocausto nuclear, o que o inspirou a escrever o livro.

William Golding e Aimée de Jongh

Sir William Gerald Golding, foi um escritor, dramaturgo e poeta inglês, membro da Royal Society of Literature e vencedor do Prêmio Nobel de Literatura de 1983.

Aimée de Jongh é uma quadrinista, ilustradora e animadora holandesa, finalista do prêmio Eisner.

PONTOS POSITIVOS
Lindamente ilustrado
Bem escrito
Clássico da literatura
PONTOS NEGATIVOS

Preço


Título: Senhor das Moscas
Título original em inglês: Lord of the flies
Autor: William Golding
Ilustradora: Aimée de Jongh
Tradutor: Érico Assis
Editora: Suma
Ano: 2024
Páginas: 352
Onde comprar: na Amazon!

Avaliação do MS?
Foi uma leitura incrível! Não tive contato com o livro original antes de ler este quadrinho, mas acredito que o autor estaria orgulhoso da adaptação. A Faber e a detentora do espólio do autor convidaram Aimée de Jongh, uma fã de longa data da obra, para adaptar O senhor das moscas em comemoração aos 70 anos da publicação. E acho que o trabalho ficou uma obra de arte. Cinco aliens para o livro e uma forte recomendação para você ler também!


Até mais! 🪰

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Comentários

  1. Olá.
    Este já é um clássico. A sociedade que se forma ali no meio dos meninos é um retrato de como se comporta o ser humano sem os freios da sociedade, quando se veem livres de qualquer amarras morais. Naturalmente, sempre haverá os que serão postos em liderança pela própria personalidade, e todo grupo busca um líder que os oriente e que faça um mínimo de regras. Vi o filme também que me pareceu bom e fiel ao livro.

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  2. Não sei se a produção sobrevive à regra dos 15 anos, vi o filme no começo da adolescência, foi uma das histórias mais aterrorizantes que já vi.

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