Resenha: Cinco lâminas partidas, de Mai Corland

Andava um pouco cansada das leituras quando essa fantasia apareceu no meu radar subespacial. Queria algo que fosse além da romantasia, um gênero que tem me desagradado ultimamente, então enquanto lia a sinopse de Cinco lâminas partidas e a introdução da autora, logo me interessei. Aqui, todo mundo mente. A questão é saber quem mente melhor.

O livro
Uma ladra, um capanga, um espião, uma assassina, um nobre e um príncipe exilado. Estes são os personagens, as lâminas, que serão nossos protagonistas, vítimas e suspeitos ao longo da leitura. Interessante apontar que este universo é inspirado na história e nas lendas coreanas, principalmente na figura do deus-rei Joon, que todo o reino acredita ser imortal. Mas será que é mesmo? Afinal, esses cinco personagens foram reunidos devido às suas características únicas para matar Joon.

Resenha: Cinco lâminas partidas, de Mai Corland

Ficamos ultrajados aos nos passarem a perna quando desde o começo planejávamos puxar o tapete uns dos outros. Mentirosos e assassinos não são bons em amar.

Sora, uma assassina sedutora treinada como uma 'donzela do veneno', é especializada em eliminar homens ricos e poderosos por meio dos venenos mais mortais. Ela sonha em tirar sua irmã de uma vida sofrida, sonha em não ser uma assassina a mando de um homem poderoso que controla todos os aspectos de sua vida. Sora é uma personagem triste e acho que nem teria como ser diferente diante de tudo o que ela passou. É também uma das personagens que mais gostei neste livro.

Tiyung, por sua vez, é filho de um poderoso Conde e recebeu a missão de garantir que a Sora conclua o plano para o qual foi obrigada a aceitar. Só que o problema é que ele está apaixonado por ela, mesmo ela fingindo que o detesta. Sora desconfia que o filho de seu patrão esteja lá por outros motivos, mas só interessa em concluir sua tarefa e voltar para sua irmã.

Royo, outro personagem com o qual simpatizei logo de cara, é um cara forte que vive de fazer trabalhos perigosos por um preço. Mas ele tem um objetivo em mente e por isso precisa desesperadamente ganhar dinheiro para libertar um amigo que foi preso injustamente. É por isso que aceita ser o segurança de Aeri, uma moça animada, charmosa, muito talentosa e misteriosa, que sonha em impressionar seu pai, um sujeito que nunca deu muita bola pra ela. Para que chegue viva ao seu destino, Aeri precisa de músculos e é aí que Royo entrar.

E por último, tem Euyn, um príncipe exilado com um passado bem complicado e um sujeito chatinho desde o começo. Ele foi convencido pelo Mikhail, seu amante de longa data e também o chefe da espionagem real, a voltar para casa e tomar o lugar do irmão dele como rei. Sim, ele é irmão mais novo do deus-rei Joon. Foi preciso te apresentar estas figuras para te fazer entender como é o andamento e como muita coisa poderia dar errado em uma narrativa de múltiplas visões como essa.

(...) de uma coisa eu tenho certeza: os deuses raramente ajudam assassinoms sem cobrar um preço.

A missão deles? Chegar perto o suficiente do rei Joon para roubar a coroa que o dá vida eterna e atacá-lo quando ele estiver vulnerável. Mas para fazer isso, eles vão ter que atravessar o país inteiro, aprender a trabalhar juntos e se aproximar tanto do rei que ninguém desconfie do que estão tramando. É uma missão impossível, mas cada membro desse grupo tão heterogêneo tem seus próprios motivos para se jogar nessa chance desesperada de mudar tanto suas vidas quanto o futuro do país.

A autora conseguiu criar personagens irritantes, daqueles que você ama odiar, mas que não consegue deixar de acompanhar. O universo criado por Corland é ricamente construído, intrigante e complexo, com uma política intricada e uma sociedade dividida em facções, mas, em geral mantendo o povo na miséria. O reino de Yusan apresenta muitas semelhanças com nosso mundo real, até porque muita coisa permanece igual.

Apesar do final nos mostrar que este livro foi uma grande introdução para o próximo volume, adorei atravessar o reino, conhecendo cada personagem que tem seus capítulos dedicados com mais ou menos igualdade. Seus relacionamentos vão evoluindo ao longo da narrativa e você percebe que há muitos segredos e mentiras nos discursos de cada um, mas também muitas verdades não ditas. Teve um momento que eu pensei que nada daria certo, porque eles parecem incapazes de falar a verdade, ainda que pensem muito nela. Com quase 500 páginas, a leitura passou voando, nem percebi o tamanho do livro.

Não vou dizer que não há romance entre alguns personagens, mas eles não ocupam toda a narrativa e me pareceram bem dosados. Não gosto de narrativas onde os personagens tão com tanto tesão que transam em qualquer lugar, de qualquer jeito e têm dez orgasmos perfeitos, enquanto o pai tá torando lá fora. Tirando o príncipe exilado Euyn, que às vezes pensa mais com a cabeça de baixo, os personagens sabem a hora e o lugar.

É um livro robusto, com 462 páginas, mas que nem senti passar. A tradução de Carlos César da Silva (que a editora nem ao menos creditou nas lojas online) está perfeita e não encontrei grandes problemas de revisão ou diagramação.

Obra e realidade
A autora nos avisa na introdução sobre os temas sensíveis que trabalha no livro e que também se valeu do folclore da Coreia para criar seu universo, ainda que não seja totalmente fiel a ela. Mas um ponto em comum é a figura do deus-rei Joon, bastante semelhante ao rei Dangun Wanggeom, o lendário fundador e deus-rei de Gojoseon, o primeiro reino coreano, na região da atual Península da Coreia, em 2333 AEC.

Os coreanos consideram o dia em que Dangun fundou Gojoseon, a primeira dinastia da Coreia, como um feriado nacional, chamando-o de Gaecheonjeol. O Gaecheonjeol é celebrado no dia 3 de outubro. Trata-se de um aniversário religioso iniciado pelo Daejongismo, que adora Dangun. O Gaecheonjeol é um dia para comemorar a fundação de Gojoseon por Dangun, mas o dia 3 de outubro não é a data real da fundação de Gojoseon.

O líder da Coreia do Norte, Kim Il Sung, avô do atual líder, Kim Jong-un, insistia que Dangun não era apenas uma lenda, mas uma pessoa histórica real. Logo, arqueólogos norte-coreanos foram obrigados a localizar os supostos restos mortais e o túmulo original de Dangun. De acordo com uma publicação norte-coreana, o Mausoléu de Dangun, perto de Pyongyang, é o suposto local de sepultamento do lendário Dangun.

Mai Corland

Mai Corland é uma advogada e escritora norte-americana de origem coreana, nascida em Seul.

PONTOS POSITIVOS
Cinco protagonistas mentirosos
Mistério
Sora!
PONTOS NEGATIVOS

Final não é bem um final


Título: Cinco lâminas partidas
Título original em inglês: Five Broken Blades
The Broken Blades
1. Cinco lâminas partidas
2. Four Ruined Realms
Autora: Mai Corland
Tradutor: Carlos César da Silva
Editora: Galera Record
Ano: 2024
Páginas: 462
Onde comprar: na Amazon!

Avaliação do MS?
Sombrio e cômico, com ritmo tenso e muitas reviravoltas ao longo da leitura, Cinco lâminas partidas foi um livro que me surpreendeu. Comecei a ler sem qualquer expectativa e me vi presa naquela teia de mentiras e falsidades, sangue e violência, incapaz de parar a leitura. Agora preciso continuar com a série o quanto antes. Quatro aliens para o livro e uma forte recomendação para você ler também!


Até mais! 🗡️

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