Tenho que admitir que o que me chamou a atenção neste livro foi a capa sangrenta e em ruínas. Nem tinha lido a sinopse e já peguei pra ler porque essa capa misteriosa logo me fisgou. Em um mundo de santos e poder centralizado, é sempre os mais pobres que sofrem.
O livro
Em Ombrazia, a desigualdade é a regra. Com um governo injusto e centralizado, os santos e seus discípulos aproveitam de uma vida de privilégios, enquanto os desfavorecidos, pessoas que não foram tocadas pelos santos, vivem à margem da sociedade, lutando para sobreviver mais um dia em meio à pobreza e à miséria. De certa maneira, lembra um Vaticano com vários deuses, chamados de santos.Os santos eram misericordiosos. Todas as histórias diziam isso. No entanto, as histórias também diziam que eles ansiavam por sangue.
Os personagens principais são Roz Lacertosa e Damian Venturi, amigos de infância que acabam seguindo caminhos diferentes conforme crescem. Damian é o mais jovem capitão da segurança do Palazzo, um tipo de sede do governo onde estão os discípulos mais importantes dos santos. Damian é traumatizado pela guerra, constantemente pressionado pela figura do pai, o general Battista Venturi. Ele tem um grande problema em mãos quando um dos discípulos é morto no Palazzo, um lugar que deveria ser seguro e impenetrável.
Roz, por sua vez, é uma discípula, o que significa que foi tocada por um santo. Mas ela odeia seu dom e odeia ainda mais o general Battista Venturi por assassinar seu pai, o arrimo da família. Roz não teve opção além de se tornar discípula, pois isso garantia um sustento para ela e para a mãe, mas Roz despreza os colegas, despreza seu dom e tem plena consciência das desigualdades em Ombrazia. Enquanto jovens pobres são enviados para a Segunda Guerra dos Santos para morrer, discípulos ficam em segurança.
O crime ocorrido no Palazzo não é único e isso os coloca em rota de colisão. Pessoas pobres e desfavorecidas estão morrendo, mas o governo só quer saber do discípulo morto. Assim, Roz concorda em ajudar Damian na investigação, bem a contragosto, aliás, já que Damian é filho do general responsável pela morte de seu pai. Devo dizer que gostei muito desse começo odioso entre os dois, porque a autora teve tempo de fazer as feridas se curarem enquanto eles investigam as mortes misteriosas. Não tem aquela pegação inconsequente que já li em outros livros, nada daquele amor apocalíptico. São só dois jovens feridos demais pela vida.
Eles já tinham sido duas crianças, respirando maravilhas e deixando um rastro de poeira estelar no caminho. O que eram agora, senão duas pessoas tocadas pela tragédia? Dois de um todo, endurecidos pela dor e quebrados em lugares que só o outro conseguia ver.
A autora criou um elenco fascinante de personagens que, infelizmente, não têm tanto tempo nas páginas para se desenvolver. Gostaria de ter lido muito mais sobre eles, ter visto mais participação do que o que li aqui. A história é boa, prende logo, mas poderia ser bem mais, sabe? Uma história mais robusta para o grande elenco criado teria ajuda a história a se manter melhor. Não me entenda mal, ela se mantém, mas sinto que um cuidado maior na edição, de encorpar as passagens com os personagens, de deixá-los mais robustos teria contribuído para o desenvolvimento do enredo, que em si é muito bom.
Gostei muito da discussão que a autora colocou sobre fé, pois Roz e Damian têm visões bastante díspares sobre o assunto. Damian tem fé e ora fervorosamente como um discípulo, mesmo sendo um intocado, enquanto Roz não acredita nos santos, apesar de ter o dom de um deles. Para ela, é uma questão bem simples: como pode haver santos benevolentes, que ouvem e cuidam das pessoas quando tanta gente está sofrendo e morrendo pela cidade e em uma guerra sangrenta? Onde estavam os santos quando seu pai morreu?
O mistério sobre as mortes gira em torno do assassino e das pistas deixadas nos corpos. Admito que fiquei surpresa quando o assassino se revelou, pensei que pudesse ser qualquer outra pessoa! E isso deixou o livro com um gostinho de quero mais, pois o epílogo nos garante uma sequência bombástica com o que está para acontecer. Só espero que a editora traga logo o segundo volume, preciso saber o que será de Damian e Roz!
Era muito mais fácil confiar nas própria limitações do que considerar a outra opção: que ninguém estava ouvindo.
Com uma ótima tradução de Ulisses Teixeira, o livro está bem diagramado e revisado. Não encontrei problemas durante a leitura.
Obra e realidade
A autora escreve nos agradecimentos que desenvolveu o livro como uma forma de diversão durante o isolamento da pandemia. Que Damian e Roz são duas faces de si própria, tal como Mulder e Scully, que viviam às rusgas, mas eram incapazes de viver separados. Duas metades que deveriam estar juntas, mas que foram separadas dolorosamente por conta das circunstâncias, da guerra e dos santos.Além da discussão sobre fé, há também a invisibilidade dos mais desfavorecidos, bem como questões de saúde mental. Como manter as esperanças de ter uma vida melhor se tudo o que você vê ao seu redor é desgraça? É possível se rebelar contra o sistema e mudá-lo de dentro? São questões que espero que Lobb responda no próximo livro.
M. K. Lobb é uma escritora canadense, formada em Ciência Política na Universidade de Western Ontario e na Universidade de Ottawa.
PONTOS POSITIVOS
Roz
Damian
Santos
PONTOS NEGATIVOS
Falta desenvolvimento em alguns momentos
Preço
Roz
Damian
Santos
PONTOS NEGATIVOS
Falta desenvolvimento em alguns momentos
Preço
Avaliação do MS?
Não pensei que fosse gostar tanto desse livro como gostei. Comecei sem ler a sinopse e acabei me divertindo pelas ruas sombrias de Ombrazia, enquanto corria junto de Roz e Damian na esperança de encontrar o assassino. Quatro aliens para o livro e uma forte recomendação para você ler também!Até mais! 🏰
A magia podia acordar quando os mortos não conseguiam.
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