Apesar de conhecer o nome de Paolini por sua famosa saga de fantasia que começa com Eragon, admito que este é o primeiro livro do autor que leio (ainda que um livro dele esteja me acusando de negligência ali da estante). Eu queria uma leitura um pouco mais curta e que fosse de ficção científica e este livro caiu como uma luva no momento. E não me arrependi da escolha.
O livro
A VSL Adamura está em uma missão de rotina no espaço profundo. O ano é 2234 e a humanidade saiu do sistema solar e fundou assentamentos em vários planetas e luas de diferentes sistemas estelares. Um dia, os sensores da nave captam uma estranha formação em um planeta desabitado chamado Talos VII. Era um buraco na superfície com vários quilômetros de extensão, perfeitamente simétrico, emitindo estrondos em um ritmo de extrema precisão. As análises indicavam que era impossível aquilo ser uma ocorrência natural. Algo tão simétrico tinha que ter sido criado, construído, arquitetado por alguém.Parecia apropriado que tivesse ido tão longe só para ver um buraco. No fim das contas, era uma nulidade, um vazio, uma ausência, e foi isso o que ele tinha encontrado. Uma ausência.
Esta não é uma tripulação de exploradores espaciais. São cientistas em uma missão burocrática, mas que percebem que um artefato de possível confecção alienígena é uma chance muito grande para deixar uma marca indistinguível na história. Assim, o capitão ordena e organiza uma equipe que descerá em Talos VII e caminhará até a borda do buraco para investigar mais. Se tem algo lá embaixo que é artificial e está emitindo sinais, será que ainda existem aliens por aí?
Se eu fosse resumir bem este livro, ele é uma história sobre um bando de cientistas andando até um buraco. E isso pode desagradar às pessoas que queiram os detalhes sobre a estrutura, as descobertas científicas feitas no caminho e respostas para esse grande buraco. Mas o enredo não é sobre isso, é sobre os cientistas, sobre aquelas pessoas enviadas, algumas a contragosto, para uma estrutura desconhecida. A jornada deles pelo mundo árido e gelado, hostil e severo de Talos VII os fará pensar em seus erros, suas perdas e sua fé.
Alex Crichton é o xenobiólogo da Adamura e acompanhamos sua jornada por Talos VII enquanto passa pelo luto de perder a esposa nas trilhas de Eidolon, um dos planetas de ocupação humana. Junto dele estão Chen, um químico, Pushkin, um geólogo chato e metido a besta, e a chefe da missão, Talia, uma mulher de fé e que acredita firmemente em Deus. Como não podem sobrevoar o buraco, eles pousam vários quilômetros distante da borda e começam uma missão a pé. E não é uma missão simples, pois o ar não é respirável, a temperatura é muito baixa e o vento é implacável, capaz de empurrá-los para trás conforme andam.
Se você já leu Dormir em um mar de estrelas, de Paolini, saiba que este livro está no mesmo universo, o Fractalverse. Mas ele é um prequel, ou seja, acontece várias décadas antes do primeiro livro lançado. E eu tenho esse livro em casa desde o lançamento, mas só me animei de ler depois de Ruídos de outro mundo. A leitura me ajudou a me situar dentro deste universo complexo e cheio de detalhes do autor e me fez gostar muito de tudo o que ele criou até aqui. E o mais legal é que você não precisa ler um para entender o outro, são enredos independentes.
Cada membro da expedição lida com seus fardos pessoais, com suas crenças abaladas pela descoberta, conforme caminham pesadamente rumo ao seu objetivo. Seria diferente com qualquer uma de nós? A presença de alienígenas na ficção científica é tamanha que até estranhamos quando eles não estão lá. Alex se martiriza pela perda da esposa, enquanto Talia e Pushkin discutem sobre fé frente a um Chen que não consegue emitir uma opinião. Conforme caminham, puxando seus equipamentos, eles analisam os arredores, fazem análises de solo, encontrando algumas respostas para a existência daquele buraco.
Só porque a estrutura havia sido construída por alienígenas não significava automaticamente que poderia lhes fornecer algo único ou profundo a respeito do universo. Era importante, é claro. Mas uma fonte de sabedoria filosófica?
A leitura foi rápida, porque ele é bem pequeno quando comparado com a primeira obra do Fractalverse, mas está bem escrito, sem sobras, sem nada faltando. Paolini conseguiu desenvolver seus personagens muito bem, sem se perder na verborragia e sem deixar falhas nessa construção. Chega uma hora que a jornada até o buraco é quase irrelevante, mas sim se eles sairão vivos dessa, se vão conseguir viver com suas falhas e perdas. É algo que nos assola até mesmo aqui, presos à Terra, o que dirá numa missão rumo a um artefato alienígena.
A tradução foi de Edmundo Barreiros e está ótima. Não encontrei problemas de revisão ou diagramação durante a leitura. No final, há uma linha do tempo com eventos relevantes do Fractalverse que nos situa melhor no enredo.
Obra e realidade
Alguns leitores se demonstraram insatisfeitos com o enredo. Li algumas resenhas bem negativas sobre ele, mas sinto que as pessoas não souberam aproveitar a jornada dos personagens. Se o livro fosse sobre o buraco em Talos VII, seria uma longa lista de detalhes geológicos, químicos, atmosféricos, como um manual de instruções. Em um enredo de ficção científica, sempre teremos a reação humana a alguma coisa, seja uma estrutura alienígena, seja a descoberta de vida fora da Terra. São essas relações humanas e profundamente íntimas que importam aqui.Basta pensar como você reagiria ao ser selecionada para andar por Talos VII. No que pensaria enquanto puxa seu trenó de equipamentos? Quando estivesse deitado em seu alojamento desconfortável, para onde sua mente viajaria? Será que você teria reações tão diferentes da tripulação da Adamura?
Christopher James Paolini é um escritor norte-americano de ascendência italiana de literatura fantástica. Ficou mundialmente famoso pela série Ciclo da Herança, dividida em quatro volumes, que começa com o livro Eragon.
PONTOS POSITIVOS
Alex
Talos VII
Fractalverse
PONTOS NEGATIVOS
Acaba logo
Preço
Alex
Talos VII
Fractalverse
PONTOS NEGATIVOS
Acaba logo
Preço
Avaliação do MS?
Não pensei que fosse gostar tanto desse livro como gostei. Comecei sem ler a sinopse, sem nunca ter lido nada deste autor, curiosa com o título e com a capa. E no fim, foi uma das melhores leituras que fiz. Quatro aliens para o livro e uma forte recomendação para você ler também!Até mais! 🪐
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