Resenha: Mickey7, de Edward Ashton

Peguei esse livro para ler depois de ver o anúncio da adaptação para o cinema por Bong Joon-ho. O longa, que se chamará Mickey 17, estreia em março de 2024. Aqui temos a história de um prescindível, que são membros de uma tripulação humana enviada para colonizar o mundo gelado de Niflheim que morrem e depois são clonados para serem mortos mais uma vez.

O livro
Mickey Barnes, nosso narrador e protagonista, não era nenhuma pessoa excepcional em sua colônia de Midgard. Na verdade, era um azarado que, depois de uma aposta mal feita, se vê sem saídas para sua situação. A única solução: se candidatar para a próxima missão colonizadora rumo ao planeta Niflheim. O único cargo disponível é o de prescindível, tanto que a recrutadora pergunta se ele tem certeza, pois o cargo não é dos mais agradáveis. O prescindível é aquele sujeito que é enviado para todas as missões perigosas, justamente para salvar a vida dos colegas da nave. Aí ele é clonado de novo, e de novo, e de novo...

Resenha: Mickey7, de Edward Ashton

A questão sobre desastres no espaço interestelar é que alguns são rápidos e alguns são lentos, mas qualquer tipo pode deixar você morto de verdade.

Quando começamos o livro, conhecemos Mickey7, ou seja, a sétima clonagem do Mickey original. O autor brinca com o conceito filosófico do Navio de Teseu. Inspirado na mitologia grega, o navio levava Teseu e vários outros jovens para serem sacrificados pelo Minotauro. Conforme o navio envelhece, as partes podres são trocadas por novas. A questão é: se você troca as partes do navio, no final você tem um navio novo ou ele é o mesmo do começo da jornada? Não é exatamente essa a questão sobre os seres vivos, cujas células são trocadas e refeitas constantemente?

Essa questão acaba por nortear as ações de Mickey ao longo livro. Ele ainda é Mickey Barnes depois de tantas clonagens? Sua situação se complica quando Mickey cai em um buraco no gelo durante uma missão exploratória e diz aos pilotos lá no alto que está muito machucado e vai acabar morrendo. Mas Mickey não morre. Ele levanta, circula pelos túneis sob o solo, tem uma interação estranha com um dos seres vivos do planeta e acaba retornando para a cúpula da colônia, apenas para encontrar Mickey8 deitado na sua cama.

Como lidar consigo mesmo e ainda continuar trabalhando? Mickey descobre que ele (seu clone) é insuportável, teimoso, tudo o que ele mesmo é. Os dois têm altas discussões sobre quem vai trabalhar, que horas comer, o custo das colorias gastas no almoço e no jantar. Aliás, o autor discute muito as dificuldades da colonização espacial. Há um limite de calorias que as pessoas podem consumir por dia, pois Niflheim não é um planeta amigável. É frio, difícil de respirar e se os cultivos não funcionarem, o futuro da missão será seriamente comprometido.

Acompanhamos Mickey conforme ele luta com essas questões de maneiras irônicas e até sarcásticas, que lembram muito um roteiro de cinema, conforme lê sobre a Diáspora, o movimento que fez os seres humanos saírem da Terra para buscarem novos planetas. Essa parte foi bem interessante de acompanhar, pois Mickey lê sobre colônias fracassadas e bem-sucedidas e explica porque os clones não são usados de maneira mais generalizada, apenas em situações específicas, como no caso dos prescindíveis. Existem questões éticas, morais e religiosas por trás disso que careciam de uma maior explicação, mas que elucidam de maneira geral a aversão que muitos têm aos clones como Mickey.

Conforme Mickey se debate sobre questões filosóficas e práticas a respeito de sua condição de prescindível, ele também descobre fatos novos sobre colegas de missão. Berto, seu melhor amigo, por exemplo, piloto experiente, se revela um babaca, tanto que Mickey se pergunta como pode ter aturado esse sujeito por tanto tempo. Mickey7 também se vê às voltas com as mentiras que precisa contar conforme Mickey8 sai para executar suas tarefas diárias. Como se esconder em um lugar pequeno e com menos de 200 pessoas? Ele não é nenhum gênio e comete erros e esse aspecto faz de Mickey um personagem interessante, ainda que você queira estapear o cara em cada capítulo. Entretanto, acho que ele foi bastante humano em várias situações e fica difícil questionar suas decisões nessas horas.

O livro está bem revisado e diagramado. Porém, senti que o autor atropelou a construção dos personagens, que me pareceram meio caricatos em alguns momentos. Gostaria de ter tido mais informações sobre eles, mas acho que o fato de ser um livro em primeira pessoa limitou essa percepção. A tradução foi de Aline Storto Pereira, coisa que nenhuma loja online indica. Sacanagem, hein Planeta Minotauro??

(...) se você criticar todas as pessoas da sua vida por suas muitas e variadas falhas, vai deixar de apreciar aquilo de bom que trazem para a mesa.

Obra e realidade
Uma coisa interessante do livro é que o autor reitera o quão difíceis são as viagens espaciais. Por mais que as viagens sejam viáveis neste universo, ainda se leva anos para chegar a algum lugar. E mesmo depois de chegar, o planeta alvo da missão pode não ser o que eles imaginavam no começo. O próprio planeta Niflheim indicava condições ambientais favoráveis e presença de oxigênio e água, mas quando a nave, Drakkar, chegou, descobriram que era gelado e com baixos níveis de O₂, o que faz os personagens usarem máscaras do lado de fora da cúpula.

Mickey lê e nos informa sobre as colônias mal-sucedidas e ainda explica o que aconteceu com elas. Teve aquelas que se deram bem, mas fica o aviso da história da Diáspora, no livro, de como decisões idiotas podem levar a situações desesperadoras. E tem a questão da fauna e flora locais, pois os seres humanos são conhecidos por lidar muito mal com o que é diferente.

Edward Ashton

Edward Ashton é um escritor norte-americano, autor de vários contos e romances.

PONTOS POSITIVOS
Clonagem
Missões interestelares
Divertido
PONTOS NEGATIVOS
Poucas explicações sobre alguns eventos
Personagens rasos

Título: Mickey7
Título original em inglês: Mickey7
Autor: Edward Ashton
Tradutora: Aline Storto Pereira
Editora: Planeta Minotauro
Páginas: 288
Ano de lançamento: 2023
Onde comprar: na Amazon!

Avaliação do MS?
A leitura foi agradável e divertida. Apesar dos personagens um tanto rasos e caricatos, curti e me diverti com as peripécias de Mickey e seus clones. Creio que vai agradar aos fãs de ficção científica e aqueles que buscam uma leitura rápida e agradável. Quatro aliens para o Mickey7 e uma forte recomendação para você ler também!


Até mais!

Já que você chegou aqui...

Comentários

Form for Contact Page (Do not remove)