Resenha: O último restaurante de Paris, de Lily Graham

Gosto muito de romances históricos. É um dos meus subgêneros favoritos da literatura. Peguei esse livro aqui no meio de uma ressaca literária e li numa sentada, sem conseguir parar. Este livro fala de um restaurante há muitas décadas fechado no meio de Paris e de um crime horrendo que aconteceu lá dentro do meio da ocupação nazista na França.

O livro
Nossa jornada começa em 1987, quando Sabine Dupris foi contatada por um advogado, dizendo que sua mãe, recentemente falecida fora adotada e que Sabine tinha alguns documentos para analisar. Essa informação parece absurda para Sabine, mas a documentação é incontestável. Não só isso, o advogado também tinha informações sobre a avó biológica de Sabine, Marianne Blanchet, que viveu e trabalhou em França durante a ocupação nazista na Segunda Guerra Mundial e que foi executada depois de matar todos os seus clientes numa noite. E havia uma pessoa viva que poderia contar a Sabine os detalhes - se ela quisesse saber.

Resenha: O último restaurante de Paris, de Lily Graham

A vitória cobra um preço e, às vezes, esse preço está na alma de alguém (...).

Sabine hesita antes de procurar Gilbert Geroux, um velho antiquário que tinha 15 anos e trabalhava no famigerado restaurante. Gilbert tem motivos para não querer falar sobre aquela noite, pois seu irmão mais novo foi uma das vítimas de Marianne. Quem poderia culpá-lo? Gilbert aceita conversar com Sabine e uma amizade começa a brotar dessa conversa sobre o passado. Por ser um livro que se passa no passado, temia que a leitura pudesse ser maçante, mas a autora nos joga em vários momentos do tempo e do espaço para contar essa história, sempre de maneira ágil e impedindo que a gente largue a leitura.

Marianne decidiu abrir um restaurante em um período bem complicado para a população parisiense. O governo francês entregou o país aos nazistas e de repente a população tinha que cruzar com oficiais nazistas pelas ruas. Então por que diacho uma chef como Marianne decidiu abrir um restaurante, com o apoio do governo da ocupação? Ela era vista como uma colaboradora e os vizinhos a evitavam, falavam mal, se recusavam a frequentar o lugar. A ideia era vender comida boa, saudável, com produtos locais. Os vizinhos do estabelecimento obviamente desgostaram da ideia e até eu, enquanto lia, pensava que absurdo era aquele. O que ela pretendia?

Ao mesmo tempo em que temos a visão de Sabine e de Gilbert, temos de uma garotinha chamada Elodie, que perdera a mãe subitamente em 1926 e foi morar com a avó em uma pitoresca vila provençal, chamada Lamarin (que é fictícia, mas bastante inspirada em cidadezinhas da região). A menina está triste e desolada pela morte da mãe, mas é o carinho da avó, a boa culinária local e o trabalho no pomar e nos campos, além da amizade que faz com um garoto local que começa a revitalizar essa garota tão sozinha. Demora um tempo pra gente entender o que a história de Elodie tem com a de Marianne, mas tem!

Inicialmente, temos uma visão até fria e distante de Marianne. A fama que ficou depois do crime que ela cometeu era bem negativa e Gilbert até evitava relembrar aqueles tempos. Afinal, as pessoas não conheciam a história toda, nem mesmo Gilbert. A maneira como a autora começou a desenrolar esse novelo te prende até o final, porque você começa a entender o que ela pretendia e como que uma criança acabou se tornando vítima do envenenamento que também matou todos os clientes. Temos as visões de todos esses personagens e de como eles se entrelaçam até aquela noite mortal em 1943.

Quando você perde alguém com quem passou praticamente a vida toda, é como se não lamentasse apenas ter perdido aquela pessoa no final; você lamenta tudo o que viveram antes disso também.

Lily construiu cenários ricos e personagens complexos que logo prendem quem está lendo. Embora todos sejam, por necessidade das circunstâncias, muitas vezes complexos e emocionais, voláteis e apaixonados; eles são viciantes, genuínos, verossímeis e autênticos nos papéis que foram criados para eles. Pude me ver naquela Paris ocupada ou na vila provençal de Elodie, me vi dentro do restaurante, sentindo a tensão vibrando entre os convidados dos nazistas. A autora presta muita atenção aos detalhes e às qualidades descritivas com que pinta a localização física deste enredo e é impossível não se sentir inserida no enredo, não sentir o que aqueles personagens sentiram.

O livro está bem diagramado e revisado. A tradução foi de Elisa Nazarian e está ótima.

Obra e realidade
Em tempos de paz, é comum as pessoas argumentarem que jamais fariam isso ou aquilo. Que jamais colaborariam, que lutariam até o fim, que não se entregaria aos inimigos. Ninguém em tempos de paz tem condição de saber o que faria em um conflito mortal como a Segunda Guerra. Nós não vivemos aquele tempo. As pessoas não tinham como saber como a guerra acabaria, como se desenrolaria e como agir até fim. Hoje nós temos as informações sobre o que foi feito, como os conflitos terminaram. Mas só quem vive a realidade da guerra sabe o quão longa ela parece. As pessoas fazem coisas impensáveis na esperança de sobreviver.

Lily Graham

Lily Graham é uma jornalista e escritora sul-africana.

PONTOS POSITIVOS
Personagens bem construídos
Leitura rápida
Bem escrito
PONTOS NEGATIVOS

Acaba rápido!

Título: O último restaurante de Paris
Título original em inglês: The Last Restaurant in Paris
Autora: Lily Graham
Tradutora: Elisa Nazarian
Editora: Gutenberg
Páginas: 304
Ano de lançamento: 2023
Onde comprar: na Amazon!

Avaliação do MS?
Não pensi que fosse me apegar tanto as estes personagens. Me senti muito inserida na história, nos sentimentos desses personagens, querendo saber como tudo acabaria que acabei devorando o livro. Se você curte romances de guerra, histórias de resistência, com personagens apaixonantes, então achou seu livro! Quatro aliens para o livro e uma forte recomendação para você ler também!


Até mais!

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