Resenha: O filme perdido, de Cesar Gananian e Chico França

Fãs e estudiosos de cinema sabem o nome dos pioneiros da sétima arte, os irmãos Lumière ou Thomas Edison. Diz a lenda que, quando os Lumière fizeram a exibição de "A Chegada do Trem à Estação", de apenas 50 segundos, em 1896, o público teria saído em disparada, com medo que a composição invadisse o lugar. Mas antes de todos eles existiu Louis Le Prince.

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O quadrinho
Louis Le Prince, pioneiro do cinema, inventor do cinematógrafo, primeiro dispositivo capaz de registrar imagens estáticas e projetá-las sobre uma tela animada, decidiu pegar o trem e partir para o novo mundo a fim de mostrar sua invenção. Era 16 de setembro de 1890. A invenção do cinematógrafo constitui o marco inicial da história do cinema. Le Prince, porém teve sua jornada encurtada bruscamente e envolta em mistérios.

Resenha: O filme perdido, de Cesar Gananian e Chico França

Le Prince embarcou num trem entre as cidades de Dijon e Paris, levando seu precioso cinematógrafo consigo. Mas o inventor nunca chegou a Paris. Nem mesmo sua bagagem foi encontrada. Seu corpo nunca foi encontrado. Apenas uma foto borrada de um homem afogado muito parecido com ele foi encontrada em arquivos franceses, mas ainda assim sua existência, bem como sua importância para o cinema, foram apagadas.

Cesar Gananian ficou sabendo desse mistério há dez anos, mas inicialmente a ideia para o projeto era outra. Pensando em homenagear os cem anos do cinema, o autor pensou em fazer uma colcha de retalhos, com cineastas importantes fazendo cenas com seus respectivos estilos. E é exatamente o que acontece aqui. São 21 capítulos, todos norteados pelo protagonismo de Le Prince, mas cada um com uma mudança de traço, linguagem, cores e movimento. Os autores vão desde o expressionismo alemão até os filmes marginais do Brasil, como os de Carlos Reichenbach.

Cada capítulo dedicado a um cineasta também tem sua composição diferente um do outro. Enquanto uns são a carvão, outros tem retratos em tinta a óleo, como no caso das páginas do cinema russo e seu maior representante, Andrei Tarkovski. No neorrealismo italiano, rascunhos a lágis enchem as folhas em branco. Em certos momentos temos uma intensa exploração das cores e do movimento, enquanto em outros temos pouco movimento, tons monocromáticos, como num cinema mudo.

Le Prince passeia em todos os capítulos, guiando a ação. Ainda que seja ficcional, o quadrinho imagina que o diário do inventor francês foi encontrado, onde sua angústia sobre sua invenção é narrada, fazendo com que cineastas do mundo inteiro se interessem por ele. Seu cinematógrafo fez surgir narrativas, estilos e ritmos em diferentes locais do mundo e vários deles permeiam as páginas de O filme perdido, como se rendessem homenagem ao pioneiro desaparecido, narrando as dificuldades para conseguir o material perfeito para o filme até o temor de ter sua patente roubada.

Quem procurar uma biografia de Le Prince vai acabar se decepcionando. Os autores queriam falar da paranoia e a guerra em torno das patentes, uma das grandes preocupações da época e como isso poderia ter influenciado os eventos que levaram ao sumiço de Le Prince. Também não há uma ordem cronológica nas sequências. É como se víssemos vários curtas agrupados em um longa, sem se preocupar tanto com a evolução do cinema.

A dupla levou cinco anos para completar a obra que é apresentada em capa comum e impressão colorida no miolo. Não encontrei problemas de revisão ou diagramação nele.

Obra e realidade
Louis Aimé Augustin Le Prince foi um dos precursores do cinema. Em outubro de 1888, Le Prince filmou as sequências de imagens em movimento intituladas Roundhay Garden Scene, Traffic Crossing Leeds Bridge, Accordion Player e Man Walking Around A Corner, usando uma câmera de lente única com uma película de papel. Seu trabalho foi realizado anos antes de seus principais concorrentes: Thomas Edison, que fez seu primeiro filme em 1891, e os irmãos Auguste e Louis Lumière, que fizeram seu primeiro filme em 1892.

O começo da história do cinema é marcada pela guerra das patentes das câmeras. Alguns teóricos da conspiração acreditam que Le Prince foi assassinado dentro do trem por conta de uma guerra entre os diversos inventores, que queriam o pioneirismo da invenção. Le Prince sumiu no trajeto entre Dijon e Paris, seu corpo e sua bagagem desapareceram da composição e 100 anos mais tarde uma foto de um homem afogado foi encontrada em um arquivo policial, onde o morto se parecia muito com ele. Até hoje ninguém sabe o que de fato aconteceu com Le Prince, que tinha 45 anos na época.

O filme perdido

Cesar Gananian é cineasta, roteirista e montador brasileiro, com filmes premiados e exibidos em dezenas de festivais brasileiros e internacionais.

Chico França é um ilustrador e artista plástico brasileiro.

PONTOS POSITIVOS
Lindamente ilustrado
Le Prince
Bem escrito
PONTOS NEGATIVOS
Preço
Acaba rápido!

Título: O filme perdido
Roteiro: Cesar Gananian
Ilustrador: Chico França
Editora: Companhia das Letras (selo Quadrinhos na Cia)
Páginas: 312
Ano de lançamento: 2023
Onde comprar: na Amazon!

Avaliação do MS?
Foi uma leitura intensa, didática, cheia de surpresas e com muitos detalhes para acompanhar nas mais de 300 páginas de um quadrinho audacioso e sublime. Se grandes cineastas pudessem prestar homenagens ao inventor do cinema, ela seria na forma de O filme perdido. Cinco aliens para o livro e uma forte recomendação para você ler também!

MARAVILHOSO!

Até mais! 🎞️

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