Resenha: A Trama, de Jean Hanff Korelitz

Os thrillers são livros que sempre me chamam a atenção. Quando esse aqui entrou no meu radar, a premissa de um escritor sendo perseguido por causa de um de seus livros me pareceu bem interessante. Considerado o melhor suspense do ano, o livro foi traduzido em vinte e cinco idiomas e também está sendo adaptado para uma série de TV. Um escritor fracassado rouba a ideia de um de seus alunos e depois do lançamento passa a ser perseguido por alguém que sabe seu segredo.

O livro
Jacob Finch Bonner é uma mala. Considerado promissor, teve um livro publicado por uma editora de respeito, fez um sucesso muito modesto e depois caiu no esquecimento quando não conseguiu produzir nada de bom depois disso. Para sobreviver, ele dá aulas em um curso de escrita criativa de quinta categoria, pensando em como a vida é triste e injusta com ele. Sério, Jacob é um chato, um cara plano e pouco criativo e eu me peguei pensando várias vezes como que esse cara achava que poderia ser bem-sucedido em qualquer área criativa.

Resenha: A Trama, de Jean Hanff Korelitz

O fato de a verdade ser mais estranha que a ficção era, por si só, uma verdade universalmente reconhecida, mas, se isso era verdade, por que sempre lutamos contra ela?

Um dia, em sua nova turma de possíveis escritores, Jacob conhece um aluno chamado Evan Parker, um sujeito arrogante, que anuncia em alto e bom som que não precisa de ajuda, pois o enredo que está escrevendo é um sucesso garantido, daqueles pelos quais os estúdios vão se matar para querer transformar em filme. E aí eu me peguei pensando: foi fazer o que num curso de escrita criativa, né? Mas enfim, Jacob respira fundo e ouve a ideia de Evan e percebe, chocado, que a ideia é mesmo genial, um sucesso garantido.

O tempo passa, Jacob continua com sua vida miserável (e admito que virei os olhinhos todas as vezes em que ele começava a se torturar e sentir pena de si) e o tal livro bombástico de Evan nunca é publicado. Acometido por uma curiosidade incansável, ele decide pesquisar o nome de Evan na internet e descobre que o ex-aluno morreu sem nunca terminar o livro. Um choque para Jacob! Como que uma ideia tão boa como aquela poderia ser desperdiçada? Jacob então rouba a ideia de Evan, muda uma coisa aqui e ali e publica sob o título de Réplica, livro que tem algumas páginas entre os capítulos de A Trama e que são essenciais para a gente compreender como a situação se estabelece, pois assim que o livro se torna um fenômeno editorial, Jacob passa a receber mensagens estranhas de alguém que sabe que ele roubou a ideia de Evan Parker.

De triste e miserável, Jacob passa a ser um cara que surfa na onda do sucesso, viajando o país para entrevistas e leituras coletivas. Famoso, é reconhecido na rua, dá autógrafos e tudo isso pode ruir por causa de um sujeito que nem vivo está mais. Aquele Jacob patético do começo retorna quando ele começa a se sentir oprimido pelos e-mails que recebe. Depois dos e-mails começam os tuítes e publicações nas redes sociais que, é claro, acabam chegando no marketing da editora. Houve momentos aqui em que pensei que ele seria desmascarado, mas o mundo parece não ligar para as mensagens. Um exposed no Twitter teria sido interessante acompanhar, já que a comunidade leitora da rede é bem atuante.

Quando Jacob percebe que essas mensagens não vão sumir, ele decide investigar por conta própria e sai daquele poço de autocomiseração em que estava. De escritor ele passa a detetive e no fim acaba se tornando um detetive muito bom. O que ele descobre sobre Parker e sua família doida prendem a gente até o final. Todas as famílias são infelizes à sua própria maneira, já dizia Tolstói, e com os Parker não é diferente. Viajando pelo país, Jacob começa a desenrolar o fio dessa trama monstruosa que está totalmente amarrada ao seu famoso livro.

Conforme a leitura avança, a pergunta que não quer calar é: quem está mandando as mensagens para Jacob? A família foi destruída e não parece haver alguém capaz de fazer isso. Esse princípio nos fisga no começo e começa a nos levar até o final, mas admito que lá pelo meio eu já sabia quem poderia ser e isso acabou se confirmando no final. Prestando atenção nas pistas deixadas pela própria autora, fica fácil descobrir quem está por trás das mensagens e das ameaças. E aí, nós chegamos ao final, que é a parte que eu menos gostei, porque nada se resolve. Sério, acho que uma coisa que livros de suspense precisam ter é um desfecho que seja digno de toda a jornada que nós percorremos. E não é o que acontece aqui.

Outro problema do livro são os longos blocos de texto falando sobre, bem, nada de interessante, como o prédio da universidade onde o curso de escrita criativa acontece e como ele se tornou o que era... Olha, teve momentos em que fiz leitura dinâmica porque sabia que aquele parágrafo não serviria para nada, estava chato e tinha informações que foram escritas de maneira bem chata de ler. E Korelitz fez isso muitas vezes. Não tenho nada contra ambientação e boas descrições, mas não é o que ela fez em boa parte desses parágrafos. Um suspense que te deixa bocejando tem algum problema.

O livro está bem diagramado e revisado, com tradução de Ana Rodrigues, que também está muito bom.

A ficção nos convida a cenários ultrajantes.

Obra e realidade
Em um determinado momento, Jacob tenta justificar para si mesmo e para quem está lendo que roubar a ideia não trabalhada de Evan Parker não era errado. Plágio é uma cópia quase integral, mas não existe plágio de ideia. Parker nunca trabalhou no livro. Ele não foi publicado. E Jacob, que não era idiota, fez mudanças pontuais para não ficar tão parecido.

Elizabeth Gilbert, no livro Grande Magia, faz um comentário com o qual concordo demais: as ideias são imateriais e elas pousam sobre as pessoas que estão receptivas para trabalharem com ela naquele momento. Se por alguma razão a ideia não foi trabalhada, ela não morre simplesmente. Ela te abandona, sem remorsos, sem DR, e vai pousar em outra pessoa que estiver mais disposta. Quantas vezes vimos livros com ideias semelhantes, mas que não são plagiadas?

Jean Hanff Korelitz

Jean Hanff Korelitz é uma escritora norte-americana.

PONTOS POSITIVOS
O enredo de Parker
Investigação de Jacob
Cenário
PONTOS NEGATIVOS
Jacob
Final sem graça
O mistério das ameaças

Título: A Trama
Título original em inglês: The Plot
Autora: Jean Hanff Korelitz
Tradutora: Ana Rodrigues
Editora: Record
Ano: 2023
Páginas: 350
Onde comprar: na Amazon!

Avaliação do MS?
Não é um livro ruim, é um bom livro, mas talvez ele funcione melhor como série de TV. É uma ideia criativa, sem dúvida e quem poderia imaginar que uma ideia levaria a tantas tragédias, mas com relação a seus personagens principais e o final, senti que faltou algo mais. É um bom livro. Três aliens.


Até mais!

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