Brutalismo e ficção científica

Se tem uma arquitetura facilmente reconhecível em qualquer filme de ficção científica, principalmente os distópicos, é a brutalista. O nome e a reputação do brutalismo, sua estética imponente e pesada em concreto, há muito divide fãs e críticos de arquitetura. E você certamente reconhece os filmes onde essas arquiteturas aparecem.

Brutalismo e ficção científica
Sede da prefeitura de Dallas, construída em 1978. Sede da OCP em Robocop.

Surgido no Reino Unidos durante a década de 1950, principalmente nos projetos de reconstrução do pós-guerra, o brutalismo se caracteriza por construções minimalistas, onde se destacam os materiais de construção e os elementos estruturais. Há muito concreto ou tijolo exposto, além do uso de madeira, aço, vidro e formas geométricas ousadas e cores monocromáticas.

Fruto do movimento modernista, o brutalismo é uma reação contra a arquitetura nostálgica da década de 1940. Acredita-se que o termo derive das frases francesas béton brut ("concreto bruto") e art brut ("arte bruta") e está presente nos trabalhos de arquitetos como Le Corbusier, Mies van der Rohe, Lina Bo Bardi e Oscar Niemeyer. É comum encontrar prédios governamentais, universidades e centros culturais no estilo brutalista, como a sede do FBI, em Washington, D.C., o Centro Cultural São Paulo, o SESC Pompeia e a sede da Prefeitura de Boston.

Foi na Europa Oriental que o brutalismo se popularizou, pois os estilos tradicionais estariam associados à burguesia, aos excessos das classes abastadas, enquanto o concreto enfatizava a igualdade, bem como os princípios comunistas. Este é provavelmente o motivo pelo qual o brutalismo começou a polarizar arquitetos e críticos e começou a perder adeptos e popularidade a partir do final dos anos 1970. Por estar associado a nações socialistas, ao totalitarismo e à frieza do outro lado da Cortina de Ferro, boa parte do público desgosta de edifícios brutalistas e eles são sempre a preferência para a demolição em alguns lugares, como no Reino Unido.

Além disso, se antes o concreto era visto como praticamente indestrutível e atemporal, logo descobriu-se que ele se deteriora por dentro, se torna difícil de manter e pode até causar danos estruturais e sofrer danos conforme envelhece, principalmente causados por manchas de água e umidade elevada.

Na ficção científica
Poucos estilos arquitetônicos são tão populares na ficção científica quanto o brutalismo. Nos enredos distópicos ele é bastante presente e talvez seja um componente crucial do inconsciente do público norte-americano e seu pavor do comunismo. No futuro, para quem vive nos Estados Unidos, não tem coisa pior do que viver em um mundo com estética comunista, pois são vários os exemplos.

Blade Runner 2049
Blade Runner 2049

Também é muito comum vermos edifícios brutalistas como sede de grandes e más corporações. A sede da OCP, de Robocop, onde acontece uma violenta batalha de robôs, é a sede da Prefeitura de Dallas. Em O Vingador do Futuro, o prédio de apartamentos onde Doug Quaid mora, é o edifício brutalista do Hotel Nikko, na Cidade do México. Toda a arquitetura de Blade Runner 2049, de Equilibrium, de 1984, Laranja Mecânica, Anon, e a avenida dos tributos em Jogos Vorazes são trabalhados no estilo brutalista. Em Matrix, o edifício sede da MetaCortex, onde Neo trabalha, é o prédio do Sydney Met Center, na Austrália.

O concreto é um elemento universal na construção. Quando vemos imagens futuristas no cinema, a fotografia se concentra em estilos que abusam do concreto, pois assim o expectador não terá uma bagagem associada a um lugar, cultural ou sociedade. Assim, quem assiste a esses enredos se distancia de seu tempo e espaço e embarca na história ao suspender a descrença.

Principalmente em enredos distópicos, o concreto simboliza algo frio, distante, que isola os seres humanos. Desprovidos de decoração, de artefatos ou de materiais que indiquem a temporalidade, o concreto nos isola do ambiente natural, nos isola uns dos outros e personifica o poder hegemônico na forma de um governo ou líder totalitários. Se olharmos para Jogos Vorazes, tanto a Capital quanto o Distrito 13 apostam nesse estilo de arquitetura para, no final, nos revelar as verdadeiras intenções da presidente Alma Coin, que sempre estiveram alinhadas com a crueldade de Snow.

Jogos Vorazes
Avenida dos tributos na Capital de Panem, em Jogos Vorazes

Podemos ver uma evolução do estilo brutalista em Star Wars e suas estruturas monumentais, tanto de veículos quanto de maquinário, que refletem o poder do império e o totalitarismo de seu regime. Dos cruzadores imperiais e ao Sandcrawler, dos Jawa, há muito brutalismo na saga de George Lucas, com linhas retas, repetições de formas geométricas imensas e paletas monocromáticas. Star Wars apresenta um brutalismo espacial que se tornou marca registrada da saga.

Pessoalmente, curto muito o estilo brutalista. Gosto das linhas retas, das paletas monocromáticas, do estilo atemporal que essa arquitetura evoca. Por mais que o brutalismo sofra com o preconceito de parte do público e dos arquitetos, ele ainda tem admiradores, principalmente no cinema.

Até mais!

Leia também:
The 9 Brutalist Wonders of the Architecture World - GQ
9 Examples of Brutalist Architecture in Film - Architectural Digest

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Comentários

  1. Morando em Brasília, me sinto às vezes em um cidade distópica. Não apenas pelo brutalismo, mas amplos espaços, longas distâncias, endereços que são números e siglas... Nunca me acostumei!!! Mas, ainda acho melhor o brutalismo do que a arquitetura da Faria Lima haha como alguém que faz modelagem 3D, acrescento que modelar prédios no estilo brutalismo é muito mais fácil. Menos detalhes (basicamente a textura é uma só), menos faces e vértices (mais rápido renderizar), mais fácil de brincar com escalas, mais fácil de colocar efeitos de iluminação e neblina (luz volumétrica).

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    1. Brasília claramente foi construída para o automóvel. Pessoas são secundárias em suas vias.

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