É muito interessante ler como os críticos responderam a grandes clássicos da literatura na época de seus lançamentos. Hoje acreditamos que um clássico é uma obra absoluta, que ainda tem muito a dizer aos leitores atuais e que são praticamente cristais intocados e perfeitos. Mas nem todo mundo pensava assim quando essas obras saíram.
Na verdade, para alguns autores, a aclamação só veio bem depois que eles morreram. Herman Melville, por exemplo, morreu pobre. Gosto é gosto, claro, mas em algumas críticas a impressão que dá é que foi só recalque do crítico mesmo. Em outros casos, a crítica é bem merecida.
E o vento levou, de Margaret Mitchell
Livro que inspirou o grandioso filme da era de ouro de Hollywood, ele fala da jovem impetuosa e mimada Scarlett O’Hara, na fazenda de Tara, na Geórgia, prestes a entrar na Guerra de Secessão. Sem conseguir se casar com o homem que queria, ela acaba se envolvendo com o aventureiro Rhett Butler, enquanto a guerra devasta o sul dos Estados Unidos, inclusive sua amada fazenda. Embora o livro tenha se tornado extremamente popular entre os leitores logo após seu lançamento, os críticos não compartilhavam do mesmo entusiasmo.O revisor do The New York Times, Ralph Thompson, disse: “Acontece que sinto que o livro teria sido infinitamente melhor se tivesse sido editado para caber em 500 páginas...". Mas uma crítica que existe desde aquela época e que ainda perdura - e com razão - é sobre as representações profundamente problemáticas e revisionistas de Mitchell sobre a escravidão, sobre a própria guerra e o período de reconstrução. Por mais que seu foco fosse no romance de Scarlett e Rhett, a maneira descuidada com que tratou tais temas se amplificou ao longo dos anos.
Moby Dick, de Herman Melville
Moby Dick conta a história do capitão Ahab, em busca de vingança contra o terrível cachalote que amputara sua perna. A obra inspirou e ainda inspira obras nas mais variadas mídias, de séries de TV, a games, quadrinhos e artes plásticas. Melville se valeu de sua própria experiência no mar, além de eventos com os naufrágios dos baleeiros de George Pollard Jr. para construir sua prosa poética e trágica.Visto hoje como um clássico absoluto, o livro teve críticas muito duras em seu lançamento. Uma das revistas literárias mais conceituadas da Inglaterra considerou o livro uma “catástrofe”. Uma publicação metodista classificou o livro como “impróprio para circulação geral”. Alguns dos críticos mais perversos chegaram ao ponto de atacar o próprio Melville, juntamente com o que consideraram "suas contorções retóricas, todos os seus abusos declamatórios da sociedade, todos os seus sentimentos inflados e toda a sua depravação insinuante".
Os Miseráveis, de Victor Hugo
Uma história épica com inúmeras subtramas, Os Miseráveis se concentra na figura de Jean Valjean enquanto ele tenta superar seu passado criminoso. Ao longo do caminho, encontra donos de pousadas inescrupulosos, estudantes universitários revolucionários, um inspetor de polícia extremamente determinado e uma menina, Cosette, a quem dedica sua vida.Hugo já era um nome conhecido, graças a O Corcunda de Notre Dame, e seus novos lançamentos eram muito aguardados. Como tal, não é surpreendente que Os Miseráveis tenha se tornado imediatamente popular e tenha sido traduzido do francês para vários outros idiomas logo após seu lançamento. Porém, as críticas iniciais foram negativas. Gustave Flaubert o descreveu como “infantil” e previu que encerraria a carreira de Hugo. Charles Baudelaire elogiou publicamente partes do romance, ao mesmo tempo que o considerou “repulsivo” em particular. A Igreja Católica incluiu-o no Index Librorum Prohibitorum, proibindo qualquer católico de lê-lo. Outros revisores o consideraram excessivamente sentimentalista e subversivo.
O Grande Gatsby, de F. Scott Fitzgerald
Quando o livro foi lançado em 1925, ele foi considerado tudo menos ótimo. Agora aclamado e adaptado para o cinema em um longa bem-sucedido com Leonardo di Caprio, o livro conta a história de um homem que fará qualquer coisa para chamar a atenção de uma ex-amante. Passando-se no deslumbrante cenário dos anos 1920, hoje é considerada uma das melhores obras da literatura norte-americana e até mesmo do mundo.Mas nem tudo são flores, pois os críticos não ficaram impressionados na época do lançamento. O Chicago Tribune chamou o livro de "sem importância" e disse que deveria ser excluído do famoso cânone de Fitzgerald. O Evening World disse que o texto foi "dolorosamente forçado" e fez "um grande esforço para ser irônico". Uma reclamação comum era de que os personagens eram pouco desenvolvidos e superficiais.
Admirável mundo novo, de Aldous Huxley
A assustadora história publicada em 1932 fala de um futuro centrado no sexo, nas drogas e na adoração nas linhas de montagem, retratando a humanidade presa num ciclo interminável de compra de aparelhos, trabalhos triviais e consumo de drogas para fazer desaparecer a depressão. Hoje o livro é considerado um clássico absoluto da ficção científica, mas a recepção da crítica literária foi fria e em alguns casos havia um pânico generalizado pela visão de futuro de Huxley.Até mesmo colegas de Huxley se sentiram incomodados com a paisagem distópica do livro. H.G. Wells se sentiu traído por ler sobre um futuro tão catastrófico (sim, o cara que praticamente inaugurou o sub-gênero da invasão alienígena). Outros críticos queriam a demissão de Huxley e usavam palavras que variavam de infantil a simplório para o livro. A principal queixa era sobre um futuro onde a humanidade estava pacificada por meio de distrações infinitas, entretenimento trivial e promiscuidade.
Lembrou de mais algum??
Até mais e boas leituras! 📖
Quando "O apanhador no campo de centeio" foi lançado, quase toda a crítica especializada à época detonou o livro por causa da linguagem adotada e estilo narrativo. Teve crítico que acusou Salinger de "pervertido e péssima influência" para a juventude.
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