Resenha: A caçadora de árvores, de Marie Pavlenko

Esse título me chamou a atenção assim que saiu por aqui pelas mãos da Editora Naci, mas admito que antes de começar a ler não tinha bem ideia sobre o que se tratava. É bem fácil traçar diversos paralelos com nossa sociedade atual e em como nos encaminhamos para um futuro semelhante que pode não estar tão distante assim no horizonte.

O livro
Samaa é uma garotinha que vive em um povo nômade. Seu mundo é cruel, seco, onde as areias tomaram conta de tudo. Para poder sobreviver, o povo de Samaa caça árvores, as cortas em tábuas e vende na cidade para poderem comprar água e comida. A fome, a sede, são ameaças reais para Samaa que sonha em se tornar uma caçadora de árvores. Para ela, as histórias antigas são absurdos, coisas que os velhos inventam. Árvore significa comida e água, simples assim.

Resenha: A caçadora de árvores, de Marie Pavlenko

Por mais que queira se tornar uma caçadora de árvores, que queira contribuir com o grupo e, quem sabe, descobrir o que houve com seu pai, Samaa ouve que esse trabalho é considerado masculino e que ela não tem chances de sobreviver lá fora. Seu melhor amigo no mundo se tornou um caçador e acabou crescendo, ficando forte, distante do mundo infantil que eles dividiram por tanto tempo. Samaa se sente contrariada, desrespeitada e tratada como uma criança (o que ela é!).

As árvores têm mil rostos. Mas... infelizmente, agora somos incapazes de lê-las.

Uma coisa que gostei muito no livro é o fato de Samaa parecer a criança que é. Já li livros em que as crianças falavam como pequenos lordes vitorianos e isso meio que quebra a magia da leitura. Não consigo embarcar no enredo se ele não parecer crível. Aqui foi muito fácil me conectar com essa menina que quer tanto fazer algo significativo, algo que não esteja dentro dos padrões, querendo atingir um patamar que lhe é negado. Justamente por causa disso que ela decide tomar uma decisão brusca e perigosa: ela segue os caçadores no deserto, acreditando que pode se virar tão bem quanto eles no mar de areia.

Acho que todo mundo tem lembranças da própria infância de quando duvidamos dos adultos, de quando desdenhamos de seu conhecimento ou quando não acreditamos em coisas que são tão óbvias agora que somos adultas. Pois com Samaa é a mesma coisa. Nesta jornada de autoconhecimento e resistência, Samaa começa a descobrir que algumas das histórias contadas pela mulher idosa de seu povo, isolada de todos enquanto espera a morte, parecem ser verdade mesmo. Este livro não vai funcionar se você não pensar com a mesma cabeça de Samaa, por isso lembre-se daquela criança turrona e curiosa que você era na hora da leitura!

Samaa acaba perdida no meio do deserto, onde ela percebe que nada é como achava que era. Ela pensa na mãe e em como deve estar preocupada, pensa em como vai encontrar o grupo que partiu na frente, se vão ficar bravos por ela ter deixado o assentamento para segui-los. Mas é essa jornada que fará Samaa descobrir algo maravilhoso no deserto. Algo que pode mudar a vida de seu povo e a do próprio planeta.

Este não é um livro longo, na verdade, dá para ler em um dia só, por ter menos de 200 páginas. Aliás, acho que é o ponto negativo dele, ter desenvolvido tão pouco o enredo e os cenários, pois há muito aqui para ser visto. Mas como estamos acompanhando os pensamentos de Samaa, acaba que tudo é visto com a simplicidade de uma criança, então até entendo qual foi o objetivo da autora. E é nesses pensamentos e observações simples de uma criança que percebemos que o destino de nosso mundo não está tão distante assim do de Samaa.

Li o ebook e não o livro físico, mas foi uma leitura muito rápida, proveitosa e com um final otimista. A tradução do francês foi feita por Sofia Soter e está ótima. O ebook está bem diagramado e revisado.

Meu coração bate, estou viva, sou um ser vivo neste mundo infinito no qual sou tão pequena.

Obra e realidade
As mudanças climáticas globais estão aí. Não é mais uma questão de um futuro próximo, pois o futuro chegou. Estamos vivendo anos mais quentes, estações mais severas, bem como os eventos climáticos. E ainda assim, os poderosos relutam em mudar algo. É claro, que relutam, por deveriam se preocupar? Quem mais sofre com as mudanças climáticas globais é gente pobre.

Nesta semana em que escrevi a resenha o mundo discutiu sobre o desaparecimento de um submersível inseguro onde gente rica morreu a caminho de uma expedição para os destroços do Titanic. A missão de resgate mobilizou países e organizações internacionais. Enquanto os rostos destas cinco pessoas eram estampados em todos os jornais, uma notícia menor dividia o canto da tela, em que um barco precário e lotado de imigrantes pobres era avistado do alto pouco antes de naufragar no mar Mediterrâneo, matando 700 pessoas.

Os ricos não sentem as mudanças climáticas globais e nem têm interesse em combatê-las, já que podem sobreviver a ela e ainda fazem parte do problema.

Marie Pavlenko

Marie Pavlenko é uma escritora francesa de ficção.

PONTOS POSITIVOS
Samaa
Bem escrito
Árvores
PONTOS NEGATIVOS

Acaba rápido!


Título: A caçadora de árvores
Título original em francês: Et le désert disparaîtra
Autora: Marie Pavlenko
Tradutora: Sofia Soter
Editora: Nacional (Selo Naci)
Ano: 2022
Páginas: 176
Onde comprar: na Amazon!

Avaliação do MS?
Sofri com Samaa. Chorei com ela, fiquei feliz com ela, caminhei ao seu lado pelo deserto e sorri com sua inocência e capacidade de observação. Inclusive gostaria que o livro fosse mais longo, pois eu certamente leria mais cem páginas da jornada dessa menina. Quatro aliens para o livro e uma forte recomendação para você ler também!


Até mais! 🌳

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