As várias adaptações literárias de Blade Runner

Um dos grandes clássicos do cinema não foi tão bem nas bilheterias quando foi lançado. Ganhando status de filme cult pouco depois, seu fandom cresceu a ponto de gerar várias mídias ao longo dos anos. Muita gente sabe que o filme de 1982 foi inspirado no livro Androides sonham com ovelhas elétricas?, de Philip K. Dick. O que pouca gente sabe é que outros livros foram lançados depois da adaptação cinematográfica, que expandem e muito o universo do caçador de androides.

As várias adaptações literárias de Blade Runner

Pessoalmente gosto muito de universos expandidos. Gosto de saber os históricos, o passado dos personagens (ou o futuro). Gosto de saber mais. Enredos muito misteriosos em geral não me atraem. Sei que muita gente gosta de saber mais sobre os cenários, mundos e enredos de filmes, séries, outros livros, games, e é neste nicho que obras estendidas, versões e continuações surgem. Nem sempre seguem fielmente o material original, mas com certeza chamam a atenção.

Com Blade Runner não é diferente. Mesmo com todos os problemas na produção do filme original (e suas cinco versões distintas), a obra ganhou uma legião de fãs e é alvo de estudos e discussões acadêmicas e de mesas de bar até hoje. Ainda que muitos saibam que ele é baseado no livro de Philip K. Dick (mas com um título emprestado de outro livro, totalmente diferente), poucos sabem sobre os livros que saíram depois da estreia nos cinemas.

Na ordem temos as seguintes obras depois do livro de Dick:
  • Blade Runner 1: A Story of the Future - novelização do filme por Les Martin
  • Blade Runner 2: The Edge of Human - por K. W. Jeter
  • Blade Runner 3: Replicant Night - por K. W. Jeter
  • Blade Runner 4: Eye and Talon - por K. W. Jeter

Blade Runner: A Story of the Future
Blade Runner: A Story of the Future
Lançado em 1982, pela Random House, um mês antes da estreia do longa nos cinemas, é a novelização do roteiro original de Hampton Fancher e David Peoples, levemente baseado no livro original de Philip K. Dick. O autor chegou a ser sondado para escrever a novelização, inclusive por um valor em torno de 400 mil dólares, mas recusou, dizendo que preferia relançar seu livro original ao invés de lançar uma "cópia barata" da própria obra.

O veterano escritor de ficção científica, Les Martin, foi chamado para escrever em uma corrida contra o tempo para deixar tudo pronto na época do lançamento do longa e assim ganhar dinheiro com obras adaptadas. O livro de Maritn conta com mais de 60 fotos coloridas retiradas do filme. Martin é autor de vários livros, incluindo as novelizações de Indiana Jones: Os caçadores da arca perdida e O Templo da perdição, além de livros sobre o jovem Indiana Jones. Também escreveu obras dentro do universo de Star Wars e Arquivo X.

Como todo livro, ele expande muitas coisas que são apenas mencionadas no filme, enquanto encolhe outras e melhor adapta cenas do audiovisual. Por exemplo, o filme nunca menciona de qual colônias os replicantes vieram. No livro, ela é identificada como Colônia Dominguez. O famoso monólogo de Roy Batty está ausente da novelização, onde Deckard apenas descreve para Rachel o que aconteceu. Temos que lembrar que o filme não tinha sido lançado ainda, não era um fenômeno e que o monólogo original era bem diferente.

Blade Runner 2: The Edge of Human
Blade Runner 2: The Edge of Human
Lançado em Portugal, pela Coleção Nebula, em 1995, este livro se passa pouco tempo depois da primeira história, em 2020. Deckard ainda não sabe se é humano ou um dos replicantes, gerando uma dúvida existencial que não aparece no primeiro filme. Aqui há uma mudança na forma como os androides são fabricados. Eles são clones de pessoas reais, aperfeiçoados em laboratório. Na década de 1990, as experiências genéticas, o estudo do genoma humano e todos os medos referentes ao tema estavam em voga e serviu de inspiração para o autor, K. W. Jeter, que era amigo de Philip K. Dick.

Isso possibilitou o retorno de personagens do filme original. Aqui, Deckard está isolado com Rachel em uma cabana fora de Los Angeles, quando é abordado por uma mulher chamada Sarah Tyrell, sobrinha de Eldon Tyrell, herdeira da empresa e, para a surpresa de Deckard, a modelo original para a replicante Rachel. Ela pede que Deckard cace um sexto replicante desaparecido, membro daquele grupo original. Interessante apontar que o autor resgatou personagens como John Isidore, que está no livro original de Dick, e J. F. Sebastian, que está no filme neste enredo aqui.

Muitas das partes da "conspiração" do livro são baseadas em erros ou falhas no roteiro identificadas pelos fãs do filme original, como a habilidade de Leon de trazer uma arma para o prédio da Tyrell Corporation ou a referência ao sexto replicante perdido, que alimentou a imaginação dos fãs por muito tempo. A etimologia do termo "blade runner" também é revelada no livro: ele vem da frase alemã bleib ruhig, que significa "mantenha a calma". Foi supostamente desenvolvido pela Tyrell Corporation para evitar rumores sobre o mau funcionamento dos replicantes.

Blade Runner 3: Replicant Night
Blade Runner 3: Replicant Night
Publicado em 1996 (e também em Portugal com o nome de Blade Runner - A Noite dos Andróides), Jeter continua a história de Deckard, que deixou Los Angeles para trás e se mudou para Marte, para morar com "Rachel" em um lugar onde seu rosto não fosse conhecido. Mas quando um filme sobre a vida de Deckard começa a ser filmado, velhos demônios começam a aparecer. Deckard então se vê envolvido em uma missão em nome dos replicantes que já foi designado para matar. Enquanto isso, o mistério em torno dos primórdios da Tyrell Corporation começa a ser exposto.

Quando um replicante é morto nos sets de filmagem, Deckard fica furioso. Ele foi aposentado diante das câmeras e ninguém parece ligar muito pra isso. Ao mesmo tempo, o ex-parceiro de Deckard, Dave Holden, o procura para lhe entregar uma maleta, dotada de uma cópia da personalidade de Roy Batty, mas não do androide, e sim do humano original que serviu de modelo. Isso joga Deckard numa corrida contra o tempo para ajudar os replicantes das colônias distantes.

Algumas coisas são explicadas neste livro, como por exemplo, o motivo para não ter mais naves partindo da Terra ou de qualquer lugar do sistema solar, rumo às colônias distantes. A personagem de Rachel também tem sua história explicada e bem aprofundada neste livro.

Os mortos foram os únicos que escaparam. Para os vivos, havia apenas o passado e o futuro, a mesma coisa em qualquer direção, e igualmente doloroso.

Blade Runner 4: Eye and Talon
Blade Runner 4: Eye and Talon
Lançado em 2000, livro começa com uma seção outtake, escrita como um roteiro de filme, que descreve uma cena do filme original em que o replicante Leon é submetido ao teste Voight-Kampff. Porém, nesta versão, o blade runner é uma mulher, e Leon a mata no final do teste. A seção termina com uma pessoa desconhecida comentando "Este também não funcionou; temos que tentar outro..."

Em seguida, o autor apresenta Iris, uma Blade Runner, a melhor de sua unidade. Um dia, seu chefe, Meyer, diz a ela que a divisão deles está em perigo, já que há poucos replicantes chegando na Terra. Assim, para justificar a existência da divisão, ele lhe dá uma tarefa inusitada: Iris deve encontrar a coruja, chamada Scrappy, que era propriedade da Tyrell Corporation. Sem saber o que o caso da coruja tem a ver com os blade runners, Iris decide procurá-la mesmo assim.

Sabemos que os animais foram extintos no universo de Blade Runner e que a única saída (para quem tinha muito dinheiro) era ter animais replicantes. Mas há uma suspeita de que Scrappy fosse uma coruja real. Irirs encontra um arquivo com duas cenas gravadas: a primeira mostra Eldon Tyrell, alimentando a coruja e a segunda mostra o primeiro encontro de Deckard e Rachael, pelos olhos da coruja. Iris fica surpresa ao descobrir que Deckard era um blade runner, já que não há qualquer arquivo dele na divisão em que trabalha.

O interessante desse livro é a explicação sobre a criação do primeiro replicante, por que Tyrell se tornou a única empresa a produzi-los e por que Roy Batty veio à Terra para matar seu criador, inclusive esmagando seus olhos. E claro, por que a coruja é tão importante no enredo. Acho que este livro aqui daria uma ótima adaptação para os cinemas!

Scrappy

É nessas horas que eu queria ter uma editora para publicar livros desse tipo. Um box com esses quatro livros seria bem interessante até para quem não é tão fã de Blade Runner. Ficou com vontade de ler algum?

Até mais! 🦉

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