Resenha: Antes que o café esfrie, de Toshikazu Kawaguchi

Já tinha ouvido falar muito bem deste livro em outros blogs e finalmente consegui pegar para ler no final de semana. Em uma criativa discussão sobre viagens no tempo, o livro lida com diversas questões muito humanas em um café que aparenta não ter nada de especial em Tóquio. Mas se você seguir direitinho as regras, pode viajar no tempo. Só não pode deixar o café esfriar.

O livro
Há mais de 100 anos, em uma rua quieta e pouco movimentada de Tóquio existe um café. É um lugar bem pequeno; dez pessoas já lota o espaço dos clientes. Mas lá eles servem um café muito especial. A lenda urbana diz que neste lugar os clientes podem viver uma experiência única: uma viagem no tempo. Mas não é assim tão simples, há uma série de regras estranhas que acabam por desestimular muitas pessoas a passar pela experiência. Mas algumas pessoas estão dispostas a passar por tudo isso.

Resenha: Antes que o café esfrie, de Toshikazu Kawaguchi

Algumas das regras são: você só pode encontrar pessoas que já estiveram no café; é preciso sentar em uma cadeira específica; não pode levantar da cadeira durante a viagem; nada do que você disser ou fizer vai mudar o presente e; você deve voltar antes que o café esfrie. Só esse conjunto de regras já desanimaria qualquer um, certo? Mas alguns clientes estão tão angustiados por erros do passado que estão dispostos a tentar.

Vários anos haviam se passado desde a época em que o lugar se tornara famoso devido a uma lenda urbana que alegava que era capaz de fazer as pessoas viajarem no tempo.

A narrativa não segue exatamente um personagem apenas, mas sim vários deles. Começamos com Fumiko, que acabou de levar um fora do namorado e sente que deixou de falar o que realmente queria para ele. A confusão dela é a mesma de quem está lendo sobre as regras inusitadas para a viagem no tempo. Se nada vai mudar no presente, então pra que ir? Ainda assim, para alguns deles, o arrependimento é tanto que só de colocar para fora o que sentem e o que pensam diante da pessoa já compensa a viagem.

Além dos clientes que querem voltar no tempo, três personagens também são bem importantes. Nagare e Kei, donos do café, e Kazu, a garçonete, que geralmente é encarregada de alertar os clientes sobre as regras da viagem. Eles parecem mais como guardiães do café e da cadeira do que funcionários do café. Além de Fumiko, em busca de respostas do namorado, outros clientes também possuem questões pertinentes, seus próprios arrependimentos e incertezas, suas próprias razões para sentar na cadeira.

É um livro bastante curtinho, mas o autor consegue colocar muita emoção, muitos sentimentos na forma como descreve os personagens e seus dilemas. Cada um deles é apresentado e descrito de maneira que nos deixa muito próximas, muito apegadas a eles. No começo, quando os capítulos mudavam e novos personagens surgiam, eu me pegava triste por não ter continuado com os anteriores, mas o autor trabalhar sempre com as mesmas pessoas ao longo da leitura.

Os capítulos parecem contos interligados uns nos outros. Cada um deles fala de um cliente específico que frequenta o café. A jornada de Hirai e de Kohtake foram muito emocionantes. As duas frequentam o café e têm suas vidas marcadas por eventos trágicos. A viagem no tempo acaba sendo a única saída para que possam obter respostas que se tornaram inalcançáveis no presente.

Sem focar em qualquer tipo de explicação para a viagem, o livro voa na mão. Li em um dia, incapaz de parar, querendo saber o que seria de todas aquelas pessoas. Existem tantas formas de se viajar no tempo na literatura e no cinema que este aqui pode acabar causando estranhamento, mas acredite, nem faz tanta diferença assim saber ou não como a viagem acontece. Ela simplesmente está lá e é assim que funciona.

A água escorre dos lugares altos para os mais baixos. Sempre. É a natureza da gravidade. As emoções também parecem agir de acordo com a gravidade. Na presença de alguém com quem se tem laços, a quem você já confiou seus sentimentos, fica difícil mentir sem que o outro perceba. A verdade simplesmente quer fluir, se libertar.

Li o ebook, não o livro físico, mas a edição está bem diagramada, com alguns erros pontuais de revisão. A tradução foi feita do inglês, não do japonês original, por Priscila Catão e está muito boa.

Obra e realidade
O arrependimento é um sentimento muito forte. Esse é um sentimento que move muitas pessoas em momentos de necessidade; em outros pode acabar corroendo a consciência de alguém como ácido. Anne Frank dizia que os mortos recebem mais flores que os vivos porque o remorso é mais forte que a gratidão. Então se fosse possível voltar no tempo, mesmo sabendo que o presente não será afetado, muita gente arriscaria uma viagem, apenas para poder se desculpar, quem sabe reparar um erro terrível, relembrar de alguém como era no passado.

O livro foi adaptado para o cinema no Japão com o título de Café Funiculi Funicula, dirigido por Ayuko Tsukahara. Ele também conta com duas sequências: Before the Coffee Gets Cold: Tales from the Café, de 2017, e Before Your Memory Fades, de 2022. Originalmente, Antes que o café esfrie foi escrito como uma peça de teatro, em 2015, o que talvez explique um pouco sobre sua estrutura.

Toshikazu Kawaguchi

Toshikazu Kawaguchi é natural de Osaka. É dramaturgo e escritor. Foi produtor e diretor do grupo de teatro Sonic Snail.

PONTOS POSITIVOS
Personagens
Bem escrito
Emocionante
PONTOS NEGATIVOS

Acaba logo
Final em aberto

Título: Antes que o café esfrie
Título original em inglês: Before de coffee gets cold (コーヒーが冷めないうちに em japonês)
Autor: Toshikazu Kawaguchi
Tradutora: Priscila Catão
Editora: Valentina
Páginas: 208
Ano de lançamento: 2022
Onde comprar: na Amazon!

Avaliação do MS?
Impressionante como um livro tão curtinho tem tanto conteúdo. Personagens cativantes, um enredo que prende desde o começo e uma inusitada forma de viajar no tempo. Não sei se ele agradaria a todo mundo, principalmente pela forma como termina, mas certamente foi uma leitura muito agradável e emocionante. Quatro aliens para o livro e uma forte recomendação para você ler também!

MUITO BOM!

Até mais! ☕

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