Resenha: A palavra mortal, de Genevieve Cogman

Se tem uma série de fantasia com a qual me identifico totalmente, essa série é a da Biblioteca Invisível! Com cinco títulos já traduzidos no Brasil pela Morro Branco, essa série é uma celebração do nosso amor pelos livros e pelo conhecimento. Aqui temos uma biblioteca interdimensional que, para manter o equilíbrio entre vários mundos que oscilam entre o Caos e a Ordem, precisa roubar livros e guardá-los em um lugar seguro. Mas tudo isso está correndo um grande risco neste quinto volume!

Parceria Momentum Saga e Editora Morro Branco

O livro
Irene Winter, uma agente e espiã, volta de uma missão em outro mundo após roubar mais um livro importante para a Biblioteca. É sua função, aliás, se infiltrar em mundos diversos e roubar livros importantes para manter a ordem do universo. Ela adota o disfarce necessário para conseguir a obra que precisa. Mas uma batida na porta traz notícias preocupantes.

Resenha: A palavra mortal, de Genevieve Cogman

Uma conferência de paz inédita entre dragões e feéricos está acontecendo em um mundo alternativo neutro, onde as forças do caos e da ordem não dominam. É algo que eu mesma nunca pensei em ler nessa série já que a animosidade desses dois grupos é lendária e mortal. Achei a proposta muito ousada e temi que fosse ser apenas um embuste de um dos lados, algo que teria pouco tempo para se desenvolver, mas felizmente não foi o caso.

Os dragões incorporavam as forças naturais puras e os feéricos representavam narrativas metafóricas ficcionais, de modo que eram opostos. E não apenas desgostavam uns dos outros: ele se odiavam. Os seres humanos ficavam no meio: posses a serem protegidas ou peças a serem usadas em seus jogos.

Páginas 33

Nos livros anteriores, a Linguagem - uma forma de magia que os agentes da Biblioteca utilizam para modificar a realidade e a função de objetos e pessoas - não toma tanto espaço assim da narrativa. Ela está lá, mas como um acessório, não como algo que dita o enredo. Aqui a história é de detetive, o clássico caso de investigação criminal, já que um assassinato colocou a conferência de paz em risco e um conflito pode explodir a qualquer momento entre dragões e feéricos.

Irene, seu amado assistente Kai, ele mesmo um dragão, e Vale, um detetive vitoriano (bem mala, se me permite dizer) viajam para esse mundo neutro a fim de atuarem como investigadores no sentido mais clássico mesmo. Eles precisam descobrir como o crime aconteceu e, o principal, quem foi o seu mandante, já que o morto é um alto oficial da delegação de dragões. Essa Paris de 1890, onde o evento acontece, é atormentada por anarquistas, possuindo certo grau de tecnologia, mas diferindo de outras Paris que Irene e Kai conheceram.

A narrativa continua fascinante. Cogman intercala o drama com uma artéria sarcástica, por vezes emocionante, por vezes cínica. Ela tem um dom de unir aliados improváveis nas mais inusitadas situações, deixando a gente naquela apreensão porque tudo parece perdido. Uma coisa que eu adoro em Irene é como ela analisa as situações e pensa rápido, achando soluções para os problemas. Força bruta pode até funcionar para algumas situações, mas para a maioria delas o que vale mesmo é a inteligência, coisa que Irene tem de sobra.

A investigação em si me manteve presa na leitura por horas a fio, madrugada a dentro, sem conseguir parar, porque quando você pensa que solucionou o caso, acontece alguma coisa e você tem que repensar a história toda. A tensão que Cogman joga no ar é palpável e me senti na pontinha dos pés o tempo todo, tensa, com medo que algo acontecesse e tornasse a situação toda ainda mais insustentável do que antes.

Essa situação insustentável se avizinha porque algumas pistas apontam que pode haver envolvimento de alguém da Biblioteca no crime, coisa que Irene custa a acreditar, principalmente pelo fato de a Biblioteca ser neutra, nunca tomando partido de nenhum lado. Agindo como uma Suíça interdimensional neste mundo mágico, o único interesse da Biblioteca é em livros e se algo atinge essa instituição, Irene toma as dores para si e assume como algo pessoal.

Então, além da tensão da conferência, das acusações contra a Biblioteca e todo o Caos e Ordem oscilando em Paris, ainda tem as facções feéricas sangrentas, manipuladoras e traiçoeiras agindo. Personagens que já conhecemos de outros livros retornam aqui, mas têm uma participação mais discreta, pois acho que a verdadeira protagonista da história foi a Conferência de Paz que pode pôr um fim a tantas hostilidades seculares.

Quando as pessoas começavam a falar em usar outras pessoas, normalmente estavam contemplando uma estrutura de poder com elas mesmas no topo.

Página 183

A leitura foi rápida e tensa, como nos livros anteriores. Uma coisa que eu acho bacana é que os livros são independentes. Pra que você entre no enredo não é preciso conhecer a fundo as obras publicadas antes. É sempre mais interessante, é claro, mas você pode ler sem problemas. A tradução foi de Cláudia Mello Belhassof e está ótima. O livro não tem problemas de revisão ou tradução.

Obra e realidade
Curto muito a forma como um livro pode ser decisivo no balanço de poder de um mundo e como as histórias são contadas a ponto de tomarem forma nos mais variados lugares. Dependendo de quanto caos ou ordem um mundo tiver, mais efetiva ou não a história será. E não é exatamente essa a função de um livro? Tornar-se um mundo paralelo e real na cabeça de toda leitora? Um mesmo livro lido por várias pessoas diferentes terá várias interpretações, cenários e formas de se imaginar lugares, eventos e personagens. Genevieve usou esse poder para criar um enredo fascinante e personagens maravilhosos, daqueles de conquistar o coração.

Genevieve Cogman

Genevieve Cogman é uma escritora britânica de ficção especulativa. Escreveu para vários jogos de RPG, como o GURPS Vorkosigan. Trabalha no Sistema Nacional de Saúde britânico e curte nerdices nas horas vagas.

Pontos positivos
Irene e Kai
Dragões
Tem uma biblioteca interdimensional!
Pontos negativos

Pouca ação


Título: A palavra mortal
Título original em inglês: The Mortal Word
1. A Biblioteca Invisível
2. A Cidade das Máscaras
3. A Página em Chamas
4. A Trama Perdida
5. A Palavra Mortal
6. O Capítulo Secreto (2019)
7. The Dark Archive (2020)
8. The Untold Story (2021)
Autora: Genevieve Cogman
Tradutora: Cláudia Mello Belhassof
Editora: Morro Branco
Páginas: 464
Ano de lançamento: 2022
Onde comprar: na Amazon!

Avaliação do MS?
Se assim como eu você é fascinada por livros e histórias, precisa acompanhar as aventuras de Irene e Kai. Não apenas é uma espiã que trabalha para uma Biblioteca Invisível responsável pelo equilíbrio dos mundos, como Irene é uma personagem maravilhosa. Bem construída, inteligente, que está sempre no centro das ações e eventos dos mais variados mundos. Este é um universo para qualquer amante dos livros. Quatro aliens e uma forte recomendação para você ler também!


Até mais! 📚

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