Resenha: Aliens: Vasquez, de V. Castro

Assim que ouvir falar sobre este lançamento aqui, fiquei super empolgada. Jenette Vasquez é uma das personagens mais incríveis da ficção científica e uma fuzileira durona da franquia Alien. Em Aliens, o Resgate, o segundo filme da franquia, Vasquez é uma soldado de primeira classe da qual sabemos muito pouco. Mas V. Castro nos trouxe sua história e seu legado em Aliens: Vasquez!

O livro

Jenette Vasquez é uma lutadora, uma soldadera. Antes mesmo de se tornar a fuzileira boa de briga que vemos em Aliens, Jenette precisou lutar muito. Este mundo da franquia Alien mostra uma Terra ainda mais pobre e violenta, perigosa e difícil para aqueles que não detém o poder. Assim, a família Vasquez precisa matar um leão por dia apenas para botar a comida na mesa.

Jenette nem de longe é aquela latina bonita, curvilínea e fogosa que o estereótipo pintou na mente das pessoas. Quando começam a delinear este tipo de vida para ela, Jenette corta os longos cabelos, um ato de rebeldia que desagrada à mãe. Aliás, a família tem seus problemas, como o alcoolismo de sua irmã, mas nota-se que eles se amam, se cuidam, que fazem de tudo uns pelos outros. Infelizmente, as consequências dessa vida difícil fazem Jenette se envolver com gangues, onde descobrimos mais sobre sua sexualidade, e daí para o reformatório depois de uma prisão injusta não demorou.

Como a autora é de ascendência mexicana, não foi difícil inserir aspectos da cultura latina no livro e ficou ótimo. Das comidas aos insultos, ela soube dosar muito bem e enaltecer essa cultura sem parecer falso, caricato, mas como uma parte verdadeira da personagem. Jenette se agarra a essa herança das soldaderas para não perder de vista seu objetivo: entrar para os Fuzileiros Coloniais e sair do planeta. Assim, ainda presa, ela conhece seu grande amigo Drake (lembra dele??) e ambos começam a treinar para se juntar aos fuzileiros.

No começo, por quase metade do livro, Castro vai e volta no tempo para mostrar a vida de Vasquez e sua luta para se tornar uma fuzileira. Depois ela abandona esse vai e vem, como se estivéssemos no "tempo correto" do livro. Por isso nós ficamos dançando ao redor de Vasquez conforme o tempo avança e recua. E é aí que descobrimos que Jenette esteve grávida.

Jenette era uma guerreira, havia trilhado o caminho do guerreiro, mesmo que fosse rebelde às vezes, tropeçando na imprudência. Agora, neste útlimo teste para o Corpo de Fuzileiros Coloniais, ela teve que reunir toda a gana de cada soldado em sua família que serviram antes dela. Nesse momento seus ossos não eram de cálcio e tutano, mas de aço. Eles seriam de aço pelo tempo que ela precisasse para conseguir o que queria.

(tradução livre)

Enquanto a primeira metade do livro é sobre Jenette, inclusive o momento de sua morte, a segunda metade é sobre seus filhos, Leticia e Ramon. Quando Jenette descobre a gravidez, a juíza de seu caso, que não tem qualquer empatia por garotas latinas "encrenqueiras", lhe impõe a condição de abrir mão deles. Ainda que nunca tivesse pensado em ter filhos antes, a decisão lhe dói porque ela não poderá ter outros.

Castro fez discussões bastante atuais que são muito presentes na franquia Alien que ela demonstra conhecer muito bem. Você vai reconhecer alguns nomes ao longo da leitura, como o da família Vickers e da megacorporação Weyland-Yutani. Sim, ela é bem presente aqui. Violência policial, racismo e pobreza são temas que a população latino-americana conhece muito bem e isso não esteve longe do cotidiano da família Vasquez.

Nesta segunda parte do livro temos a presença de aliens! Mas não foque neles, pois o enredo é sobre os Vasquez e como seus filhos levarão este nome adiante. Leticia e Ramon são radicalmente diferentes e peguei um ranço do garoto bem rápido. É interessante ver como eles pensam na mãe e no pai que nunca conheceram, tentando imaginar o que podem ter em comum. Acho que a autora conseguiu caracterizar os gêmeos de uma maneira a mostrar os pontos fortes e os baixos de Jenette Vasquez, mas tornando-os pessoas totalmente diferentes dela.

Sinto que o livro poderia muito bem ser uma duologia ou até mesmo ser mais longo. A escrita de Castro é ótima de se acompanhar, mas sinto que havia coisa ainda para se discutir, para desenvolver. Queria ter visto muito mais de Jenette do que vi, mas ainda assim foi interessante ver o mundo por seu olhar e compreender sua forma de agir. Sinto que finalmente Vasquez pode ser a protagonista de sua história e ela merecia esse protagonismo.

Li o ebook em inglês e ele está muito bem diagramado e sem erros de revisão ou diagramação.

Obra e realidade

A melhor parte do livro é, sem dúvida, a primeira parte com Jenette. É comovente, muito antenado nas questões que assolam nosso mundo hoje - como racismo, brutalidade policial, juventude em sistemas prisionais, sexualidade, injustiça reprodutiva, imigração e pobreza. Como Vasquez já é uma personagem que eu conhecia, me vi muito mais ligada a ela do que com seus filhos. Eles definitivamente se desenvolvem depois, mas um enredo sobre Vasquez nos faz pensar que seja sobre a mãe deles.

É um livro que dar muito bem para adaptar para o cinema. Toda a franquia Alien é sobre mulheres combatendo o patriarcado, a ganância das megacorporações, tentando fazer o que é certo e Jenette faz tudo isso neste livro. Há muito mais sobre ela do que vimos em Aliens e acho que este livro consegue suprir uma boa parte dessa carência que ficou desde o lançamento do filme.

V. Castro é uma escritora norte-americana, de origem mexicana. Duas vezes premiada com o Bram Stoker Award, é natural de San Antonio. Fascinada pelo folclore mexicano e pelas lendas urbanas do Texas, atualmente mora no Reino Unido com a família.

Pontos positivos

Jenette Vasquez
Ficção científica
Universo Alien

Pontos negativos

Não tem em português
Alguns arcos carecem de maior desenvolvimento

Título: Aliens: Vasquez
Autora: V. Castro
Editora: Titan Books
Páginas: 436
Ano de lançamento: 2022
Onde comprar: na Amazon!

Avaliação do MS?

Sei que o livro pode desapontar aqueles que esperam ler mais sobre a Jenette Vasquez. Mas consigo entender o que a autora fez aqui, mostrando a questão da linhagem familiar, as soldaderas, a garra de ser uma mulher latina num mundo que não foi feito para ela. E tanto Jenette quanto Leticia têm essa garra, essa vontade de fazer o que é certo, ainda que custe um preço tão alto. Quatro aliens para o livro e uma forte recomendação para você ler também!

Até mais!

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