Lore Olympus foi uma das grandes surpresas do ano! Publicado originalmente como webcomic e finalista de grandes prêmios do mundo dos quadrinhos, nós temos aqui os deuses do Olimpo em uma pegada descolada, atual e moderna, tratando de temas sérios como relacionamentos abusivos, tudo envolvido com mitologia grega de um jeito inovador.
O quadrinho
Perséfone, a jovem Deusa da Primavera, acabou de chegar no Olimpo. Sua super protetora mãe, a deusa Deméter, a criou no mundo mortal e por isso Perséfone não tem aquela malícia necessária para compreender os meandros das divindades. Jovem, bonita, Perséfone recebeu a permissão da mãe de viver no mundo dos deuses enquanto se prepara para ser uma virgem sagrada. Enquanto isso, ela estuda, joga xadrez e faz novas amizades.Sua amiga Ártemis a convida para uma festa e é lá que sua vida muda para sempre: ela conhece Hades, o charmoso, solitário e incompreendido líder do Submundo. As coisas se complicam quando Afrodite, ciumenta que só ela, escuta um comentário que não gosta e resolve complicar a vida da jovem deusa só para espezinhar com Hades. Por sua vez, Hades acaba ajudando Perséfone e os dois se veem pensando um no outro após esse encontro insólito.
Ver deuses do panteão grego interagindo como mortais, mandando mensagens pelo celular, bebendo e trabalhando foi muito interessante de acompanhar. Com uma linguagem acessível e moderna, acompanhamos todos aqueles grandes nomes em uma roupagem moderna, abusando das cores fortes para cada uma das divindades. Cada uma tem traços distintos, bem como sua própria paleta. A escolha das cores aumentou esse ar de modernidade e atualidade para deuses que geralmente vemos em estátuas brancas.
Aqui eles interagem, bebem, comem, fazem piadas, vão a festas, irritam uns aos outros, nada muito diferente do que já faziam na Antiguidade. Acredito, porém, que o maior mérito de Lore Olympus foi tirar aquela sobriedade, aquela seriedade da mitologia e tornar o assunto algo descolado, acessível, algo que apresente os mesmos mitos numa versão moderna, mas ainda tratando dos mesmos dilemas.
Sabemos que na mitologia grega existe muita violência, assédio, abusos, e a autora deixou um aviso muito bem-vindo no começo a respeito. A relação de Perséfone com Apolo, por exemplo, é um bom exemplo. Smythe faz ajustes na história de acordo com o andamento do enredo. Quem conhece a mitologia sabe que Hades raptou Perséfone enquanto ela colhia flores coma as ninfas, enquanto aqui ela vai a uma festa. E apesar de saber como termina o mito dos dois, estou bem curiosa com o andar dessa saga.
Ao mesmo tempo em que Smythe recria personagens clássicos ela quer que seus leitores reflitam sobre ainda temos valores tão antiquados capazes de moldar as relações sociais daquela época até hoje. Continuamos consumindo mitologia, ressignificando os mitos, mas também falta reflexão a respeito. Ao transportar aquele mundo antigo para um mundo moderno a autora consegue enaltecer algumas antiguidades usando os deuses como exemplo.
A graphic novel segue um estilo muito particular de quadros. Ora segue o estilo tradicional, ora inova com grandes cenários ou com recortes nos rostos dos deuses para enaltecer as reações faciais. Tudo isso cria muito movimento pelas páginas de cor intensa, tornando a leitura muito agradável. A tradução de Érico Assis está ótima e o quadrinho não tem problemas de revisão ou de diagramação.
Obra e realidade
Lore Olympus se tornou um fenômeno na internet através do app WebToon, onde Smythe entregava tirinhas semanais aos assinantes. Em 2017 ela começou a desconstruir a mitologia grega através do romance entre Hades e Perséfone pelo aplicativo. Em um mês seu canal já tinha mil assinantes. No final de 2017 o WebToon a convidou a ser uma criadora remunerada do app.Atualmente, Lore Olympus tem mais de 5 milhões de assinantes e uma série animada está em desenvolvimento.
Isso é uma desconstrução.(...) Então, é basicamente olhar para gêneros específicos e meio que distorcê-los um pouco. Gosto do gênero namorado-monstro e há uma trama em que Hades é muito mais velho que Perséfone e, você sabe, é um pouco como “argh”, tipo isso! (...) Em especial com minha personagem Perséfone, ela é uma protagonista muito amorosa. Basicamente a criei dessa forma porque queria que as pessoas se identificassem com ela, especialmente mulheres jovens, pois sinto que se fala muito da “personagem feminina forte” que são muito boas em fazer acrobacias e esfaquear pessoas e salvar as pessoas de sociedades totalitárias e coisas do tipo, o que é muito legal e há sim um espaço pra isso, que é super importante. Mas também acho que precisamos de representação para pessoas mais amáveis, cuja ideia de fazer algo é apenas aprender a como se defender. Coisas assim.
Rachel Smythe
Rachel Smythe é uma quadrinista e folclorista de Wellington, Nova Zelândia.
Pontos positivos
PerséfoneBem escrito
Projeto gráfico
Pontos negativos
Acaba logo!
Avaliação do MS?
Comecei sem saber bem o que esperar e terminei muito feliz e ansiosa pelos próximos volumes. A leitura pode ser feita em um dia, pois ele não é muito extenso, mas o quadrinho é lindo, tanto em conteúdo quando em projeto gráfico. Cheguei ao final torcendo muito por Hades e Perséfone! E o melhor, o segundo volume já foi publicado pela Suma. Cinco aliens para Lore Olympus e uma forte recomendação para você ler também!Até mais!
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