Sabe quando a Amazon oferece ebooks gratuitos por alguma razão e ele acaba encostado no seu Kindle? Esse livro foi um desses casos. Nem sei quando foi que peguei o ebook, mas eu estava numa fila, resolvi sacar o celular e comecei a ler. Para quem curte inteligentes thrillers de investigação, com personagens cativantes, então encontrou um.
O livro
Three Pines é um bucólico vilarejo ao sul de Montreal. É fictício, por isso serve aos propósitos da autora. Nesta pequena vila charmosa conhecemos um elenco inusitado de moradores muito unidos no amor pelas artes e pela aposentadoria. Uma de suas moradoras mais ilustres, Jane Neal, artista tímida que nunca deixou as pessoas entrarem na sua casa além da cozinha, decidiu, finalmente, expôr uma de suas telas na feira local. A reação dos jurados foi bem dividida, uns amaram, outros odiaram. Mas o que ninguém esperava é que Jane fosse encontrada morta no bosque, não muito longe de sua casa.Jane foi atravessada por uma flecha e encontrada por um de seus amigos no meio das folhas de outono. Three Pines está em choque. E é uma cidade assustada que o experiente inspetor-chefe Armand Gamache e sua equipe de investigadores da Sûreté du Québec (tipo a nossa polícia civil) encontram. Como que essa senhora tão gentil, ex-professora aposentada, artista local, acima qualquer suspeita, poderia ter sido morta de tal maneira? Será que os caçadores a confundiram com um cervo e a mataram sem querer? E o principal, onde estava a flecha?
Oscar Wilde dizia que consciência e covardia são a mesma coisa. O que nos impede de fazer coisas terríveis não é nossa consciência, mas o medo de sermos pegos.
Muita gente espera que os thrillers de investigação sejam sangrentos, sombrios, tensos. Então é com certa surpresa que a gente começa a leitura desse livro, porque mesmo com um crime que chocou a comunidade, em nenhum momento o foco é nas feridas, nas descrições vívidas dos ferimentos ou do olhar perdido da vítima. Nós sabemos como ela morreu, a forma do machucado, a arma do crime, mas o foco da autora é na sagacidade de sua equipe de investigação, principalmente Gamache, um tipo muito simpático de policial com o qual é fácil de simpatizar.
O elenco do livro é bem grande e gostei muito de conhecer os moradores de Three Pines, que são bem diferentes entre si, alguns mais calados, outros mais falantes, um ou outro muito suspeito, mas admito que a revelação do verdadeiro assassino me surpreendeu, pois a autora te aponta uma direção e de repente não era nada daquilo. O grupo se pega pensando o tempo todo se realmente há um assassino entre eles e quem pode ser. E o principal, como que ninguém percebeu?
Entre os policiais, a autora destaca, obviamente, o personagem principal, que é Gamache. O veterano inspetor é muito sagaz, muito observador e consegue enxergar conexões enquanto outros policiais mal conseguiram ver. Entretanto, até ele erra de vez em quando e achei ótimo que a autora mostrasse isso, pois isso deixou o inspetor muito real, muito humano. Mas tem horas que ele também irrita. Um exemplo, é seu comportamento com a agente Yvette Nichol, novata da divisão de homicídios, que vive tomando esporro dos policiais ao redor e às vezes sem qualquer razão. O arco dela fica ali meio solto no meio do enredo e acaba não se resolvendo no final. Imagino que no próximo livro da série alguma coisa se resolva.
Foi muito bacana acompanhar um enredo pelo Canadá francês e suas diferenças com o lado inglês. Tem algumas coisas que nos escapam, afinal não é nosso lugar de origem, mas nota-se a diferença, principalmente pela forma como os personagens falam sobre o "lado inglês". A vila de Three Pines também age como um personagem pela forma como a autora descreve a paisagem, as casas, o cotidiano dos moradores abalados pela morte de Jane. Alguns personagens foram bem descritos e chegam a ser intragáveis, mas brutalmente reais também.
Se você espera aquela sensação sufocante dos thrillers de investigação, pode acabar se decepcionando. A autora foca no cotidiano da vila e a forma como ele foi afetado pela morte de Jane. As pistas distribuídas pelo enredo são muito sutis e meio que escapam da nossa percepção para que, no final, a gente se pegue pensando "putz, verdade, né?" Então se você prefere essa discussão, esse ritmo, essa visão mais intimista, pode se jogar sem medo no livro. No fim, quando a gente descobre quem de fato é o assassino, sua preocupação fica com a repercussão na vila e nas pessoas envolvidas na investigação, porque se afeiçoa a eles.
Na verdade, o real mistério é por que as pessoas não cometem mais assassinatos. Deve ser terrível ser humano.
Li o ebook, não o livro físico, mas achei a tradução de Natalia Sahlit. A revisão deixou a desejar com alguns errinhos ao longo da leitura.
Obra e realidade
Os direitos da obra de Louise já foram vendidos tanto para cinema quanto televisão. Still Life: A Three Pines Mystery, filme de 2013, dirigido por Peter Moss, foi baseado neste primeiro livro. Alfred Molina interpretará o inspetor Gamache na série Three Pines, prevista para estrear no Amazon Prime. Aliás, fiquei bem feliz de saber que Molina será o inspetor Gamache e estou ansiosa pela série.Louise Penny é uma escritora canadense de romances de mistério ambientados na província canadense de Quebec. Tornou-se escritora depois dos 40 anos, após uma carreira como locutora de rádio.
Pontos positivos
Inspetor GamacheBem escrito
Three Pines
Pontos negativos
Agente Yvette Nichol
Avaliação do MS?
Comecei a ler sem muita expectativa e no fim não conseguia parar de ler até descobrir quem era o assassino. Adoro livros que me prendem, que me deixam curiosa para chegar ao final, que entrega um enredo que nos cativa. Gamache é um ótimo personagem e com certeza lerei mais livros da série. Quatro aliens para o inspetor Gamache e uma forte recomendação para você ler também!Até mais! 🌲
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