Resenha: Código-Mãe, de Carole Stivers

Eu estava de olho nesse lançamento lá na gringa e fiquei bem feliz quando foi anunciado que ele seria lançado no Brasil, pelo selo Minotauro, da Planeta. Uma epidemia mortal levará cientistas até as últimas consequências na esperança de salvar o que restar da humanidade. Mas a leitura não foi exatamente o que eu esperava.


O livro
Alternando datas de um futuro próximo, final da década de 2040, década de 2050 e começo da década de 2060, sabemos que houve um apocalipse. A autora desfia essas informações aos poucos conforme vamos conhecendo os personagens. Um desses personagens é o coronel Rick Blevins, que tem uma posição burocrática no governo norte-americano, sendo parte dela dar OK em projetos avançados de defesa. E um deles é uma arma biológica perigosa com um composto nanométrico que ataca alvos específicos. A ideia é realizar ataques cirúrgicos sem matar mais ninguém. Blevins deu um parecer negativo ao projeto.

Resenha: Código-Mãe, de Carole Stivers

Conforme acompanhamos isso, pulamos para o futuro e conhecemos Kai. Ele é um garotinho - ainda que fale com um septuagenário vitoriano - criado por uma Mãe no meio do deserto. Essa Mãe é um robô que gestou, deu à luz e criou o garotinho, sendo também sua sentinela e protetora. Chamada por ele de Rosie, os dois vivem sozinhos no meio do nada, indo de um depósito de suprimentos após o outro em busca de comida e água. Essa parte careceu de explicação. Aliás, o livro inteiro carece de profundidade. Até a descrição da Mãe é ruim, o que é uma pena, afinal ela é uma das personagens principais aqui.

De volta ao "presente", descobrimos que uma arma biológica avançada foi liberada, ainda que contrariasse as recomendações de oficiais do governo. Ela foge do controle que eles achavam ter e lentamente passa a se espalhar pela região rural do Afeganistão. Devo dizer que estranhei e muito a apatia dos oficiais conforme eles discutiam isso. Não tem uma exclamação, não tem uma praguejada de um cientista para depois ele retomar seu trabalho de pesquisa.

O principal problema do livro não é a premissa nem a discussão sobre a maternidade. Mas me pareceu que nada nesse livro foi bem desenvolvido. Os personagens são planos, unidimensionais e todos têm a mesma voz. Era até difícil identificar quem estava falando já que a voz deles não muda. Sinto que o livro não passou por uma boa edição, pois isso acontece do começo ao fim. Seja adulto ou criança, todos falam e se comportam do mesmo jeito, sendo mal construídos.

Aí vamos para o segundo problema, que são as crianças. Conhecemos Kai e depois Sela e mais alguns guris ao longo do livro. Criança não fala certinho como um adulto. Criança fala como criança, ainda mais aquelas com menos de dez anos, idades que elas têm no começo da leitura. Todas as crianças aqui se comportam como pequenos lordes aristocráticos britânicos, com uma postura irreal que quebrou a magia, sabe? A gente suspende a descrença para poder viajar na ficção, mas quando começava um capítulo com as crianças a magia se quebrava quando elas começavam a falar. Sem contar os estereótipos: o líder, o ingênuo, a valentona... Dá para aguentar um personagem ou outro mal construído, mas todos?

A leitura passa pelo desenvolvimento dos robôs, as Mães e a preocupação dos cientistas de criar máquinas capazes de criar um ser humano. Não é apenas uma questão de gestar e dar à luz, mas também zelar por sua criação, por sua educação, por ensiná-las alguma coisa. Essa parte, por exemplo, nunca é vista. É mencionava levemente e logo a criança já está bem crescida. Senti que mais detalhes a respeito pudesse dar mais corpo ao livro e em se tratando de um livro sobre uma epidemia lançado em uma pandemia, a questão do trauma foi deixada totalmente de lado. Um composto mortal foi solto e "nossa, coisa horrível" e vida que segue. Gente??

Até mesmo a discussão sobre o tal código-mãe do título não me pareceu completa. Os cientistas trabalham com afinco para descobrir como programar maternidade em robôs. E essa discussão também é feita rapidamente. Tudo no livro me pareceu incompleto, incapaz de gerar as discussões que a autora queria fazer sobre maternidade e tecnologia, e todos os limites entre as duas. O que é uma pena, afinal é um tema legal e seria um livro ótimo se a execução tivesse sido diferente.

A tradução foi de Marcia Blasques e está OK, mas encontrei vários problemas de revisão no ebook.

Obra e realidade
A discussão do livro que é válida é sobre a maternidade. Ela é inata ou ela pode ser programada? Como se programa em um robô, então? Existe algum programa chamado mae.exe capaz de fazer uma máquina cuidar e criar um ser humano? Ou sempre vai faltar algo para que isso aconteça? É interessante ver a posição de Kai e das outras crianças quando contrastadas com a visão que os cientistas têm dos robôs. Para a garotada elas são suas mães, são aquelas que cuidaram, proveram e proteger uma vida inteira, mesmo que curta. Mas para os cientistas é só um equipamento defeituoso, como um computador que a gente formata e reinstala o sistema operacional. Fazer isso com uma delas seria matar a Mãe que está lá? Ou é só mais um sistema?

Carole Stivers

Carole Stivers é uma escritora norte-americana. Bioquímica de formação, Código-Mãe é seu livro de estreia.

Pontos positivos
Kai
Tema interessante

Pontos negativos
Personagens rasos
Desenvolvimento ruim
Final apressado

Título: Código-Mãe
Título original em inglês: The Mother Code
Autora: Carole Stivers
Tradutora: Marcia Blasques
Editora: Planeta Minotauro
Páginas: 288
Ano de lançamento: 2022
Onde comprar: na Amazon!

Avaliação do MS?
É uma pena que a execução de uma ótima ideia tenha sido tão ruim. Sinto que a autora não teve a habilidade necessária para uma gama tão ampla de personagens a ponto de integrar todos eles com o enredo. No fim, a mensagem sobre maternidade se perde e a resolução acaba não satisfazendo. Três aliens para o livro.



Até mais!

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