Poucas pessoas alcançaram o status de símbolo em suas vidas. E Nichelle Nichols alcançou este status. Seu pioneiro papel de Nyota Uhura em Star Trek, sua presença na ponte da Enterprise e seu papel na série como oficial de comunicações inspiraram mulheres negras e mostraram um mundo diferente, um mundo onde elas poderiam ser quem quisessem ser.
Nichols nasceu em 28 de dezembro de 1932, a terceira entre seis filhos. Após sua estréia como atriz no musical de 1961 de Oscar Brown, Kicks & Co., ela passou a trabalhar como modelo. Nos anos anteriores a Star Trek, ela seria vocalista nas bandas de Duke Ellington e Lionel Hampton, além de se apresentar na peça de James Baldwin, Blues for Mister Charlie.
Como Uhura, Nichols foi uma das primeiras mulheres negras a atuar em uma grande série de TV e, inicialmente, ficou tentada a deixar o programa em sua primeira temporada para seguir uma carreira na Broadway. Mas Martin Luther King Jr. a convenceu a permanecer na série, tanto por ser um grande fã quanto por ver Uhura como um modelo para crianças negras nos Estados Unidos.
O impacto da escalação de Nichols em Star Trek e para as mulheres negras em geral, não pode ser subestimado; além de seu pioneiro beijo com James Kirk de William Shatner no episódio “Plato's Stepchildren” sendo citado como o primeiro beijo inter-racial na TV, a astronauta Mae Jemison e a atriz Whoopi Goldberg disseram que Uhura as inspiraram em suas áreas de atuação.
Depois que a série clássica foi cancelada, Nichols continuaria atuando. Ela interpretou Dorienda em Truck Turner, um filme de 1974 estrelado por Isaac Hayes que seria sua primeira e única aparição no gênero. Ela também fez dublagem, interpretando a si mesma no episódio de Futurama “Where No Fan Has Gone Before”, além de estar em Os Gárgulas como a mãe de Elisa Maza. Também teve uma curta carreira solo na música, lançando dois álbuns em 1967 e 1991, o último dos quais foi baseado em Star Trek e exploração espacial. Ela cantaria em dois episódios do programa – “Charlie X” de 1966 e “The Conscience of the King”.
Nichols também criou o programa da NASA, Women in Motion, feito para recrutar mulheres em especial de minorias para o programa espacial. Os recrutas desse programa incluíam Sally Ride, a primeira mulher astronauta, e o coronel da Força Aérea Guion Bluford, o primeiro astronauta afro-americano. Junto do elenco de Star Trek ela esteve presente no comissionamento do Enterprise, o primeiro ônibus espacial, em 1976, e ainda voou a bordo da aeronave SOFIA da NASA em 2015.
Mesmo hoje, a presença de negros, LGTBs e mulheres na televisão norte-americana é limitada. Seus papéis costumam ter menor relevância e falas, um problema que vai desde a televisão, seguindo para o teatro e para o cinema. Então quando olhamos para o pioneirismo de Uhura em plenos anos 1960, em uma posição de comando, na ponte de uma nave estelar, é possível perceber a importância do evento. A atriz transcendeu o papel de Uhura, tornando-se um símbolo que até mesmo Marthin Luther King tão sabiamente percebeu.
Oficiais negros nas Forças Armadas ainda são raros, mesmo nos dias de hoje. Desde a estreia de Star Trek em 1966, levou dezoito anos para uma mulher negra alcançar o posto de general do Exército dos Estados Unidos, a general Sherian Cadoria, comissionada em 1985. E em 1998, a Marinha norte-americana promoveu Lillian Fishburne ao posto de Contra-Almirante, a primeira mulher negra no cargo.
Em uma embarcação, missão militar (ou nave espacial), o cargo de Oficial/Operador de Comunicações é vital. Pergunte a qualquer membro militar da ativa ou veterano de qualquer serviço em todo o mundo e eles darão uma resposta semelhante. Seja coordenando uma evacuação, uma torre coordenando chegadas e partidas de aeronaves, a falta de comunicação entre uma tropa e seu comando pode ser fatal. Ou uma nave da Frota Estelar contra uma nave romulana.
Parte do trabalho de um oficial de comunicações é o de operar os sistemas da nave, de compreender seu funcionamento. Além disso, Uhura também era proficiente em idiomas alienígenas, para manter os oficiais da ponte informados. Poliglota, analista de inteligência, analista de sistemas e quando necessário operadora do leme e até oficial de ciências. São tantas as atribuições que podemos considerar Uhura uma das mais importantes oficiais na ponte da Enterprise.
Nichelle Nichols nos deixou em 30 de julho de 2022. Mas tornou-se um símbolo para milhões de pessoas, uma embaixadora para um futuro melhor e inclusivo. E um símbolo não se apaga.
Vida longa e próspera! 🖖
Comentários
Postar um comentário
ANTES DE COMENTAR:
Comentários anônimos, com Desconhecido ou Unknown no lugar do nome, em caixa alta, incompreensíveis ou com ofensas serão excluídos.
O mesmo vale para comentários:
- ofensivos e com ameaças;
- preconceituosos;
- misóginos;
- homo/lesbo/bi/transfóbicos;
- com palavrões e palavras de baixo calão;
- reaças.
A área de comentários não é a casa da mãe Joana, então tenha respeito, especialmente se for discordar do coleguinha. A autora não se responsabiliza por opiniões emitidas nos comentários. Essas opiniões não refletem necessariamente as da autoria do blog.