Resenha: Teste de Rorschach - A Origem, de Damion Searls

Este livro é misto de biografia, estudos científicos e curiosidades, com a própria sinopse da DarkSide diz. Damion Searls mistura os três estilos para contar a origem do famoso e incompreendido teste com manchas de tinta que figura em tantos filmes, séries e livros, principalmente aqueles sobre crimes. Como que um teste com manchas de tinta pode identificar o que quer que seja? O que elas dizem sobre nossa própria mente?


Parceria Momentum Saga e
editora DarkSide


O livro
Hermann Rorschach (1884-1922), psiquiatra suíço, teve uma vida bastante curta, mas deixou um legado longevo na psiquiatria e psicologia com seu famoso teste de manchas de tinta. Você já deve ter visto essas imagens por aí, onde um profissional pergunta ao paciente o que ele vê na mancha de tinta impressa em um cartão. Até mesmo Suzane Richthofen passou por ele na cadeia. Mas como e por que ele surgiu? Por que divide a opinião entre especialistas até hoje? É o que Damion busca responder neste livro.

Resenha: Teste de Rorschach - A Origem, de Damion Searls


Aluno de Eugen Bleuler e Carl Jung, Rorschach se formou em uma época em que havia uma febre por testes psicológicos. Filho de um artista, ele mesmo já mostrava gosto pela pintura, tendo predileção pela arte modernista, o que acabou moldando suas ideias sobre o poder que as imagens visuais têm de revelar a personalidade e de como a cultura pode moldar a percepção. Lá em cima escrevi que o livro é tanto uma biografia de Rorschach, quanto um estudo científico e psicanalítico e também um compêndio de curiosidades e crônicas a respeito do teste das manchas de tinta. Enquanto a vida de Rorschach foi bastante curta, seu teste foi bastante longevo, ainda que não esteja isento de críticas.

O que é o teste em si? São manchas de tinta simétricas impressas em cartões. Ela é uma técnica de avaliação psicológica baseada na interpretação que o paciente faz de uma série de dez imagens que mostram manchas de tinta. A ideia é trazer à tona influências inconscientes e traçar a personalidade do indivíduo. O analista não apenas presta atenção às respostas do analisado, mas também sua resposta ao movimento, às cores e as formas das manchas.

Teste de Rorschach


Enquanto Freud tentava mergulhar no id de ricas matronas vienenses, Rorschach acreditava que o que nós vemos é mais importante do que aquilo que falamos ao analisar a psique humana. Porque um paciente pode falar de maneira a enganar seu médico, dizendo coisas que ele queira ouvir, mas falar abertamente sobre uma inocente mancha de tinta poderia revelar traços profundos do inconsciente de uma pessoa.

E os primeiros resultados o animaram em um primeiro momento. Pacientes esquizofrênicos responderam de uma maneira diferente aos cartões manchados do que os pacientes maníaco-depressivos. E os dois grupos também responderam de maneira diferente aos grupos tidos "normais" que Rorschach adotou para controle. Conforme se animava com os resultados, ele passou a aplicar os cartões em cada vez mais pacientes de forma a diagnosticar doenças psiquiátricas e a prescrever tratamentos que considerava corretos.

O teste foi aplicado milhões de vezes em uma gama infindável de finalidades. De batalhas pela custódia de crianças e análises de psicopatas até a nazistas em julgamento em Nuremberg. Porém, Rorschach nunca explicou como e porque seu teste funcionava, ainda que vários psicanalistas estivessem aplicando o teste ao longo dos anos.

O que você faz - na verdade, tudo o que você faz - expressa quem você é. Suas ações revelam não tanto o conteúdo de seu caráter, mas sua personalidade; não a conformidade com virtudes morais reconhecidas, mas como você se destaca por ser único e especial.

Página 249

Vencer a primeira parte do livro foi difícil, admito. É um trabalho detalhista e bem pesquisado, ainda que árido em vários momentos. Intercalando fatos da vida de Rorschach com sua técnica para a criação das manchas e sua aplicação, o ritmo pode ser bem lento em um primeiro momento. Há relatos de correspondências além dos passos que levaram à criação das famosas manchas. Mesmo um público leigo em psicologia vai conseguir acompanhar tudo sem tropeçar, mas o ritmo da leitura pode ser lento e isso pode incomodar aqueles que buscam algo mais ágil. Porém, sinto que não tinha como ser diferente.

Com um tom quase enciclopédico para juntar fatos relacionados às manchas de tinta, sinto que faltou a perspectiva de pacientes impactos por elas. Não que ele não mencione, mas sinto que foi superficial. Poderia ter sido melhor trabalhado. Acredito que ele quis focar nos dados e fatos sobre o teste em si, o que acabou deixando pacientes de fora. Em uma maneira de não impactar as informações, aquelas mais importantes - as pessoas - não tiveram tanto peso assim no livro.

Com o capricho da editora DarkSide, o livro se apresenta em capa dura e papel amarelo. Com um excelente trabalho gráfico no miolo, o livro peca pela revisão. A tradução de Cláudia Mello Belhassof está ótima. Vem com o já famoso fitilho marca-página e se você comprar no site da editora vem com postais com algumas das manchas do teste.


Obra e realidade
A primeira vez que vi um teste de Rorschach foi, curiosamente, em um filme do Batman. Em Batman Eternamente, Bruce Wayne vai até o consultório da psiquiatra Chase Meridian. Ele então vê um quadro e pergunta para ela o que ela tem com morcegos. E a psiquiatra responde: isso é uma mancha de tinta; a resposta deveria ser o que você tem a ver com morcegos.

A autor menciona vários casos do uso das manchas na cultura pop. Depois que um médico canadense subiu as imagens online, elas começaram a aparecer em canecas, camisetas, cadernos e muita gente temeu que se as pessoas soubessem como as imagens eram, elas poderiam trapacear na hora de um teste. Mas uma coisa é estar exposta às manchas, a outra é passar pelo teste. Não é apenas a mancha, mas todo um conjunto de reações que um psicanalista terá que analisar.

Tem um episódio em Stargate SG-1 em que Vala Mal Doran passa pelo teste. Queriam saber se ela seria uma adição valiosa à equipe da Montanha Cheyenne. Ela então entrou na internet e pesquisou as respostas dadas às imagens e quando o psicanalista foi aplicar as manchas logo percebeu que ela tinha treinado para a sessão. Ou seja, não é assim tão simples ludibriar aquele que analisa.

Damion Searls

Damion Searls é um escritor, jornalista e tradutor norte-americano.

Nenhum argumento, nenhum teste, técnica ou truque vai contornar o fato de que pessoas diferentes experimentam o mundo de formas diferentes. São essas diferenças que nos tornam seres humanos, não máquinas.

Página 414


Pontos positivos
Muitos fatos e dados
Bem escrito
Fotos e ilustrações
Pontos negativos

Erros de revisão
Pode ser bem lento


Título: Teste de Rorschach - A Origem
Título original em inglês: Inkblots
Autor: Damion Searls
Tradutora: Cláudia Mello Belhassof
Editora: DarkSide (selo Crime Scene)
Páginas: 496
Ano de lançamento: 2021
Onde comprar: na Amazon ou na loja da DarkSide com um brinde exclusivo!


Avaliação do MS?
É um livro um tanto chato de ler, admito, mas o tema é muito interessante, então é fácil relevar a narrativa, os dados e fatos apresentados, mesmo quando eles parecem inúteis à proposta original. Rorschach teve uma vida muito breve, deixando muito material para ser analisado e acho que o autor conseguiu analisar e narrar sua jornada e a de seu teste de maneira bastante competente. Quatro aliens para o livro e uma forte recomendação para você ler também!




Até mais!


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