Resenha: Queen of Kings, de Maria Dahvana Headley

Se você é fã de romances históricos, de histórias sobrenaturais e de vampiros, então acabou de achar um livro que cabe perfeitamente em todas essas categorias. Livro de estreia de Maria Dahvana Headley (autora de Magônia), Queen of Kings reinventa o mito da rainha Cleópatra, fazendo a personagem renascer e partir em busca de vingança sobre aqueles que tiraram o amor de sua vida, seus filhos e seu país!


O livro
Cleópatra apostou alto e está prestes a perder tudo pelo o que tanto lutou. Os romanos estão às portas de Alexandria. Marco Antônio está em algum lugar da cidade, boatos correm pelas ruas e vielas, e o Egito está prestes a se tornar uma província de Roma. Como proteger sua coroa e seu povo? O que ela pode fazer agora em que tudo está ruindo?

Resenha: Queen of Kings, de Maria Dahvana Headley


Quando percebeu que sua guerra contra Roma estava fadada ao fracasso, Cleópatra pediu ajuda aos sacerdotes e estudiosos. Ela queria um feitiço, um poderoso o suficiente para invocar um deus antigo, alguém capaz de lhe dar a força necessária para defender seu reino. Um dos sacerdotes, porém, um egípcio, se negou a ajudar a rainha a ler e traduzir o que estava escrito. Para ele, o feitiço nem deveria existir, deveria ter sido destruído. Mas quem disse que a rainha queria ouvir? Ela mandou executar o sacerdote e pediu que um estudioso fluente em egípcio antigo traduzisse a invocação. Ela se aliaria à deusa Sekhmet, que lhe daria os meios de vencer aquele conflito.

O que Cleópatra não sabia é que o feitiço estava incompleto e mal traduzido. A invocação traz de volta uma deusa voraz e feral, um ser perigoso e antigo. Sekhmet era a deusa com cabeça de leoa, protetora dos faraós, deusa da guerra. Conhecida como Senhora do Massacre, Sekhmet é a garantia de Cleópatra de reconquistar seu reino e sua coroa, ameaçados por Otaviano. O que ela não sabe, porém, é que Sekhmet quer muito mais do que uma oferenda. Ela possuí o corpo da rainha e a transforma em um ser mortal, capaz de beber sangue e mudar de forma como bem entender. Está solta então uma fera que Otaviano sabe ser incapaz de derrotar apenas com as armas de suas legiões.

A autora brilhantemente colocou magia em um enredo com um contexto histórico muito preciso. Foi muito interessante ler uma versão diferente daquela que já conhecemos, uma que enaltece a magia egípcia, que mostra a profunda devoção da rainha para com seu povo. A história de Cleópatra é longa e complicada, culminando com a invasão de Alexandria, a tomada do país pelos romanos e sua morte e de Marco Antônio para que não fossem capturados. Ela foi de fato a última governante do Egito.

O título do livro também tem contexto histórico. Em 34 d.C., Marco Antônio marchou sobre a Armênia depois que um pedido de aliança de casamento entre seu filho com Cleópatra e a filha do rei Artavasdes II foi negado. Ele capturou o rei e a família real e depois entrou em Alexandria com toda a pompa militar que Roma conhecia, vestido como o deus Dionísio em uma biga, apresentando os prisioneiros reais a Cleópatra, sentada em um trono de ouro. Em um evento no ginásio da cidade, após a parada espalhafatosa, Cleópatra, vestida como a deusa Ísis, se declarou A Rainha dos Reis (Queen of Kings) e nomeado seu filho Cesarion, fruto de sua relação com Júlio César, como Rei dos Reis. Ela também declarou seus filhos com Marco Antônio: Alexandre Hélios rei da Armênia, da Média e da Pártia, Ptolomeu Filadélfos, de apenas 2 anos, rei da Síria e da Cilícia e Cleópatra Selene II ganou Creta e Cirene de presente para governar.

Há mais de um caminho para a imortalidade.

(tradução livre)

O livro poderia muito bem cair nos clichês de livros de vampiros, mas a autora lida aqui com a luta intensa de Cleópatra e o que ainda lhe resta de humanidade, contra o domínio da deusa violenta que reside dentro dela. Sekhmet é sedenta por sangue e violência, mas a rainha luta contra esse desejo constantemente. Ela precisa focar em sua busca por vingança e não liberar uma fera sobre o mundo. A fera, ela sabe, é Otaviano, que levou seus filhos embora, tornou seu país uma província e foi o culpado por todas as desgraças que desabaram sobre sua vida.

Cleópatra não quer se render ao poder da deusa e há uma luta interna constante na narrativa. Aliás, há uma luta interna em todos os personagens. Há aqueles, como o general Agripa, que não se convence de que Cleópatra está viva, mas ainda assim acata às ordens de Otaviano. Este, por sua vez, se borra de medo só de pensar na possibilidade de se encontrar com Cleópatra, porque sabe que ela está furiosa. Ele inclusive pede que Agripa encontre bruxas, sacerdotes, magos, pessoas que possuam o poder necessário para derrotar a rainha, pois sabe que sua vida está em risco.

Li o ebook em inglês, mas para a nossa alegria, o livro foi traduzido para o português! A rainha dos reis saiu pela Record em 2013. Não sei como escapou do meu radar literário, pois amo enredos que se passem no Antigo Egito. Às vezes o livro perde um pouco de ritmo, mas adorei a forma como a autora misturou fatos históricos com vampiros, deusas, magia e bruxaria. E é o primeiro de uma trilogia, porém não encontrei informações sobre os outros títulos.


Obra e realidade
Devo dizer que todo o enredo é bem criativo ao colocar a rainha Cleópatra como protagonista de uma história de magia e de horror, mas que também tem um contexto histórico. Tudo acaba parecendo muito verossímil dessa maneira. Cleópatra de fato entrou em guerra contra Roma, ao lado de Marco Antônio. A história de Cleópatra com Roma era longa, incluindo uma batalha pelo trono contra seu irmão. Ela se aliou a Júlio César para conseguir o trono e causou um rebuliço em Roma, digna de uma superstar.

Me incomoda muito o fato de Cleópatra vir de uma família de conquistadores, por ter mandado matar a própria irmã, porém ela tem seus méritos. Foi a única rainha ptolomaica a aprender o dialeto egípcio e peitou o maior império do mundo na época para defender seu povo. Questiono suas decisões no final, mas aquele era um outro mundo. Não dá para julgar.


Maria Dahvana Headley

Maria Dahvana Headley é uma escritora, memorialista, editora, tradutora, poeta e dramaturga norte-americana. Ganhadora de vários prêmios, inclusive o Hugo Awards


Pontos positivos
Cleópatra
Universo bem construído
Deusa Sekhmet
Pontos negativos

Pode ser meio lento


Título: Queen of Kings
Título em português: A rainha dos reis (2013)
Autora: Maria Dahvana Headley
Editora: Berkley
Ano: 2011
Páginas: 414
Onde comprar: na Amazon!


Avaliação do MS?
Foi uma leitura muito proveitosa. Amei acompanhar essa Cleópatra sobrenatural, possuída, lutando para não se transformar completamente e perder sua humanidade. E fica aquela questão: ela estava errada em buscar vingança depois de tudo o que aconteceu? Quem faria diferente? Quatro aliens e uma forte recomendação para você ler também!




Até mais! 👑


Já que você chegou aqui...

Comentários

  1. Oi Sybylla! Realmente a história da Cleópatra é muito rica (e complexa), achei uma ótima ideia da autora usá-la como parte da premissa do livro. Não sou super ligada em livros de vampiro, mas fiquei bem curiosa a respeito da Senhora do Massacre. :)

    Beijo :*
    Não Me Mande Flores

    ResponderExcluir

Postar um comentário

ANTES DE COMENTAR:

Comentários anônimos, com Desconhecido ou Unknown no lugar do nome, em caixa alta, incompreensíveis ou com ofensas serão excluídos.

O mesmo vale para comentários:

- ofensivos e com ameaças;
- preconceituosos;
- misóginos;
- homo/lesbo/bi/transfóbicos;
- com palavrões e palavras de baixo calão;
- reaças.

A área de comentários não é a casa da mãe Joana, então tenha respeito, especialmente se for discordar do coleguinha. A autora não se responsabiliza por opiniões emitidas nos comentários. Essas opiniões não refletem necessariamente as da autoria do blog.

Form for Contact Page (Do not remove)