Se os aliens entrarem em contato, nós vamos entender a mensagem?

Uma das grandes incógnitas (e desejo, por que não?) da ciência é se um dia receberemos uma mensagem de uma civilização alienígena. Alguns acreditam que eles já estiveram aqui, ou que ainda estão por aqui, mas provas mesmo de contato, nenhuma. A questão é que se eles realmente mandarem uma mensagem, é bem provável que a gente nem entenda.

Se os aliens entrarem em contato, nós vamos entender a mensagem?

Ficção científica trabalha muito com contatos alienígenas, em geral, sendo catastróficos para nós. Conte aí quantos títulos você conhece de contato alienígena em que a gente se deu mal? Um monte, certo? Dentro da FC, o contato com os aliens costuma ser uma crise, onde há muito tiro, porrada e bomba, com os aliens em busca de nossos recursos. A figura do alienígena que invade nada mais é do que uma ansiedade com relação a tudo o que é diferente. Mas se tem uma coisa que Star Trek e A Chegada nos mostraram é que sim, o outro pode ser estranho e diferente de você, o que não quer dizer que você não deva tentar conversar com ele.

Entretanto, na fria realidade, a coisa pode ser bem diferente. Temos uma tendência a ver a vida inteligente fora da Terra como sendo semelhante à nossa. Buscamos sinais alienígenas que tenham uma base também semelhante à nossa. E se tem uma coisa que a vida na Terra nos provou é que a vida pode vir em várias formas e em vários ambientes. Há vida em torno das fumarolas oceânicas e nas fossas abissais. Há vida no buraco mais profundo já perfurado na crosta terrestre. Se há vida inteligente lá fora, quem foi que disse que ela será parecida com a gente?

Stanisław Lem, escritor e filósofo polonês, autor de Solaris, era bem categórico a respeito. Nós provavelmente nunca seremos capazes de compreender uma mensagem alienígena. Em seu livro His Master's Voice, de 1968, o autor fala sobre um mega projeto, no estilo Projeto Manhattan, que tentava decifrar uma mensagem extraterrestre. Para o autor, existem muitas barreiras para que a comunicação se dê entre humanos e aliens. As duas principais são a da linguagem e da inteligência.

No que se refere à linguagem, Lem enumera uma série de problemas que dificultarão a compreensão da mensagem. Para começar, não teremos nenhum ponto de referência para a linguagem. É possível traduzir frases em qualquer idioma na Terra porque temos semelhanças culturais e biológicas. Compartilhamos referências e eventos que são os mesmos em todas as culturas. Linguagem requer pontos de referência que serão compartilhados entre os interlocutores. E mesmo com todas as referências e eventos semelhantes, ainda entendemos as coisas errado e temos nuances que dificultam a comunicação entre humanos.

O que aconteceria com aliens radicalmente diferentes, sem os mesmos referenciais? Um planeta constantemente iluminado por sua estrela não terá noção de dia e noite. Espécies alienígenas que não tenham família nuclear não compreenderão a presença de avós, tios, primos. Aliens que se organizem em uma mente coletiva jamais entenderão a questão da individualidade humana. Percebe até onde isso vai?

Mas e a matemática? Seria o caminho mais lógico, não seria? Afinal as leis da física são constantes no universo e a matemática é uma linguagem universal. Lem também achava que não seria uma boa.

(...) com a matemática não se pode dizer nada sobre o mundo – ela é chamada de ❛pura❜ porque foi despida de todo o seu resíduo material, e sua pureza absoluta é sua imortalidade. Mas é justamente aí que reside sua arbitrariedade, pois ela pode gerar qualquer tipo de mundo, desde que esse mundo seja consistente.

(...) vamos supor que eles nos mandem um hexágono. Nele pode-se ver o plano de uma molécula química, ou de um favo de mel ou de um edifício. Um número infinito de objetos corresponde a essa informação geométrica.

His Master's Voice

Para sair das abstrações matemáticas será necessário o uso da linguagem e aí a gente volta para os problemas citados antes. Mas OK, vamos supor que APESAR DE TUDO, conseguimos ler a tal da mensagem. Lem argumenta que isso resolve apenas metade do problema. Esses alienígenas podem estar além do nosso intelecto e da nossa compreensão. Imagine tentar se comunicar com alguns dos seres mais inteligentes aqui da Terra como os golfinhos e os polvos. É tarefa de uma vida inteira e ainda assim pode não ser possível. Eu mal consigo fazer meus gatos entenderem que eles não podem ir ao quintal à noite, quanto mais falar de temas complexos!

Isso me lembra Piquenique na Estrada, dos irmãos Strugástki, onde os aliens usaram a Terra como aterro sanitário, deixando para trás uma série de equipamentos e elementos desconhecidos. É bem possível que os seres humanos estivessem batendo pregos com telescópios sem saber, já que não havia correspondência entre aqueles objetos com qualquer coisa que conhecemos.

E surge aqui o outro problema, relacionado à inteligência. Pode existir um imenso abismo evolutivo e tecnológico entre nossas civilizações. A mensagem pode vir de uma espécie alienígena que esteja cinco mil anos à frente da nossa. E aí, como decifrar esse conteúdo? Imagine que você mande uma carta para os fenícios agradecendo pela invenção do alfabeto e mostrando como ele é estudado e como evoluiu ao longo dos milhares de anos. Os fenícios não conseguirão compreender o conteúdo da mensagem, pois não possuem o conhecimento cognitivo e do alfabeto utilizados nela. Uma civilização alienígena que seja 100 mil anos mais velha que a nossa também nos enviará algo indecifrável.

Acredito que a vida inteligente fora da Terra exista, mas ela é muito rara. Vamos supor que exista uma espécie inteligente por galáxia. Teríamos trilhões de espécies inteligentes pelo universo incapazes de trocar um simples OLAR devido à distância de uma galáxia da outra. Acho ótimos que estejamos olhando para o céu e rastreando estrelas, encontrando e estudando exoplanetas, porém não acredito que uma mensagem alienígena chegue até nós. Até porque se ela chegar, nós nem vamos entender mesmo.
Até mais!

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Comentários

  1. E talvez eles não consigam decifrar nossas ondas de rádio vagando por aí... o que pode até ser uma vantagem. Mas muito bom o texto, realmente um simples "olá, terráqueos" levaria anos e anos para ser compreendido por aqui.

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