Muita gente considera que Mary Shelley é a pioneira da ficção científica. Seu romance gótico Frankenstein, considerado por muitos apenas como um livro de horror, é também uma história de ficção científica, um enredo onde uma inteligência artificial é fabricada com partes de cadáveres e animada por uma corrente elétrica. Mas há quem diga que ela não foi a pioneira. Voltaire seria o primeiro escritor de ficção científica moderna.
A questão é mais complicada que isso. Vai depender do que você considera ficção científica. Muitos consideram que Voltaire é o pai da ficção científica por causa de seu conto de 1752, chamado "Micrômegas". Nele um alienígena de Saturno e um alienígena de Sirius exploram a Terra. Mas eles são gigantescos e não conseguem encontrar formar de vida porque uma baleia para eles é do tamanho de uma pulga. Eis então que eles se deparam com uma embarcação cheia de gente, de coisas vivas e acabam fazendo contato com elas. "Micrômegas" é, basicamente, uma história de primeiro contato.
"Micrômegas" foi escrito por influência de As Viagens de Gulliver, de Jonathan Swift que Voltaire leu em Londres. Aliás, há quem considere que a história de Swift é o primeiro livro de ficção científica e não "Micrômegas". A história de Voltaire não envolve tecnologia alguma. É uma ficção científica baseada em percepções sociais, em contato. Se alguém considerar a ficção científica como dependente da tecnologia, então Frankenstein acaba se destacando. Mas se você considerar a presença de alienígenas e cenas de primeiro contato, elementos bem conhecidos de FC, então o conto de Voltaire acaba se sobressaindo.
E é isso que pega para muita gente, porque não há uma resposta única para quem foi o primeiro escritor de ficção científica. Se ampliarmos cada vez mais o gênero, até mesmo Luciano de Samósata, lá no século II seria um. E há quem ache que seja mesmo, como o escritor, professor e pesquisador Adam Roberts. Em "Uma História Verdadeira", Luciano relata uma fantástica viagem à Lua, fala sobre a existência de vida extraterrestre e antecipa outros temas popularizados durante o século XX pela ficção científica.
A forma como vemos a literatura muda de acordo com o momento histórico que estamos vivendo. Pode ser que daqui 200 anos, tudo o que está sendo produzido em ficção científica hoje seja considerado proto ficção científica ou apenas uma ficção especulativa. Não há como saber, nem ao menos prever o que virá no futuro, assim como não temos como saber qual era a intenção original dos autores quando escrever As Viagens de Gulliver, "Micrômegas", "Uma História Verdadeira" ou Frankenstein.
É um pouco injusto julgar os enredos com base em nossa atual percepção literária. É possível cometer erros de julgamento como achar que tal personagem é feminista com base no que hoje nós sabemos sobre feminismo. Acho importante sim discutir e saber sobre autores e seus trabalhos pioneiros, mas bater o martelo e definir o que é ou não o começo acaba obliterando a coisa que é mais importante: a jornada.
Muitos autores já concorreram ao título de Pioneiro da Ficção Científica. Mas acho que o mais importante é debater. Debater para conhecer, para falar a respeito, para ler e espalhar o gênero e não para definir e fechar a discussão. É nas discussões que a ficção científica cresce e acaba ganhando força e mais leitores, que é o que gente deveria querer e pelo qual lutar.
Até mais!
A questão é mais complicada que isso. Vai depender do que você considera ficção científica. Muitos consideram que Voltaire é o pai da ficção científica por causa de seu conto de 1752, chamado "Micrômegas". Nele um alienígena de Saturno e um alienígena de Sirius exploram a Terra. Mas eles são gigantescos e não conseguem encontrar formar de vida porque uma baleia para eles é do tamanho de uma pulga. Eis então que eles se deparam com uma embarcação cheia de gente, de coisas vivas e acabam fazendo contato com elas. "Micrômegas" é, basicamente, uma história de primeiro contato.
"Micrômegas" foi escrito por influência de As Viagens de Gulliver, de Jonathan Swift que Voltaire leu em Londres. Aliás, há quem considere que a história de Swift é o primeiro livro de ficção científica e não "Micrômegas". A história de Voltaire não envolve tecnologia alguma. É uma ficção científica baseada em percepções sociais, em contato. Se alguém considerar a ficção científica como dependente da tecnologia, então Frankenstein acaba se destacando. Mas se você considerar a presença de alienígenas e cenas de primeiro contato, elementos bem conhecidos de FC, então o conto de Voltaire acaba se sobressaindo.
E é isso que pega para muita gente, porque não há uma resposta única para quem foi o primeiro escritor de ficção científica. Se ampliarmos cada vez mais o gênero, até mesmo Luciano de Samósata, lá no século II seria um. E há quem ache que seja mesmo, como o escritor, professor e pesquisador Adam Roberts. Em "Uma História Verdadeira", Luciano relata uma fantástica viagem à Lua, fala sobre a existência de vida extraterrestre e antecipa outros temas popularizados durante o século XX pela ficção científica.
A forma como vemos a literatura muda de acordo com o momento histórico que estamos vivendo. Pode ser que daqui 200 anos, tudo o que está sendo produzido em ficção científica hoje seja considerado proto ficção científica ou apenas uma ficção especulativa. Não há como saber, nem ao menos prever o que virá no futuro, assim como não temos como saber qual era a intenção original dos autores quando escrever As Viagens de Gulliver, "Micrômegas", "Uma História Verdadeira" ou Frankenstein.
É um pouco injusto julgar os enredos com base em nossa atual percepção literária. É possível cometer erros de julgamento como achar que tal personagem é feminista com base no que hoje nós sabemos sobre feminismo. Acho importante sim discutir e saber sobre autores e seus trabalhos pioneiros, mas bater o martelo e definir o que é ou não o começo acaba obliterando a coisa que é mais importante: a jornada.
Muitos autores já concorreram ao título de Pioneiro da Ficção Científica. Mas acho que o mais importante é debater. Debater para conhecer, para falar a respeito, para ler e espalhar o gênero e não para definir e fechar a discussão. É nas discussões que a ficção científica cresce e acaba ganhando força e mais leitores, que é o que gente deveria querer e pelo qual lutar.
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