Os planetas anões

O assunto gera polêmica até entre os astrônomos e cientistas planetários. Após descobertas bastante interessantes de corpos celestes além de Plutão, a velha classificação que aprendemos na escola acabou. Plutão foi rebaixado de planeta para planeta anão e ganhou a companhia de Éris e Ceres. Em seguida, mais dois corpos entraram para a lista. Haumea e Makemake.

Planetas anões em comparação com a Terra.

Mas o que é um planeta anão? São corpos celestes menores que um planeta comum. Um planeta como a Terra, por exemplo, tem uma órbita desimpedida, ou seja, ele é capaz de limpar seu caminho ao redor do Sol seja pela força da gravidade, seja por colisões. Os planetas anões são menores e não são capazes de capturar esses objetos e acabam dividindo suas órbitas com outros corpos semelhantes, mesmo que tenha gravidade suficiente para ser um corpo estelar relativamente esférico, o que o diferencia de grandes meteoritos.





Até o momento, no nosso sistema solar, são cinco planetas anões do tipo plutoide:

PLUTÃO
Talvez o planeta anão mais conhecido seja Plutão, considerado planeta até 2006, quando a descoberta de corpos semelhantes e até maiores gerou todo o questionamento sobre sua classificação. Ele é um objeto do Cinturão de Kuiper, uma área repleta de corpos celestes depois de Netuno. É possível que Plutão tenha sido capturado pela gravidade de Netuno, o que gerou sua órbita bem irregular. Se pudéssemos pousar um dia em sua superfície gelada, provavelmente veríamos algo parecido com a imagem abaixo. O Sol, distante e Caronte, um corpo quase do tamanho de Plutão que divide sua órbita.

Visão hipotética do Sol da superfície de Plutão.

Plutão ganhou o nome do deus do submundo, cujo equivalente grego era Hades. Além de Caronte, mais dois satélites naturais dividem o espaço com Caronte, Nix e Hidra, descobertas em 2005. As mitologias japonesa, chinesa e coreana deram-lhe o nome de estrela rei do submundo (冥王星). Ele leva 248 anos para completar uma órbita ao redor do Sol e quando comparado com os outros planetas que possuem órbitas quase planas, Plutão orbita bastante inclinado e com grande excentricidade, ora estando perto do Sol, ora estando perto de Netuno. Enquanto a Terra leva 24 hs para completar uma volta em torno de seu eixo, ele leva mais de 6 dias. Ainda não existem imagens diretas de Plutão devido sua distância, mas em 2015 a sonda New Horizons deve chegar até ele e quem sabe elucidar seu mistério.

ÉRIS
Éris era a deusa grega da discórdia, indiretamente culpada pela Guerra de Tróia. O planeta anão ganhou esse nome de propósito, tamanha discussão que ele causou quando foi descoberto. A deusa sempre acompanhava Ares (Marte) nas guerras e assim que ele ia embora, Éris ficava no lugar, curtindo a carnificina.

Seu nome completo é 136199 Eris, sendo possivelmente maior que Plutão e foi sua descoberta que fez os astrônomos reclassificarem os planetas. Ele leva cerca de 560 anos para completar uma órbita ao redor do Sol que é excêntrica como Plutão. Ainda não se tem muitas notícias sobre ele, tamanha a distância em que ele se encontra. Sequer uma imagem clara e nítida se tem dele.

Distância de Éris de Plutão e do restante dos planetas do sistema solar

CERES
Ele não se encontra no cinturão de Kuiper e sim no cinturão de asteróides entre Marte e Júpiter. Mesmo sendo tão próximo à Terra, não se tem muitas informações sobre ele. Sabe-se que ele tem cerca de 950 km de diâmetro e é bastante denso.

Ceres é na mitologia romana a deusa das colheitas, cujo equivalente grego é Deméter. Também era a deusa do amor maternal. Era a matrona de todos os grãos, tanto que cereais é derivado de seu nome e como a cerveja é derivada de um grão, o levedo responsável pela fermentação da mesma recebeu o nome de Saccharomyses cerevisiae.

Por muito tempo ele foi classificado como um asteróide, mas a polêmica em torno de Plutão e Éris foi tanta, que a classificação foi refeita e ele se tornou um planeta anão. Ao que tudo indica, ele não tem a mesma origem dos asteróides com quem divide órbita no cinturão. Estima-se que ele seja um bom lugar para ocupação humana no futuro, pois possui gelo, para produção de água potável e recebe luz solar suficiente para a geração de energia.

HAUMEA (ATÉGINA)
Outro habitante do Cinturão de Kuiper, também cercado de polêmica. Primeiro, sua forma alongada, pouco semelhante a um planeta. Depois sua rápida rotação e por fim seu albedo altíssimo, causado pelo gelo em sua superfície.

Existe uma polêmica também por causa do nome. Haumea é a deusa havaiana da fertilidade e dos nascimentos. Atégina é possivelmente uma das mais antigas divindades cultuadas na região da Lusitânia e da Bética, hoje conhecida como Península Ibérica. Seu culto já era popular antes da chegada dos romanos, que a identificaram com Proserpina, ou Perséfone, filha da deusa Ceres (Deméter), a mesma que foi raptada por Plutão (Hades) e levada para o submundo. O mito é uma metáfora sobre as quatros estações, pois Ceres disse que não produziria mais grãos nem comida cresceria nos campos enquanto sua filha não fosse devolvida. O acordo com Plutão então foi: ela passava seis meses no submundo (outono e inverno) e o restante do ano ficava com a mãe na superfície (primavera e verão).

A polêmica com relação ao nome se dá pela briga entre os descobridores. José Luis Ortiz y Francisco Aceituno e Pablo Santos Sanz, astrofísicos do Instituto de Astrofísica de Andaluzia descobriram o planeta anão e enviaram os dados aos órgãos competentes com o nome de 2003 EL61. Algum tempo depois, o descobridor de Makemake e Éris, Mike Brown, da Caltech, disse já ter descoberto 2003 EL61 e chegou a acusar os espanhóis de terem roubado sua descoberta ao The New York Times.

O Instituto de Astrofísica de Andaluzia enviou um pedido formal de nomeação para o planeta anão como Atégina, enquanto Mike Brown ainda alegava ser o verdadeiro pai da criança. Mesmo tendo aceitado a proposta, o comitê anunciou de maneira inexplicável que o nome seria Haumea, o nome proposto por Mike Brown. Para piorar a situação, a UAI (União Astronômica Internacional) apoiou Brown, quebrando uma tradição rígida de dar o nome escolhido ao corpo celeste pela equipe que o descobriu primeiro, neste caso, os espanhóis com seu nome escolhido, Atégina. Deu para perceber que no meio científico o mau caratismo também está firme e forte.

Seja como for e qual nome foi escolhido - acho Atégina mais simpático - há um novo planeta anão na família do sistema solar.

MAKEMAKE
Ele é o terceiro maior planeta anão do sistema solar. Sua superfície é provavelmente coberta por metano, etano e nitrogênio, sendo um dos mais gelados do sistema solar, -243°C. Na mitologia Rapanui (Ilha de Páscoa), ele é o deus criador da humanidade, deus da fertilidade e o chefe do culto Tangata manu, o homem pássaro, o líder terreno de Makemake. Além disso, sua descoberta foi perto da Páscoa e decidiram dar o nome para manter a ligação.

Ele leva cerca de 310 anos para completar uma órbita em torno do Sol, órbita essa tão excêntrica quanto seus companheiros Plutão, Éris e Haumea/Atégina. Não se sabe com certeza seu diâmetro, mas estimativas o colocam entre 1500 km, com erro de 200km para mais ou menos.

É bem provável que outros sejam descobertos. Acredito que foi possível perceber o quanto sabemos pouco sobre nosso próprio sistema solar. Mas as descobertas o deixam cada vez mais rico e habitado.

Até mais!

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