Cinema Panopticum é um quadrinho bizarro. Sem uma linha de diálogo, ele apresenta um lado sombrio do circo e das apresentações itinerantes. Uma história que se desdobra em quatro, que nos leva aos confins da mente humana e de bizarros acontecimentos nas vidas dos personagens.
O quadrinho
Uma das coisas que logo chamam a atenção em Cinema Panopticum é a total ausência de balões de textos. Com exceção de placas e letreiros que surgem nos quadros conforme os eventos são mostrados, nenhum personagem diz qualquer palavra. E nem precisa. As expressões faciais deles nos dizem tudo o que precisamos saber. Começamos com uma garotinha que vê o circo chegando.As atrações são interessantes demais para ela. Mas ao colocar a mão no bolso percebe que tudo o que ela tem são alguns trocados que não são suficientes para entrar em algumas delas. É então que ela nota uma cabine escura repleta de caixas com pequenos filmes. Curiosa para ver o que tinha ali, a garotinha percebe que tem o dinheiro necessário e começa no primeiro cinetoscópio.
O fato de não ter balões de texto exige uma maior atenção de quem está lendo para poder perceber todas as pistas deixadas pelo autor ao longo do quadrinho. Conforme você vai passando de um cinetoscópio para outro, percebe que já viu aquelas pessoas antes. E conforme a garota passa as cenas dentro da máquina, o bizarro e o mistério apenas crescem, até chegarmos ao final que te deixa intrigada e assustada com o que aconteceu de fato.
Como um grande filme noir e um longa de horror, o quadrinho tem múltiplas interpretações. Acho que cabe a você tirar uma conclusão que, provavelmente, será diferente da minha e de outras pessoas.
Algo a se destacar é o traço e o desenho de Thomas Ott. Ainda que pareçam gravuras, onde o fundo escuro contribua para esse ambiente sombrio do quadrinho, o autor usa a técnica do scratchboard (ou carte à gratter) para compor as histórias. Ele primeiro faz o desenho em uma folha, depois copia o desenho sobre o papel de riscar e munido de um estilete, talha o papel escuro, o que cria esse efeito rasgado, como se fosse distorcido, cheio de ruído. Pela quantidade de detalhes que você vê na imagem acima dá para perceber o trabalho caprichado do autor.
Se o quadrinho não tem texto, basta acompanhar as expressões faciais dos personagens para compreender tudo o que se passa. É impressionante como o autor conseguiu destacar as emoções, o medo, o horror de cada um deles. Com um enredo e cenário que lembram episódios de Além da Imaginação, cada história tem um desfecho surpreendente. E o final... ahh, o final. Vou deixar que você interprete assim que botar as mãos no quadrinho.
A edição vem em capa dura e é perfeita.
Obra e realidade
O cinetoscópio é um dos primeiros dispositivos criados para a exibição de filmes. Ele foi projetado para que os filmes fossem vistos por um indivíduo por vez através de um olho mágico na parte superior do dispositivo. O cinetoscópio não era um projetor de cinema, mas introduziu a abordagem básica que se tornaria o padrão para todas as projeções cinematográficas antes do advento do vídeo. Ele criou a ilusão de movimento ao transmitir uma faixa de filme perfurado contendo imagens sequenciais sobre uma fonte de luz com um obturador de alta velocidade.Valendo-se das lendas urbanas e mitos envolvendo a imagem em movimento gerada pelo cinetoscópio, Thomar Ott criou um quadrinho surpreendente, que trilha o caminho do bizarro e do horror.
Thomas Ott é um quadrinista, animador, músico e artista visual suíço.
Pontos positivos
SombrioTraços
A técnica
Pontos negativos
Acaba logo!
Avaliação do MS?
Foi uma leitura sombria, melancólica e bizarra ao mesmo tempo. Uma obra de horror mudo que te prende até o fim e quando você termina fica pensando em cada uma das máquinas e tudo o que a menininha viu. Que horrores podem estar ocultos naquela tenda que nós acabamos perdendo? Voltei para o começo e li de novo! E o mistério se mantém... Cinco aliens para o quadrinho e uma forte recomendação para você ler também!Até mais! 🎪
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