Eu, Lixeiro é um quadrinho divertido, meio nojento, mas que trata de um assunto extremamente pertinente: o que acontece com o saquinho de lixo que a gente deixa na calçada depois que o caminhão passa? As pessoas não costumam pensar muito nisso, mas Derf Backderf tratou do assunto em um quadrinho meio autobiográfico, meio ficção, meio sujo e inquietante!
O quadrinho
Começamos nossa jornada na primeira etapa da coleta de lixo, com três jovens que andavam meio perdidos na vida e começaram a trabalhar no serviço de coleta de lixo em uma pequena cidade de Ohio. Os rapazes logo se acostumam com a jornada dura, pendurados no caminhão, coletando sacos que vazam e latas lotadas de larvas e coisas nojentas. Não só isso, eles também têm que lidar com gente ignorante, que tira sarro por coletarem lixo pelas ruas, além dos moradores que querem que o caminhão leve tudo, de pianos a fogões.Seja no meio do calor sufocante do verão, seja na neve congelante do inverno, eles precisam sair com os caminhões, deixar as ruas limpas e ainda precisam aguentar o supervisor que aparece do nada e pega os funcionários fazendo bobagens. A rotina não é fácil. Eles se cansam não só dos sacos pesados do lixo doméstico como também da impertinência dos moradores e a falta de noção dos superiores que mandam os caminhões recolherem o que não deve. Mas os rapazes não dão ponto sem nó. Eles tiram sarro dos moradores, dos chefes e aprontam em seus horários livres.
É surpreendente as coisas que eles encontram no lixo. Coisas novas e seminovas que podem facilmente ser reutilizadas são levadas pelos coletores para suas casas, como uma poltrona perfeita e sem nenhum arranhão. Existem, porém, várias situações nojentas atenuadas pela cor e pelo traço de Derf, como quando os sacos não estão bem fechados ou rasgam e sujam os rapazes da cabeça aos pés. Se antes você não pensava muito nas pessoas que recolhem o teu lixo, esse quadrinho vai te dar boas razões para respeitá-los profundamente!
Eu, Lixeiro, embora seja uma obra ficcional, é inspirada nas próprias experiências de Derf que trabalhou recolhendo lixo, após ter terminado o colégio, e anteriores à sua carreira de quadrinista. Mas ele explica que resolveu trazer a história para os dias atuais e ficcionar um pouco a coisa, trazendo para o enredo fatos reais e preocupantes sobre a situação do lixo nos Estados Unidos, que não estão muito distantes da nossa realidade. Para falar um pouco sobre a situação no Brasil, há um posfácio da engenheira sanitária e ambiental Marina Seelig Falcão, que também atualiza alguns dados.
Devo dizer que ri muito em algumas passagens, em outras foi bem nojentinho. Os personagens, volta e meia, me lembravam de Beavis e Butt-Head pelas piadas sem graça e pelo preconceito. As pessoas são sim sem noção quando se refere ao próprio lixo e já vi coletores sangrando na rua porque algum zé ruela não protegeu os cacos de vidro antes de descartar. Já vi ruas sujas porque as pessoas não acondicionaram direito o próprio lixo, o saco rasgou e o coletor não tem tempo para limpar tudo. Já vi gente descartar lixo hospitalar em lixo comum e agulha de insulina ficar espetada na mão do coletor. Se o quadrinho servir para fazer algumas pessoas botarem a mão na consciência, acho que parte de seu propósito será cumprido.
O quadrinho vem em capa dura e papel branco no miolo. Os quadrinhos são em preto e branco com alguns coloridos e com o traço característico do autor. Intercalados com a história dos rapazes e suas agruras pelas ruas, temos dados sobre a situação do lixo nos Estados Unidos, o quanto uma pessoa comum produz por dia, por ano, e o problema sério dos aterros e da ausência de políticas públicas mais firmes sobre reciclagem. E fica o alerta: ou a gente leva o assunto muito a sério e toma uma atitude, ou vamos ficar soterrados de lixo em pouco tempo.
A tradução foi de Érico Assis, veterano tradutor de quadrinhos, e está muito boa, mas a revisão da DarkSide deixa um pouquinho a desejar, com letras faltando em algumas falas e textos. Se você comprar pelo site da editora, ganha marcadores exclusivos!
Obra e realidade
Um dos pontos altos de Eu, Lixeiro é quando o autor narra a situação dos aterros e como eles são construídos. Na faculdade, quando estudamos a questão ambiental, nós visitamos um aterro sanitário que recebe o lixo que é recolhido nas zonas sul e leste de São Paulo. E vou te dizer uma coisa, o cheiro é algo que você NUNCA esquece. Fui trabalhar depois da visita e fiquei com o cheiro no meu nariz o dia todo. Tinha a impressão que estava impregnado na minha roupa (e não estava) de tão forte que é.Ainda que a construção de um aterro envolva muitas etapas para a segurança ambiental, tal como Derf alerta no quadrinho, eles ainda representam riscos, principalmente sobre a produção de metano conforme o aterro vai sendo compactado e soterrado para criar novos degraus. Há também o chorume, o líquido que resulta na putrefação do lixo e que contamina lençóis freáticos. O aterro que visitei tratava o chorume e o transformava em água de reuso (aquela água que lava rua de feira), mas ainda existem lixões e aterros mal construídos por aí. Consegue imaginar o tamanho do problema?
Áreas verdes que você nem imagina que sejam aterros soterrados estão ao seu redor. Eu não sabia que uma área verde imensa em Sapopemba é um antigo aterro sobre o qual nada pode ser construído por décadas, por causa do metano e do chorume. Sim, o risco de explosão existe e por isso ele não pode ser ocupado.
Derf Backderf, é um premiado cartunista norte-americano.
PONTOS POSITIVOS
História (em parte) real
Bem escrito e desenhado
Dados importante sobre lixo
PONTOS NEGATIVOS
Erros de revisão
Nojentinho
História (em parte) real
Bem escrito e desenhado
Dados importante sobre lixo
PONTOS NEGATIVOS
Erros de revisão
Nojentinho
Avaliação do MS?
Se você é fã do trabalho de Derf, quer apenas se divertir com um quadrinho bem-humorado ou quer ler mais sobre a questão do lixo, então pode se jogar na leitura. Os erros de revisão não chegam a atrapalhar a leitura e há situações insólitas e curiosas que os coletores passam enquanto recolhem o lixo pela cidade. Quatro aliens para a graphic novel e uma forte recomendação para você ler também.Até mais! 🚯
Gostei! E é um tema pouco falado (ao menos no cotidiano) e que possui grande relevância frente aos desafios ambientais.
ResponderExcluir