Resenha: Candyman, de Clive Barker

A galera da minha geração, com certeza, se lembra do filme Candyman (1992), com o incrível Tony Todd no papel principal. Assisti a esse filme há muito tempo, mas ele me impressionou tanto que lembro de ficar sem dormir umas duas noites, morrendo de medo de falar Candyman repetidas vezes. Mas a maioria não sabia que ele era baseado em um conto que ganhou uma edição primorosa da DarkSide!

O livro
Helen está nas ruas, pesquisando pichações e grafites em uma área degradada da cidade, carregando sua câmera pra cima e pra baixo. Os muros e paredes da região contam sua história através de rabiscos e frases de revolta, frases de ordem, mensagens e citações. Mas as paredes dizem muito mais do que isso. E elas também ocultam os segredos de uma comunidade inteira.

Resenha: Candyman, de Clive Barker

Uma moradora passando pelo local com seu bebê, chamada Anne-Marie, pergunta se ela trabalha para o conselho municipal e se pretende limpar aquela parede cheia de obscenidades. Anne não entende o que uma parede imunda, como ela mesma descreve, tem de tão interessante para uma moça estudada da universidade. Anne então conta a Helen sobre alguns apartamentos abandonados e os grafites que alguns deles têm. Atraída por essa informação, Helen encontra um desenho tão expressivo e interessante que decide voltar no dia seguinte com um equipamento melhor.

Impressionada com a imagem, Helen conversa com Anne-Marie que lhe conta sobre um terrível assassinato que ocorreu no conjunto habitacional onde mora. Mas Helen não viu nenhuma notícia, nada nos jornais ou no noticiário e até seu marido, um homem intragável e metido a besta, tal como no filme, duvida que o assunto fosse sério. No mínimo, a mulher do conjunto habitacional estava tirando um sarro dela. Aliás, todo o grupo de amigos do casal pensa isso.

E não é só essa morte, tem outros relatos que mais parecem lenda urbana, tema central do conto. Mas a questão com as lendas urbanas é que, muitas vezes, elas é que acabam achando você e não o contrário. E certamente Helen pode acabar descobrindo mais do que gostaria ao andar pelos prédios degradados da região. Admito que foi difícil dissociar a imagem de Helen de Virginia Madsen do filme da Helen do conto, de tão cristalizada que está na minha cabeça a imagem da protagonista.

Mas eu me pergunto: para que serve o sangue, senão para ser derramado?

Página 77

Uma coisa que me impressiona na escrita de Clive Barker é como ela é visceral. Mesmo em um conto curto a humanidade (e a monstruosidade) que coloca em seus personagens é brilhante. Candyman (The Forbidden, no original) poderia ter o dobro de páginas que seria igualmente intenso de ler. Acho que o principal defeito é justamente esse, ser curto demais, pois eu leria mais duzentas páginas na boa. Até personagens que ficam pouco tempo em evidência, como os amigos de Helen ou alguns dos vizinhos de Anne-Marie, são vivos e distintos em suas descrições.

A edição da DarkSide é caprichada. A capa dura com acabamento soft touch tem uma textura que lembra a de um favo de mel e vem com uma capinha de proteção nesse mesmo padrão. Apesar de pequeno, 110 páginas, ele vem com o famoso fitilho para você marcar a leitura e um posfácio de Carlos Primati, pesquisador de cinema e tradutor. A tradução foi de Eduardo Alves e está muito boa, mas há alguns problemas de revisão no conto que precisam ser corrigidos para uma próxima edição.

O que os bons sabem? (...) Além do que os maus lhes ensinam com seus excessos?

Página 81

Obra e realidade
Entendo porque algumas pessoas ficaram decepcionadas com o conto. Ele é curto e tem vários pontos divergentes do longa que é amado por muita gente. Existem sim, diferenças marcantes entre os dois, mas a essência da história não mudou na transição das páginas para as telas. O principal ponto, sobre as lendas urbanas e sobre comunidades que mantém seus segredos, estão preservados. Talvez o filme tenha mais sanguinolência, até porque é um recurso visual poderoso, enquanto no conto o horror é visto mais pelos olhos de Helen. Sendo assim são suas sensações e medos que acabamos vivendo mais intensamente.

O conto se passa na Inglaterra, enquanto o filme se passa nos Estados Unidos. Os segredos das comunidades degradadas e periféricas me pareceu bem presente no conto, ainda que eu não lembre com clareza disso no filme. O Candyman acaba ganhando uma história pregressa que, no conto, ele não possui. Nesse sentido eu gosto mais do Candyman do filme, até porque Tony Todd é um ator fabuloso (e um Klingon melhor ainda). A relação entre Candyman e Helen, no filme, é mais explorada, ganhando inclusive uma camada de tensão sexual, que no conto é pouco explorado. Ainda assim, acho interessante as divergências, afinal o filme é uma adaptação, não uma obra fiel e vale à pena conferir os dois.

Clive Barker

Clive Barker é um escritor, cineasta, roteirista, ator, produtor de cinema, artista plástico e dramaturgo inglês.

Pontos positivos
Bem escrito
Helen
Assustador
Pontos negativos

Acaba rápido!

Título: Candyman
Título original em inglês: The Forbidden
Autor: Clive Barker
Tradutor: Eduardo Alves
Editora: DarkSide
Páginas: 112
Ano de lançamento: 2019
Onde comprar: na Amazon!

Avaliação do MS?
Se você é fã do filme (e dos seguintes), ou apenas um fã dos trabalhos de Barker, quem sabe apenas um curioso para uma boa história de horror, pode se jogar em Candyman. Não apenas a escrita de Barker compensa muito, como os temas abordados pelo autor nestas páginas são atuais e bastante familiares para qualquer morador de periferia. Quatro aliens para Candyman e uma forte indicação para você ler também!

MUITO BOM!

Até mais! 🐝

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