O assassino do rio Green aterrorizou a região de mesmo nome por anos, tendo confessado 93 assassinatos, sido condenado por 49 deles. Considerado um dos maiores serial killers da história norte-americana, a polícia montou uma força-tarefa que durou mais de vinte anos na tentativa de capturar o assassino. Neste quadrinho, Jeff Jensen reconta as memórias de um dos policiais envolvidos na força-tarefa e como os assassinatos mexeram com aqueles que lutaram para colocar um criminoso atrás das grades.
O quadrinho
Quem estiver procurando saber sobre os crimes, querendo detalhes sangrentos, vai ter que procurar outro quadrinho. Em Green River Killer, Jeff Jensen se concentra nas memórias de seu pai, Tom, a quem o volume é dedicado, e de como o caso do assassino do rio Green impactou a vida de todos durante anos. Quando o verdadeiro assassino, Gary Leon Ridgway, foi enfim capturado, Tom Jensen já estava aposentado, mas foi chamado de volta como consultor para auxiliar a polícia no caso e nas confissões.Tom era um rapaz magrelo que foi parar na Marinha, trabalhando em escritório ao invés de estar na linha de combate no Vietnã. Ele se correspondia com a namorada, fazia trabalhos internos e ia a paisana em manifestações. Até que um dia, chegando a um gargalo na carreira e detestando o mar aberto, ele decidiu entrar para a polícia. A essa altura já estava casado com a antiga namorada da época da Marinha e com filhos.
Tom não era da divisão de homicídios e sim de furtos e roubos, mas com os corpos se acumulando, os meses passando e a busca pelo assassino dando em nada, a polícia resolveu montar uma força-tarefa e precisava de policiais, que foram emprestados de outras divisões. Emprestado para o esforço em busca do assassino, Tom ficou nela por mais de vinte anos, até se aposentar.
A frustração de Tom é palpável. Nota-se como a caçada infrutífera por tantos anos abalou a família Jensen. Ao contrário do que muita gente pensa, assassinos em série não são super inteligentes, como Hannibal Lecter. Isso é invenção do cinema, pois a falta de uma ciência forense sólida e precisa foi um dos grandes problemas para a justiça. Aliado à falta de sorte e preconceito com as vítimas, muitas delas trabalhadoras do sexo, as investigações não andavam. Gary Ridgway, na verdade, tem um QI baixo, é disléxico e não tem formação superior. Matou demais porque a justiça falhou com as vítimas.
Indo e voltando nas memórias de Tom, vemos que a polícia precisou da cooperação de Gary, que não queria pegar a pena de morte, para encontrar outros corpos. Assim ele morou um tempo na delegacia enquanto visitavam locais que ele achava ter deixado vítimas. Não são poucos os momentos em que os policiais se irritam com ele, pois Gary parece não lembrar de propósito dos detalhes e a polícia ainda ter que cuidar dele em segredo, para a população não descobrir e causar um tumulto do lado de fora.
Jeff Jensen recriou algumas cenas fortes com base nas lembranças do pai não com o intuito de chocar, mas de maneira a mostrar o que aqueles policiais viveram e como isso impactou suas vidas.
Não esqueça das vítimas. Não esqueça de suas mães, seus pais, suas famílias, não esqueça dessa cidade.
Página 110
Além da árdua tarefa de colher corpos abandonados, os policiais também tinham que lidar com as famílias das vítimas, algumas esperam até hoje por uma resposta, por um corpo para sepultar. Tom viu a pressão do trabalho cair na própria família. Para evitar falar dos crimes, ele fazia reformas em casa, mas nem sempre isso adiantava. Jeff conseguiu passar para quem lê toda a angústia de um policial que viu os anos passarem sem que eles tivessem repostas para crimes tão brutais e é difícil não se compadecer de Tom e dos outros policiais.
Uma coisa curiosa é que tanto Tom, o policial, quanto Gary, o serial killer, serviram à Marinha. A diferença é que Gary foi enviado ao Vietnã. Enquanto era militar, teve muitos relacionamentos com prostitutas, tendo inclusive contraído gonorreia na época, o que o deixou com um ódio brutal dessas mulheres. Em seu retorno aos Estados Unidos, como pintor de caminhões, ele se casou e começou sua série de crimes. Era viciado em sexo e um fanático religioso que levou seus conflitos internos até as últimas consequências.
O quadrinho é bem robusto, com mais de 240 páginas, capa dura e papel encorpado no miolo, com impressão em preto e branco. No começo, temos uma introdução que explica como que o quadrinho nasceu e a importância de contar essa história. A tradução é do veterano Érico Assis e está ótima. Não há problemas de revisão ou diagramação ao longo do quadrinho.
Obra e realidade
As pessoas têm uma imagem cristalizada de como são os serial killers por causa do cinema. Hannibal Lecter, sem dúvida, é um dos mais famosos, seja pelo sucesso dos filmes da franquia Silêncio dos Inocentes, seja pela série de TV, Hannibal. O psiquiatra é um homem refinado, erudito, que curte música clássica e um fígado humano com feijões para o jantar.Mas na realidade, os assassinos em série não são gênios do mau. Eles mataram muito devido a uma série de eventos infelizes e pela falta de uma ciência forense precisa e adequada, capaz de lidar com as evidências. Há também o preconceito da própria força policial em hesitar em começar a investigar crimes contra prostitutas e o medo da reação do público e da mídia ao anunciar que há um serial killer à solta.
Jeffrey Dahmer foi parado na rua por dois policiais quando uma de suas vítimas escapou. Ela poderia ter sido salva se os policiais investigassem um pouquinho só as afirmações do rapaz que, desesperado e sem falar direito o inglês, tentava pedir ajuda. Mas não, eles caíram na lábia de Dahmer, loiro, alto, atlético, olhos azuis e o pobre rapaz voltou para a casa do assassino para morrer. Ted Bundy foi outro que, usando de charme e simpatia, conseguia tudo o que queria da polícia e conseguiu escapar da prisão duas vezes quando as medidas de segurança relaxavam.
Jeff Jensen é um escritor, roteirista e jornalista norte-americano. Trabalhou por 18 anos na Entertainment Weekly e virou o principal crítico de TV da revista.
Jonathan Case é um quadrinista, escritor e pintor norte-americano. Trabalhou em séries clássicas de super-herói como Batman ’66 e Superman: Alienígena Americano na DC Comics.
Nate Piekos é um designer e letrista norte-americano.
PONTOS POSITIVOS
Memórias
Bem escrito
Traço
PONTOS NEGATIVOS
Violência
Memórias
Bem escrito
Traço
PONTOS NEGATIVOS
Violência
Avaliação do MS?
Não indico o quadrinho para pessoas sensíveis. Ele é válido pra fãs de true crime e que queiram saber como o caso atingiu de forma pessoal os investigadores envolvidos no caso. É também uma homenagem a Tom Jensen e por seus esforços na captura do verdadeiro assassino, que esteve na mira da polícia antes, mas não chegou a ser preso na ocasião. Quatro aliens para ele e uma forte indicação para você ler também.Até mais!
Gostei muito do quadrinho. Comecei recentemente nos livros de true crime e achei o quadrinho um relato muito interessante. Excelente texto, Sybylla!
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