Miragem é o primeiro volume de uma duologia de ficção especulativa, lançado pela editora Literalize. Um mundo rico e bem criado, com elementos de cultura marroquina, em um sistema solar assolado por conquistas e opressão.
O livro
Uma das protagonistas é Amani, uma jovem que chega à maioridade e está para celebrar o momento de acordo com os costumes de seu povo. Estamos em um sistema solar onde sua lua e seu reino foram conquistados pelos cruéis vathekeses. O povo de Amani passa dificuldades, ainda que sua família seja bastante unida e amorosa. Amani tem orgulho de suas origens e está ansiosa para o que a vida lhe reserva depois da cerimônia.Entretanto, na noite da maioridade, quando Amani e outras jovens da região receberiam no rosto a tatuagem que simboliza sua família e seu destino, a festa é interrompida por droides imperiais. Eles alinham as jovens e analisam seus rostos até que param em Amani. Ela então é levada embora, sob os protestos de amigas e familiares para outro planeta onde ficará frente a frente com a princesa Maram, filha do líder e futura rainha governante. Para a surpresa de Amani, ambas são idênticas.
O que Amani cruelmente descobre naquela noite fatídica é que a vida de Maram está sob ameaça. A princesa precisa de uma sósia, alguém que vá em seu lugar para eventos que possam ser perigosos, pelo menos até que Maram seja coroada. É óbvio que Amani resiste, mas Maram é mimada, voluntariosa, cruel e dobra Amani até que ela finalmente se resigne a aceitar seu destino.
(...) até mesmo uma rocha se reduziria a nada se enfrentasse chuva suficiente
Página 17
Ainda que seja descrito como uma ficção científica, se você tirar os droides e substitui-los por criados e as naves e substituir por carruagens e cavalos, vira um YA. Não exitem elementos de fantasia aqui, pois não há magia ou elementos sobrenaturais. O fato de se passar em um outro sistema solar não interfere em nada no enredo, nem tem qualquer importância significativa. É uma fantasia espacial ou uma YA espacial. O livro tem um ar bem introdutório, deixando aquela sensação de que no volume seguinte as coisas devem esquentar e se resolver, mas que não deviam ter sido separados em livro um e dois.
Amani é uma personagem cativante, ainda ingênua sobre o mundo, mas que se esforça para poder rever sua família e, quem sabe, poder mudar seu próprio destino. Porém, é Maram quem se destaca. Aquela princesa cruel do começo tem uma evolução muito interessante e toma um caminho que achei que não tomaria. Curti muito a invertida na jornada da princesa e estou curiosa para saber o que aconteceu com ela no segundo volume.
O universo em si criado pela autora é bem rico. Existem descrições ricas dos cenários, das roupas, do ambiente, às vezes até demais. Sinto que uma melhor edição do livro teria focado em mostrar mais e descrever menos, o que teria tornado a leitura mais amigável. A história dos reinos e a forma como é contada, na forma de poemas, é bem legal e foi bem escrita. Mas o ritmo pode incomodar aqueles que curtem mais ação, pois não é seu foco. Imagino que no próximo volume as coisas esquentem um pouco, mas esse aqui tem um desenvolvimento lento. Ainda assim acompanhar as personagens foi bem gratificante em vários momentos.
Apesar de ser tudo muito interessante, com um universo rico e personagens cativantes, a leitura é cansativa, sem contar o instalove desnecessário que tem lá pelo meio que deixou tudo muito mais chato. Sabe quando não precisava? Se o enredo focasse na dinâmica entre Amani e Maram tudo teria sido bem melhor. Nem precisava haver um romance entre as duas, mas que o livro focasse nelas, no desenvolvimento da relação que elas estabeleceram, a forma como uma olha para a outra e isso muda ao longo do enredo. A forma como Somaiya lidou com isso foi meio rápido. Eu gostaria de ter tido mais tempo para essa relação se desenvolver.
A edição também tem problemas. A capa tem uma ilustração em baixa resolução, ou seja, é possível ver os pixels da imagem se você prestar atenção. Faltou uma melhor revisão, pois no final de várias frases há letras sobrando. Como são vários termos e nomes de pessoas da história dos mundos apresentados no enredo mencionados, senti que faltou um glossário no final que ajudasse na hora da consulta. E a letra do livro é pequena demais. Até eu que não tenho problema de visão, nem uso óculos, me senti incomodada.
A tradução de Mariana C. Dias está muito boa e praticamente não há problemas. A revisão falhou em alguns momentos, mas não chega exatamente a atrapalhar o entendimento. A edição da Literalize é em capa dura, papel amarelo, com um belo trabalho gráfico interno.
Todos abrimos mão de nossos lares para estranhos. Era assim que o mundo funcionava agora.
Página 165
Obra e realidade
Um dos pontos positivos da obra é como a autora discute opressão. Amani nasceu em um mundo oprimido, pobre e atacado por uma força superior. É possível traçar paralelos com várias culturas que foram subjugadas e tratadas com brutalidade. Na Índia Britânica, era comum que os ingleses oprimissem e deixassem os indianos passarem fome. Na Austrália, os aborígenes, assim como muitos outros povos nativos, foram oprimidos, brutalizados e mortos pelos invasores. Na Palestina, as pessoas lutam por suas casas conforme são bombardeados por forças israelenses. O enredo de Miragem pode se passar em outro sistema estelar, mas sua realidade não está nem um pouco distante da nossa.Somaiya Daud é uma escritora norte-americana, doutora em filosofia e escritora em tempo integral.
PONTOS POSITIVOS
Amani
Maram
Universo bem construído
PONTOS NEGATIVOS
Meio lento
Revisão
Amani
Maram
Universo bem construído
PONTOS NEGATIVOS
Meio lento
Revisão
Avaliação do MS?
É um bom livro. Não vou dizer que Amani e Maram não me cativaram, pois cativaram. Quis chegar ao final para saber o que ia acontecer. E estou curiosa para saber o que vem no segundo livro. Mas é um livro OK, que poderia ter tido um melhor desenvolvimento. Três aliens para Miragem.Até mais!
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