Tokyo Ghost é um quadrinho alucinante em um futuro que não parece assim tão distante de nós. Uma distopia samurai futurista, onde ainda vemos a exploração do mais rico sobre os mais pobres, recursos naturais no fim, violência, mudanças climáticas, tecnologia de ponta, paranoia virtual e muita pancadaria rondam as páginas deste quadrinho!
O quadrinho
O ano é 2089. Com a subida dos níveis dos mares, Los Angeles se tornou uma ilha, mas a poluição tornou as águas tão tóxicas que um simples contato pode queimar a pele. Com uma realidade tão brutal como essa, a humanidade se tornou viciada em tecnologia em níveis tão absurdos que bandos de tecnoiados são capazes de matar e roubar para manterem o vício nas redes e o "barato" digital nas alturas. Antros de ópio eletrônico são comuns, bem como a miséria e a fome. Tais antros estão sob o controle de um bandidão chamado Flak.Para poder cobrar os tecnoiados e mantê-los na linha, Flak e outros bandidos da mesma linha usam os serviços de um casal de delegados, Led Dent e Debbie Decay, que abusam da violência algumas vezes. Enquanto Debbie nunca cedeu ao vício digital, uma assim chamada "zero-tec", o mesmo não podemos dizer de Led Dent. O rapaz de bom coração que Debbie uma vez conheceu está completamente entregue à tecnologia e ao vício. É quando uma missão lhes é dada no último reduto não conectado do planeta que Debbie vê uma chance de mudar de vida junto de Dent.
O seu engano foi ser uma pessoa decente num mundo cheio de cuzão.
Os Jardins Verdejantes de Tóquio são o completo oposto da Ilha de Los Angeles. Um paraíso ecológico, imerso na cultura e na sabedoria dos samurais, esse reduto causa inveja e ambição em muitas pessoas no Ocidente. Em mundo cada vez mais mergulhado na paranoia tecnológica, Debbie sabe que se quiser sair das ruas de Los Angeles e viver uma vida real tanto ela quando Dent precisam desse novo mundo, dessa nova perspectiva.
O quadrinho lida com problemas muito reais da nossa realidade exagerados pelos autores nas páginas coloridas e ultra detalhadas do quadrinho. Ainda que eu tenha achado o começo um pouco confuso, o enredo entra logo nos eixos e começa a nos contar uma jornada sobre redenção e desespero com muitas pinceladas sociais sobre a forma como lidamos com a tecnologia e como elas pode nos controlar completamente sem que possamos fazer uma reflexão a respeito. Até que ponto a tecnologia pode nos substituir? Até onde é saudável?
Além das óbvias críticas ao desespero dos nossos tempos por conexão e a consequente desconexão humana que se segue, ao controle desse meio tecnológico nas mãos de uns poucos déspotas, Tokyo Ghost também fala de amor, mas de uma maneira que me pareceu muito real, muito brutal. Os autores não se valeram do amor brega que pode vencer tudo, mas sim falam de um amor que precisa sobreviver aos revezes de uma sociedade que mercantilizou tudo, até a própria realidade, onde as pessoas que queiram verdadeiramente se conectar umas com as outras acabam excluídas da sociedade.
São várias cenas de violência e nudez pelas páginas, mas é interessante apontar que não temos excessivas cenas de nudez feminina. Há muita nudez e cenas de sexo, mas que não sexualizam apenas as mulheres. Há muita sexualização masculina usada também como forma de crítica pelos autores, de como a mídia "paga um pau" para os barões do sistema. Foi uma tática bem explícita de tratar o assunto e por isso não recomendo o quadrinho para menores de 16 anos.
Os quadros e cenários são explosivos e bem desenhados, com cores que saltam das páginas e ainda que tenhamos muitas cenas caricatas, elas fazem sentido dentro desse futuro caótico. Um quadrinho em preto e branco não teria funcionado para a quantidade de informações que as cores nos dão em determinados momentos e cenas de Tokyo Ghost. Foi um trabalho impecável mesmo. O quadrinho foi originalmente serializado entre 2015 e 2016 em dez edições nos Estados Unidos e agora ganha uma edição completa, com layouts de capas alternativas, estudos de personagem e trechos do roteiro.
A edição da DarkSide é primorosa, em capa dura macia e papel encorpado no miolo. A tradução de Érico Assis está perfeita, com uma excelente adaptação de termos para o português. Não encontrei problemas de diagramação ou revisão no quadrinho.
O problema de deixar o povo escolher seu líder, é que a decisão tende pro psicopata que for mais seguro de si, por mais anta que ele seja. A percepção de qualificação é o que engana o povo.
Obra e realidade
Tokyo Ghost mexe com tantos tópicos que fica difícil dizer qual parte se destaca mais. São críticas políticas, ambientais, sociais, tecnológicas. Mas basicamente o quadrinho fala sobre humanidade e como ela vem sendo roubada de nós. Estamos cada vez mais conectados às redes, bombardeados por notícias, cores e informações a todo momento, esquecendo que a verdadeira conexão é entre as pessoas, que a tecnologia deve ser um facilitador para a conexão e não uma substituta.É uma obra que também fala de limites. Os limites da exploração do planeta, os limites tecnológicos, os limites humanos para aguentar tanta exploração e opressão. Nenhum povo se mantém subjugado por muito tempo. Movimentos de oposição sempre existiram a qualquer sistema e uma hora eles podem ajudar a derrubar regimes e causar mudanças globais. Estamos caminhando para uma agora mesmo?
Rick Remender é um escritor, showrunner e produtor norte-americano, conhecido por seu trabalho em quadrinhos como Capitão América e X-Force. Sean Murphy é um ilustrador norte-americano, conhecido por seu trabalho na minissérie de Batman. Matt Hollingsworth é um premiado colorista norte-americano de revistas em quadrinhos.
Pontos positivos
Personagens bem construídosBem escrito
Debbie
Pontos negativos
NudezViolência
Avaliação do MS?
Tokyo Ghost é uma jornada alucinante a um futuro que não está tão distante de nós quanto parece. A preocupação de Debbie com a saúde mental de Dent é real, a degradação do meio ambiente é real, bem como o vício na tecnologia e nas vidas fabricadas das redes. Até onde planeta e humanidade aguentarão? Quatro aliens para o livro e uma forte recomendação para você ler também!Até mais!
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