Royal City foi uma grata surpresa. Não sabia bem o que esperar do novo quadrinho de Jeff Lemire, mas encontrei uma história de família de tons quase autobiográficos que se passa em uma cidadezinha onde uma família guarda segredos há um longo tempo.
O livro
O fio condutor da narrativa é Tommy. Em um primeiro momento a gente não entende a função de Tommy, mas quando descobrimos que ele aparece para vários membros da história é que percebe que uma tragédia abateu a família Pike. Cada pessoa vê Tommy de uma maneira, com uma determinada idade, de acordo com suas próprias expectativas. Não sabemos ao certo se ele é um delírio de seus familiares, se é um fantasma, ou uma memória que adquiriu uma certa corporiedade e isso não fica bem claro, mas imagino que será elucidado em novos volumes.Um dos familiares ao qual somos primeiro apresentados é Patrick, um escritor que deixou a cidade há anos, mas agora retorna por causa da saúde do pai, que está internado. Ele está com um prazo apertado para entregar o livro ao seu editor, que não aguenta mais ser enrolado. Ainda que ele tenha tido algum sucesso com o primeiro livro, Patrick está esperando pelo grande sucesso. Tara, sua irmã, vê o irmão como um bebê, de quem ela foi babá, devido à frustração dxe ter perdido um bebê. Tara está em pé de guerra com a cidade na tentativa de abrir um resort de férias enquanto a fábrica que antes empregou quase que todos os habitantes, está falindo.
Richie vê Tommy quase como um espelho, inconsequente, autodestrutivo, irresponsável e a mãe vê Tommy como um padre, quase como um homem sagrado, em um desejo de que seu filho tenha ido para o paraíso ou que ele acabe perdoando os seus pecados, quem sabe o da família inteira. Essa edição meio que é uma grande introdução de todo o enredo, onde vamos conhecendo os personagens, suas frustrações, seus problemas, e também a cidade, que age como uma personagem muda, mas bastante presente em todos os dramas da família Pike.
Às vezes me pergunto se foi difícil crescer em Royal City ou se foi simplesmente difícil crescer.
Alguns podem reclamar do passo do quadrinho, que é lento ou que o enredo é muito simples. Para mim, porém, foi um prazer. O enredo está bem escrito, bem conectado, onde cada personagem tem seu devido destaque e os segredos vão se desenrolando conforme as páginas viram de maneira bem dosada e condizente com cada personagem. Li algumas críticas que a compararam com uma novela, então quem curte mais dramas familiares e menos super-heróis e eventos fantásticos, vai curtir a saga da família Pike.
Gostei muito do traço, da escolha das cores e da distribuição dos quadros. Os personagens são expressivos, seus rostos cansados da vida e das adversidades, vivendo em uma cidade em franca decadência. Este quadrinho fala, basicamente, sobre a solidão de cada um, sobre sua desconexão com os outros, mesmo quando são seus próprios parentes, na forma como as pessoas lidam, ou não, como seus problemas. O que você sente no quadrinho é que cada personagem ainda está procurando uma forma de ser quem eles querem que são, sendo que passaram uma vida inteira sendo o que os outros queriam que eles fossem. Estou bem ansiosa pelo segundo volume.
O quadrinho vem em capa comum sem orelhas com a péssima tendência a entortar. É uma edição robusta, com 160 páginas e papel nobre. A escolha de cores de Lemire foi perfeita, pois ele optou por uma paleta neutra que dá ao enredo um tom melancólico certeiro. A tradução foi de Fernando Scheibe e está perfeita.
Obra e realidade
Dilemas de família não são comuns nos quadrinhos, que em geral estão recheados de enredos de heróis e monstros. Adotando tons de realismo fantástico, o quadrinho trata, basicamente, de erros dos quais não se consegue fugir. É um enredo sobre uma família unida pelo sangue e separada por seus próprios problemas, o que acabou limitando a interação entre eles e gerando segredos, frustrações e mágoas. Fiquei pensando quais aspectos deste quadrinho são biográficos, já que Jeff fez tudo, o roteiro, as ilustrações e as cores. Se essa família quiser se unir e superar as adversidades, vai precisar enfrentar seus problemas. Como qualquer família da realidade.Jeff Lemire é um quadrinista e autor de quadrinhos canadense, tendo trabalhos pela Marcel e DC Comics.
Pontos positivos
Royal CityCores
Bem escrito e ilustrado
Pontos negativos
Acaba rápido!
Avaliação do MS?
Foi uma grande jornada ao lado da família Pike. Mesmo com todos os problemas dessa família, eles cativam, eles te conquistam e você quer acompanhar essa jornada, querendo que eles resolvam seus problemas e se unam como uma família. Um grande quadrinho! Bem ansiosa pelo próximo volume. Quatro aliens para Royal City e uma forte recomendação para você ler também!Até mais! 🏙
Comentários
Postar um comentário
ANTES DE COMENTAR:
Comentários anônimos, com Desconhecido ou Unknown no lugar do nome, em caixa alta, incompreensíveis ou com ofensas serão excluídos.
O mesmo vale para comentários:
- ofensivos e com ameaças;
- preconceituosos;
- misóginos;
- homo/lesbo/bi/transfóbicos;
- com palavrões e palavras de baixo calão;
- reaças.
A área de comentários não é a casa da mãe Joana, então tenha respeito, especialmente se for discordar do coleguinha. A autora não se responsabiliza por opiniões emitidas nos comentários. Essas opiniões não refletem necessariamente as da autoria do blog.