Resenha: O Corvo, de James O'Barr

Finalmente pude pôr minhas mãos nesse quadrinho icônico e que deu origem ao filme de mesmo nome, longa onde morreu o ator Brandon Lee. Assisti ao filme há muito tempo, então foi como se eu tivesse contato com a história pela primeira fez. O Corvo é uma história de fantasmas, basicamente, onde um corvo sobrenatural resolve ajudar com uma vingança.

O quadrinho
Eric Craven tinha um amor tão grande por sua namorada e futura esposa, Shelly, que voltou dos mortos para poder vingar sua morte. Isso é algo que fica bem claro assim que lemos a primeira cena, quando ele se depara com um ladrão e exige saber de algumas pessoas. Originalmente publicada em 1981, O Corvo é carregado de uma estética punk ou pós-punk, com muita violência, troca de tiros e pensamentos perdidos, entremeados com poemas, recitações, músicas e significados.

Resenha: O Corvo, de James O'Barr

Alternando as memórias de Eric com Shelly e sua busca por vingança, até a noite fatídica que tirou a vida de ambos, o quadrinho inteiro é em preto e branco. O traço inclusive muda quando Eric lembra de seus momentos com ela, onde há um tom mais poético, sem o estilo rebuscado e agressivo das cenas dO Corvo. Há bastante violência, não só vindo do personagem título, mas também dos bandidos que ele caça.

Eu já sabia que Shelly tinha tido um destino cruel, por isso temi que o autor enchesse páginas e mais páginas com o sofrimento dela ou com a famigerada sexualização da personagem feminina. Shelly é estuprada e morta de maneira cruel, mas felizmente ele teve o tato de não mostrar em detalhes o tratamento horrível que dispensam a ela. São alguns quadros, mostrando uma perspectiva distante, com foco nos bandidos. Há momentos de erotização, mas são cenas de amor dela com seu namorado que ficaram muito bonitas e acho que elas acabaram sendo um alento no meio de tanta violência.

A vida é tomada de dor, mas também cintila de beleza. Não perca a chance de fazer parte da beleza. Talvez não tenha outra.

O Corvo

Uma coisa que compreendi com essa leitura é como os monstros são fabricados. No caso de O Corvo, ele surgiu com o propósito de se vingar daqueles que o mataram e mataram Shelly e acabou se tornando ainda tão cruel ou violento quanto eles. Há muita dor nessas páginas, até vindo dos bandidos quando alguns confessam seus crimes ou arrependimentos. O subtexto que fica é que violência gera mais violência e há aqueles que lucram com isso.

O corvo, o pássaro em si, é muito ligado com o ocultismo. Visto muitas vezes como o mensageiro dos deuses, ele muitas vezes é associado ao mal, já que o catolicismo não via com bons olhos sua ligação com o paganismo. O pássaro acabou servindo de inspiração para muitos autores, desde de Edgar Allan Poe a Neil Gaiman, e há um ótimo episódio de Arquivo X com um corvo em um estilo bem parecido com o do quadrinho. Ainda que muitos o associem ao mal, o corvo também pode simbolizar sabedoria e regeneração.

A edição da DarkSide é a edição definitiva. Ele vem em capa dura e papel branco de alta gramatura, o que deixou a edição grande e pesada mesmo tendo apenas 272 páginas. O autor também explica no começo porque é uma edição definitiva, sobre os problemas de impressão no começo da publicação e de como ele acabou repaginando o quadrinho nos anos seguintes para chegar ao formato que temos agora em mãos. Ele também ressalta que não usou computador na confecção de O Corvo. Tudo, até o letramento, foi feito de maneira manual. No final existem artes em preto e branco e colorido dO Corvo. A tradução do texto ficou na mão de Érico Assis, e está ótima. Não há problemas de diagramação ou revisão.

Oh, ratos de esgotos, tão fiéis que me fazem corar até o esqueleto... vocês nunca deixam de morrer por mim.

Obra e realidade
Devo dizer que me pegou de surpresa saber que O Corvo é, em parte, biográfico. Isso o autor explica em um texto logo no começo. Ele usou as páginas, a arte e O Corvo na tentativa de se curar da perda trágica de uma mulher, tal como o personagem do quadrinho. A sua Shelly sofreu um grave acidente e morreu a caminho de buscar James e ele teve problemas em se perdoar por isso. Aliás, qualquer pessoa se sentiria culpada e consigo entender o sentimento, mas James canalizou a raiva em esboçar personagens sombrios, brutais e violentos.

James O'Barr

James O'Barr é um quadrinista e artista gráfico norte-americano. Ex-fuzileiro naval dos Estados Unidos, ilustrou manuais navais enquanto estava em um posto na Alemanha.

PONTOS POSITIVOS
Traços
Bem escrito
Shelly
PONTOS NEGATIVOS

Muita violência

Título: O Corvo
Título original em inglês: The Crow
Autor: James O'Barr
Tradutor: Érico Assis
Editora: DarkSide
Páginas: 272
Ano de lançamento: 2018
Onde comprar: na Amazon ou na loja da DarkSide com um brinde exclusivo!

Avaliação do MS?
Agora eu entendo como O Corvo alcançou um nível de aclamação que poucos quadrinhos alcançaram. O autor até se surpreende quando vê a reação de alguns fãs, dizendo o quanto o quadrinho é importante para eles. Uma história de amor, de vingança e de redenção. A violência pode incomodar algumas leitoras, mas é um quadrinho que vale à pena. Quatro aliens para O Corvo e uma forte recomendação para você ler também!


Até mais!

Já que você chegou aqui...

Comentários

Postar um comentário

ANTES DE COMENTAR:

Comentários anônimos, com Desconhecido ou Unknown no lugar do nome, em caixa alta, incompreensíveis ou com ofensas serão excluídos.

O mesmo vale para comentários:

- ofensivos e com ameaças;
- preconceituosos;
- misóginos;
- homo/lesbo/bi/transfóbicos;
- com palavrões e palavras de baixo calão;
- reaças.

A área de comentários não é a casa da mãe Joana, então tenha respeito, especialmente se for discordar do coleguinha. A autora não se responsabiliza por opiniões emitidas nos comentários. Essas opiniões não refletem necessariamente as da autoria do blog.

Form for Contact Page (Do not remove)