Resenha: Ascensão e queda dos dinossauros, de Steve Brusatte

Este livro é um prato cheio para todos os fãs de paleontologia e, principalmente, dos dinossauros! Em uma linguagem acessível e de poucos jargões científicos complicados, Steve destroi a imagem que ainda está cristalizada na mente de boa parte do público: de que dinossauros seriam perdedores evolutivos, atrasados e grandes fracassos biológicos. Tudo isso caiu por terra há décadas, mas ainda precisa ser desfeito no senso comum.


O livro
Quando uma pessoa quer falar de alguém e descrevê-la como atrasada ou lerda demais, alguém que não consegue se atualizar e acompanhar o mundo atual, é bem provável que muitos vão dizer que esse alguém é um "dinossauro". A palavra se tornou sinônimo de tudo o que é retrógrado e com certeza os dinos não merecem essa fama, algo que fiocu lá no começo do século XX para a maioria dos paleontólogos. Os dinossauro​s foram criaturas muito bem sucedidas e vicejaram no planeta por milhões de anos antes de sua abrupta extinção.

Resenha: A ascensão e queda dos dinossauros, de Steve Brusatte

Vistos como feras e bestas primitivas, como grandes lagartos burros, os dinossauros hoje são vistos como criaturas inteligentes, principalmente os terópodes, como os Tiranossauro rex. As abundantes evidências fósseis desmontaram o estereótipo de atrasados para pintar um novo cenário. Eram seres exuberantes, que dominaram seus ambientes e foram melhor sucedidos do que nós.

Mas com os dinos se tornaram dominantes? Sempre foi assim? Com o fim do Permiano, a grande extinção em massa - a maior que o planeta já viu - de 250 milhões de anos, um novo mundo se descortinava para os sobreviventes. Aquele mundo do Paleozoico não existia mais. Eu mesma, no meu mestrado, estudei plantas do final do Permiano que não resistiram à extinção. O que existia agora no Triássico era um mundo a se desbravar e a povoar. Entre os sobreviventes surgiram os dinossauromorfos, seres que viriam a ser dinos, mas que ainda não tinham chegado lá.

Muitos acham que os dinos sempre reinaram soberanos, mas na verdade, no Triássico, quando esses seres começaram a pulular aqui e ali, eles estavam restritos a lugares úmidos, perto de rios e lagos. Nos desertos eles não reinavam, na verdade eram pequenos e viviam acossados por outros animais predadores que os predavam. As coisas mudam com a extinção no final do Triássico e no Jurássico os dinos de fato herdam a coroa do planeta e se tornam altamente diversificados e se espalham pela Pangeia.

O mundo dos dinossauros era radicalmente diferente do nosso. Mais quente, a Terra girava mais rápido, a Lua era mais próxima, imensas samambaias serviam de alimento para vários herbívoros e esqueça de plantas com flores e frutos, elas surgem bem depois do auge dos dinossauros. Este mundo vai se tornar o planeta que conhecemos, mas está há vários milhões de anos antes disso.

O autor não deixou nada de fora. Do peso que um dinossauro poderia alcançar, à força da mordida de um T. rex (1360 kg!), a questão das penas que, provavelmente, todos os dinos tinham e o fato de todos os dinossauros serem muito mais parecidos com as aves do que com os répteis, até a certeza de que as aves atuais são dinossauros. Os curiosos de plantão não ficarão com nenhuma pergunta sem resposta ao ler este livro.

Os pássaros são simplesmente um subgrupo dos dinossauros, exatamente como os tiranossauros ou os saurópodes - um dos muitos ramos da árvore genealógica dos dinossauros.

Página 222

Tem muita gente que ainda torce o nariz para esse fato, o que é muito engraçado. Parece que é um demérito que os grandes e poderosos T. rex tenham se tornado galinhas. E para essas pessoas, que acham estranho um pássaro ser um dinossauro, Steve tem uma resposta pronta: morcegos tem uma aparência e um comportamento muito diferente de outros mamíferos, mas ninguém questiona o fato de eles serem mamíferos. Aves são dinossauros, simples assim.

O Brasil é falado rapidamente no livro, sobre algumas descobertas importantes feitas no Brasil e o fato de não haver T. rex em outros lugares da Pangeia, apenas na região que hoje compreende os Estados Unidos. Isso não quer dizer que não tenhamos dinossauros incríveis. Aliás, se você quiser conhecer alguns deles, leia Dinos do Brasil.

A tradução ficou na mão de Catharina Pinheiro e está boa, mas a revisão do livro deixou muito a desejar. Tem alguns problemas ali que um revisor mais atento teria resolvido rapidamente. Peguei termos ali que deixam claro que o livro não recebeu a atenção que deveria antes de ser impresso como "museu natural de história" ao invés de "museu de história natural". Isso pega muito mal, Record. O livro também conta com poucas imagens em preto e branco no miolo e a edição brasileira removeu as imagens que abriam os capítulos, que nos ajudavam a visualizar qual era o assunto tratado.

Obra e realidade
Steve Brusatte faz parte da "Geração Jurassic Park". O filme de Steven Spielberg foi um verdadeiro fenômeno na década de 1990. Museus se viram obrigados a contraram profissionais em caráter de urgência, pois milhares de crianças agora corriam fascinadas pelas exposições, querendo saber como estudar paleontologia (no Brasil só na pós-graduação), como estudar dinossauros, se a ciência do filme era possível. Assim como Steve, muitos profissionais que hoje estão fazendo grandes descobertas na China, na Mongólia, no Brasil, na África e nos Estados Unidos foram inspirados pelo filme e seus efeitos especiais que trouxeram os dinos à vida. Esse é um excelente exemplo de como a arte exerce influência na vida real e como a ciência pode ser algo divertido e instrutivo.

Steve Brusatte

Steve Brusatte é um paleontólogo e divulgador científico norte-americano, especialista na evolução dos dinossauros, professor e pesquisador da Universidade de Edimburgo, na Escócia.

Pontos positivos
Bem pesquisado
Bem escrito
Muitas fontes no final
Pontos negativos

Poucas imagens
Revisão

Título: Ascensão e queda dos dinossauros: Uma nova história de um mundo perdido
Título original em inglês: The Rise and Fall of the Dinosaurs: A New History of a Lost World
Autor: Steve Brusatte
Tradutora: Catharina Pinheiro
Editora: Record
Ano: 2019
Páginas: 336
Onde comprar: na Amazon!


Avaliação do MS?
Foi uma leitura rápida e bastante proveitosa. Uma pena o livro não ter mais imagens ou mapas para que a experiência ficasse mais completa. Com uma narrativa bem tranquila de acompanhar, você vai ficar sabendo do estado da arte da ciência que estuda os dinossauros e, quem sabe, pare de usar a palavra como sinônimo de atrasado. Cinco aliens para o livro e uma forte recomendação para você ler também!


Até mais! 🦖

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Comentários

  1. Mulher, quanto capricho! Poucas vezes li resenhas em blogs tão detalhadas. Sou da geração Jurassic Park, quando criança sonhava ser paleontóloga. Virei historiadora, jornalista e relações públicas. Passei perto! haha Mas ainda hoje gosto de ler sobre o assunto, seja com livros mais científicos, seja com ficções envolvendo dinossauros, como O Mundo Perdido, do Arthur Conan Doyle.

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    1. Ahhhhh, obrigada! Fico muito feliz que você tenha gostado! Às vezes o lado de cá é solitário, mas comentários assim iluminam meu dia! 💛

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  2. Que delícia ler essa resenha! Eu sou apaixonada por dinossauros e já fiquei doida pra ler. Vi que ele tem uma versão ilustrada, será que vale mais a pena?

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    1. Essa edição ilustrada não é do mesmo autor. Se você quiser livro de dinossauros ilustrado tente Dinos do Brasil, do Luiz Eduardo Anelli. Tem resenha dele aqui no blog.

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