Resenha: Um caminho para a liberdade, de Jojo Moyes

Esse é o primeiro livro de Jojo Moyes que eu leio. Seus outros livros, da série Como eu era antes de você, não fazem muito o meu estilo, mas esse aqui me atraiu logo de cara, pois fala de livros e de mulheres intrépidas montadas a cavalo e levando livros para famílias isoladas nas montanhas. Eu já conhecia o trabalho dessas bibliotecárias itinerantes, mas o enredo que Jojo criou em cima ficou simplesmente apaixonante. Você não consegue parar de ler o livro!

Este livro foi uma cortesia da editora Intrínseca

O livro
Começamos a jornada com Alice Wright, moça inglesa que foi parar nos cafundós do Kentucky, sentindo-se enganada e traída por todos que conhecia. Sempre de língua afiada, a moça se tornou mal-vista entre sua própria família e amigos na Inglaterra apenas por ter opinião e se defender de abusos. Então, quando ela conheceu o bonito e charmoso Bennett Van Cleve, americano, Alice achou que sua sorte havia mudado. Sonhando com as ruas das grandes e cosmopolitas cidades, Alice acabou atolada numa cidadezinha pobre do interior, na região leste do Kentucky.

Resenha: Um caminho para a liberdade, de Jojo Moyes

Para piorar, ela mora na casa do sogro, um homem insuportável e acabou por descobrir que seu marido não tinha intenções de ter qualquer intimidade com ela. Ou seja, é uma Alice perdida e infeliz que decide se juntar às bibliotecárias itinerantes, um projeto da primeira-dama dos Estados Unidos, que levava livros a cavalo ou em burros para regiões distantes e remotas do condado. Eram livros, revistas, encadernações básicas de alfabetização, livrinhos infantis, que mulheres destemidas, correndo vários riscos nas montanhas e nas estradas corriam para levar cultura e acesso à educação para comunidades pobres.

Apesar de começarmos com Alice, moça ingênua de tudo, a personagem que se destaca é Margery (minha preferida), além das outras bibliotecárias, como Beth, Sophia e a jovem Izzy, que depois da poliomielite tinha uma perna mais curta que a outra, mas se realiza e floresce sobre um cavalo. Esse livro fala principalmente sobre florescimento e descobertas, pois todas essas mulheres tinham suas próprias lutas, medos e descobrem que juntas são não apenas mais fortes, mas se tornam mais fortes.

Obviamente, a biblioteca é um incômodo aos ricos e poderosos da região, pois levar conhecimento para gente pobre e sem instrução os tira da ignorância e os faz conhecer seus direitos, por exemplo. O sogro de Alice, por exemplo, é dono de uma das maiores minas de carvão da região e se incomoda profundamente com aquelas mulheres andando a cavalo pra cima e pra baixo. E quando Alice se recusa a obedecê-lo, o sujeito perde completamente a razão e bate na nora.

- Você sabe qual é a pior coisa de quando um homem bate em você? (...) Não são os machucados. É que naquele instante você percebe a verdade sobre ser mulher. Que não importa o quanto você é inteligente, como você argumenta melhor, como você é melhor que eles, ponto. É quando você percebe que eles sempre podem calar você com um tapa. Simples assim.

Página 190

Essas mulheres improváveis, tanto as bibliotecárias como algumas moradoras da cidade se tornarão amigas e em alguns casos aliadas na tentativa de manter o projeto da biblioteca funcionando. Não será fácil. Houve momentos em que chorei junto com elas, ri bastante. Tem situações surreais como Alice sem saber como seduzir o marido e buscando ajuda em algum livro da biblioteca e mesmo assim falhando catastroficamente. Tudo no livro é muito bem descrito, vívido, os cheiros e sons estão presentes nas passagens e Jojo não poupa detalhes, entremeados com uma escrita que flui muito fácil.

Em uma única rota entre as montanhas era possível fazer até 200 km por semana, embaixo de chuva, neve ou no calor escaldante do verão. Às vezes, o caminho era tão difícil, que era preciso apear o cavalo e seguir a pé. A desconfiança da população foi diminuindo conforme as simpáticas bibliotecárias, que eram todas conhecidas e moradoras da região justamente para aumentar a familiaridade, entregavam e retiravam livros. O projeto implantou cerca de 30 bibliotecas e atendeu a cerca de 100 mil pessoas e para muitas delas foi o único contato que tiveram com livros por um bom tempo.

Recebi o livro pela caixinha do Clube Intrínsecos e depois a edição definitiva que está muito bem traduzida por Ana Rodrigues, Catharina Pinheiro, Julia Sobral Campos e Maria Carmelita Dias. O livro não tem problemas de revisão ou tradução. Deixo um alerta para o caso de racismo, violência contra a mulher e contra animais em alguns momentos e cenas que vão te emputecer profundamente pelo machismo dos personagens, o que condiz com a realidade ainda hoje.

Obra e realidade
Algumas matérias sobre o livro comentaram que ele é uma homenagem ao poder dos livros. E é mesmo. Os livros mudaram a vida de toda uma comunidade e mostram o poder que o conhecimento tem sobre as pessoas. E como incomoda os poderosos, que lucram com a ignorância dos outros. Me revoltei várias vezes com a leitura, mas a revolta é por encontrar nas páginas coisas que toda mulher já viveu como machismo, misoginia, agressões verbais e físicas, desdém e paternalismo. Nada do que está nessas páginas é incomum ou desconhecido para as mulheres. Por isso o livro parece tão real e próximo de nós.

Jojo Moyes

Jojo Moyes é uma jornalista e escritora britânica.

Pontos positivos
Amizade feminina
Biblioteca itinerante
Bem escrito
Pontos negativos
Família Bennett
Violência


Título: Um caminho para a liberdade
Título original em inglês: The Giver of Stars
Autora: Jojo Moyes
Tradutoras: Ana Rodrigues, Catharina Pinheiro, Julia Sobral Campos e Maria Carmelita Dias
Editora: Intrínseca
Ano: 2019
Páginas: 368
Onde comprar: na Amazon!

Avaliação do MS?
Nem sei porque demorei tanto em ler esse livro. Foi uma leitura emocionante e cheguei a atrasar o término do livro só para ficar com ele mais um pouquinho. Se você também é alguém que ama livros e quer conhecer melhor o trabalho das bibliotecárias itinerantes, vai curtir esse aqui. Quatro aliens para o livro e uma forte recomendação para você ler também!



Até mais!

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